Sabe-se que na antiga Grécia, berço da democracia, organizada em cidades-estado, tudo era resolvido diretamente pelo povo, por maioria, em praça pública. Mas com o aumento da população isso tornou-se inviável, e foi criado o sistema representativo, onde o povo
delega a alguns o trabalho de discernir e decidir as demandas administrativas da coisa pública.
Essa representatividade é definida através de eleições periódicas, e presume-se que o representante terá total empatia e coerência com os critérios e pensamentos dos representados.
Infelizmente isso nunca funcionou adequadamente, pois as ambições e sectarismos dos representantes, além do conhecimento de razões que fogem ao conhecimento dos representados, afastaram uns dos outros em desconfianças e críticas destrutivas.
A tecnologia, nas últimas décadas, avançou e continua avançando exponencialmente, também no campo da comunicação social, principalmente com os aparelhos celulares e as redes sociais. Com isso, aquelas desconfianças e críticas destrutivas ganharam muito mais
força, o que está levando a sociedade à violência e ao caos generalizados.
Que remédios haveria para contornar ou reverter esse processo?
Um deles seria, se o poder e as decisões devem mesmo caber às maiorias estabelecidas a cada momento pelo povo, aproveitar a tecnologia e retornar à Grécia antiga, cadastrando com senhas exclusivas e sigilosas todos os eleitores, de forma a eliminar a necessidade de representantes. Todas as grandes decisões administrativas da coisa comum seriam tomadas por plebiscitos eletrônicos, cabendo aos prepostos governamentais somente o
cumprimento daquelas decisões.
Provavelmente num mundo onde todas as pessoas guardassem os mesmos valores e tivessem a mesma educação e discernimento, isso resultaria na sociedade perfeita, em termos de paz, desenvolvimento, justiça e felicidade individual e coletiva. Será? Vemos hoje, em escala muito menor, tantos comportamentos díspares e antagônicos dentro de uma mesma família, célula social baseada em valores, educação e discernimento semelhantes.
Se o futuro não for nesse sentido, a alternativa para estancar a violência e o caos galopantes da sociedade atual, serão governos impositivos e totalitários, exercidos por castas administrativas (humanas ou robóticas), brilhantemente preconizadas por Aldous
Huxley, George Orwell e Verônica Roth, por exemplos, em seus livros “Admirável Mundo Novo”, “1984” e “Divergente/Insurgente/Convergente”. Mas observamos, nesses livros,
que essa alternativa mais entorpece e manipula o ser humano, do que colabora para sua evolução e felicidade.
Há também os que acreditam no advento de uma nova era, a “Era de Aquário”, em que o planeta vai se espiritualizar e evoluir em razão de forças superiores ou astrológicas, por exemplo com o alinhamento de planetas ou com a consumação de profecias esotéricas.
O título proposto para esta modesta divagação nos leva ao que esperamos de qualquer governo: a felicidade individual e coletiva, crendo que as duas devem coexistir.
O pensador iluminista cravou esse anseio no antológico tripé “liberté, egalité, fraternité”.
No contexto real nos nossos dias, parece que a liberdade levada ao extremo, prejudica a igualdade e sobretudo a fraternidade, e pior, atenta contra a própria democracia. Será?
Há vários países no mundo, evidentemente totalitários, que manipulam eleições ou que nem as realizam, mas que se dizem “democráticos”, no pretenso sentido de que as felicidades individual e coletiva não dependeriam disso mas sim apenas da forma como os
recursos públicos são empregados.
Será que democracia em excesso consome a ela mesma, e portanto deve ser contida?
Melhor fazer parte dos que pensam e se incomodam, do que deitar na lama inconsequente dos acomodados.