A manifestação na Avenida Paulista, no domingo passado (25), poderia servir para acender mais alguns alertas: a democracia continua em risco, como o estado democrático de direito e a visão republicana das estruturas de poder.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, no entanto, tem algo sólido nas mãos e é fundamental olhar para isso, observando o que está em jogo nas entrelinhas: ele é o principal nome, o protagonista mesmo, da direita no Brasil – seja da direita raiz, seja da direita Nutella (Romeu Zema, em Minas), seja da direita fantasiada, com Tarcísio de Freitas e gente da fina estirpe de Cláudio Castro e Eduardo Paes.
As causas do Bolsonarismo são bem distantes da realidade do brasileiro comum: o movimento, como se sabe, é simpático à tortura, defensor atroz da violência policial – para o clã, a polícia simplesmente não erra – racista, homofóbico, segregador, aristocrático, desmatador, leniente com atrocidades do agronegócio, violento na essência, na palavra; hostil o tempo todo, principalmente com os mais pobres e os que mais esperam a presença do Estado…
Sob a “notável” esfinge de defender a menor presença do Estado da economia, o Bolsonarismo se rende praticamente à exclusão de direitos trabalhistas, de programas sociais e de compromisso com a qualidade da educação. De Bolsonaro, a gente sabe tudo o que vem, como vem e de qual modo vem… Ele é o que é.
Só que há uma lógica que favorece esse submundo da política brasileira, sempre lembrando que Bolsonaro foi um péssimo parlamentar: a esquerda. Se faltam bandeiras que pensem um país mais humano e viável aos brasileiros para a direita, falta norte, falta direção, diretriz, bússola à esquerda. O que esperar do patético Ciro Gomes, que, com pesquisas na mão, se calou em 2018 e ficou em cima do muro, ajudando Bolsonaro a chegar no poder? Quais os nomes da esquerda no Brasil? Quais são as lideranças que fazem acontecer, que são propositivas, que têm luz a lançar no debate sobre os caminhos vindouros?
Engana-se quem pensa que Lula faz um governo de centro-esquerda. O governo dele é, no máximo, apenas de centro. Os bancos batem sucessivos recordes de lucro, o déficit público voltou, o agronegócio é um segmento que não tem quem freie ou imponha regras – eles fazem o que bem entendem. É tirar a Ana Moser do Esporte e colocar o aliado do Centrão, Fufuca; é entregar a Caixa para aliados de Lira e por aí vai. Mas quem está no radar e é capaz de ocupar o espaço deixado por Lula na construção de políticas sociais inclusivas, bandeira da social democracia que foi base dos governos petistas? A esquerda parece completamente perdida, deitada em berço esplêndido e faz de conta que não consegue entender a gravidade de tudo que tem ocorrido. De um lado, um grupo que destila ódio e ressentimento – a direita de Bolsonaro; do outro, um grupo sem rumo. O Brasil é uma nau à deriva.
A ESQUERDA SEM RUMO… por Wagner Belmonte
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