A dengue está outra vez entre nós.
Na verdade, ela nunca nos deixou, apenas diminuiu nesses tempos passados sem ímpeto reprodutivo.
Nessa virada de 2024, porém, o vírus da dengue e seu transporte de luxo o mosquito Aedes aegypti, voltou com tudo, propiciando o risco de uma epidemia, infectando cada vez mais brasileiros, e já começando a matar em série.
O mosquito e o vírus vieram, e faz tempo, para conviver entre nós.
Quem não lembra da grave epidemia do início do ano 2000?
Foram milhões de infectados e muitas mortes. Na ocasião, nós criamos na Câmara Municipal de São Paulo, o Comitê Civil Contra a Dengue, que chegou a reunir cerca de 500 parceiros, e realizou um trabalho monumental de combate à doença.
Num esforço colossal, o Brasil conseguiu conter o surto, mas os nocivos agentes transmissores permaneceram entre nós e agora retornam com força.
O mosquito, como o nome fala, foi importado do Egito. Aclimatou-se por aqui, espalhando-se por todo o território nacional, por questões ambientais e climáticas, e convive em cada canto do nosso país.
Chama a atenção, que o Aedes escolheu viver e se multiplicar nos domicílios pátrios. 80% dos criadouros estão dentro dos imóveis, habitados ou frequentados por nós.
Como sua vida é muito curta, cerca de 30 dias, e seu voo não ultrapassa 200 metros, podemos afirmar com certeza, que criamos e convivemos com esse inimigo dentro de casa.
Os criadouros são água parada, vasos de plantas, caixas d’água abertas, reservatórios caseiros, calhas, todo tipo de frascos e vasilhas que retenham a água. Água parada é a casa do mosquito e de seus ovos e larvas.
O vírus da dengue é um parasita, que mora no organismo do mosquito infectado com o vírus.
O mosquito se infecta quando suga o sangue de alguém com a doença. É importante dizer que só as fêmeas transmitem o vírus, porque só elas picam, em busca de sangue para amadurecer os seus ovos.
A incubação dura em média de 5 a 6 dias. Daí, começa a febre, dores no corpo (cabeça, olho, panturrilha e outras partes), e todos os demais sintomas da virose.
A pessoa fica prostrada, desidratada, combalida.
Não há remédio específico e o tratamento é hidratação, cuidados gerais e analgésicos. Não esquecer que é proibido o ácido acetilsalicílico (AAS).
A forma mais grave e letal da doença é a dengue hemorrágica, que pode ocorrer numa 2ª infecção.
A dengue é uma doença de fatores ambientais, sociais e médicos, como a maioria das moléstias infecciosas.
Com o aquecimento global, as mudanças climáticas e o consequente aumento do calor e das chuvas, o mosquito teve condições de expandir seu domínio para regiões onde não existia, ocupando assim, todo o território nacional, e inclusive passando as fronteiras.
Como a criação dos mosquitos em sua imensa maioria é dentro dos domicílios, o combate à propagação da doença depende muito da educação da população e seu engajamento no combate aos criadouros. São Paulo, tem 3,5 milhões de imóveis, e não será possível que os agentes públicos de combate à dengue atinjam todo esse universo. A população precisa agir.
Agora surge mais uma arma nessa guerra: a vacina
Ela vai chegando de mansinho. Devagar demais, na minha opinião.
As doses disponibilizadas pelo Ministério da Saúde são irrisórias diante das necessidades. O problema, para variar, é o financiamento. Mas haveremos, com muita luta, superá-lo.
Assim, de pandemia em pandemia, o Brasil segue seu curso.
A dengue voltou, sem nunca ter nos deixado.
Gilberto Natalini ´médico e ambientalista