“Tenho muito nítido, o Brasil que pode ser, e há de ser,
que me dói o Brasil que é.”
(Darcy Ribeiro)
Dias atrás, tive o privilégio de reencontrar o Dr. Almino Afonso. Político sério e atuante, figura presente nas transformações políticas do país nas décadas de 60, 70, 80 e 90. Exerceu vários cargos e influenciou o debate ideológico neste período.
O conheci no MDB, quando iniciei minha atuação partidária e, depois, mesmo no PSDB, fizemos dobrada nas eleições de 1994, sendo eleitos, ele Deputado Federal e eu Estadual.
Com 94 anos, mas sem perder seu entusiasmo pela vida, dialogamos sem parar passando por vários assuntos, com um misto de constatação e indignação. E, desta conversa, acabei instado a refazer esta fase que entendia possível o Brasil deslanchar e crescer com prosperidade e abundância.
O apreço que tinha por tentar construir um país estável democraticamente e economicamente, foi-se pelo ralo ao recolhermos os cacos da história política contemporânea e recente nacional.
Lembrei dos últimos mandatos, das anomalias das decisões, dos favorecimentos ilimitados, do usufruto inconteste do dinheiro público em todos os níveis e da debilitada representatividade dos parlamentares (salvo raras exceções), mais preocupados com seu umbigo e com as emendas do que com o benefício coletivo e estratégico para o país, o Estado ou o município.
O preço disto é evidenciável e visível. Basta olhar ao redor, verificar as diferenças sociais, a renda per capita do brasileiro, o percentual de crescimento do PIB, o percentual de impostos que pagamos, as dificuldades diárias que vivenciamos na segurança, saúde, educação, habitação e transporte.
Todas estas questões diagnosticadas há anos e nada resolvido completamente a ponto de zerarmos (ou quase) os problemas…
Pensei, também, com apreço, sobre o papel da sociedade civil organizada.
Em outros tempos, havia espaço, atenção e ouvidos por parte das autoridades públicas e esta representatividade tinha ressonância e repercussão na ideal pressão na resolução das questões diversas e das grandes causas nacionais.
Hoje, o preço disto, é o “cansaço do coletivo”. A burocracia crava o ânimo da sociedade na mais alta cruz civilizatória, condiciona a “reclamação” pelo canal partidário, que só no Brasil, se facciona em mais de 35 partidos. Que, na acepção da palavra, ideologicamente se locupletam e nos deslocam para as extremidades da discussão sem identificar a terceira via necessária.
E o apreço pela vida foi a minha última reflexão!
A vida na nossa nave mãe, a Terra, nos remete a pensar no futuro das gerações e o impacto das mudanças climáticas provocando alterações fulcrais nos nossos comportamentos e atividades.
Tudo por conta das emissões incontroláveis dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e da implacável destruição das florestas e matas nativas em todas as partes do planeta.
E a humanidade, na sua maioria, insiste em não acreditar na ciência e nos dados que estão a favor da sustentabilidade.
Qual o preço disto?
O clima dando sinais incontestes da transformação, o aquecimento da Terra, a devastação com os desastres climáticos extremos e a difícil percepção de que o homem precisa desacelerar abruptamente seu modelo de vida atual para encontrar caminhos sustentáveis de utilização dos recursos naturais para tentarmos minimizar, com pressa total, os problemas sociais e ambientais que já estão postos em várias partes do mundo.
Lembro, então, da canção do Chico Buarque…
Que, lá atrás, já profetizava na voz do MPB4:
“O apreço não tem preço. Eu vivo ao Deus dará…”
Mas, como Deus é brasileiro, tenho certeza que Ele nos salvará…
* LÍVIO GIOSA – Coordenador Geral do IRES – Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental e Presidente do CENAM – Centro Nacional de Modernização Empresarial.