O México é um país de enorme riqueza cultural, cuja história é marcada por grandezas e tragédias. Desde a civilização asteca até a independência, passando pela Revolução Mexicana e as perdas territoriais do século XIX, o México foi palco de disputas internas e invasões externas que moldaram uma nação permanentemente tensionada entre soberania e dependência. Ao longo do século XX, o país consolidou-se como uma democracia formal, mas incapaz de enfrentar os seus males estruturais: pobreza persistente, desigualdade extrema, corrupção endêmica e, mais recentemente, a escalada do narcotráfico.
O México contemporâneo tornou-se um Estado enfraquecido, onde o poder formal convive com o poder paralelo do crime organizado. O narcotráfico controla territórios inteiros, financia campanhas eleitorais e dita políticas de segurança. A elite política, frequentemente comprometida com interesses obscuros, atua de forma cúmplice ou omissa. A economia, altamente dependente dos Estados Unidos, reforça a condição de país subordinado, incapaz de definir plenamente seu próprio destino.
Mutatis mutandis, o Brasil, no hemisfério sul, corre o risco de repetir essa trajetória. As semelhanças são inquietantes. O avanço do narcotráfico e das milícias urbanas, a violência crescente, a captura do Estado por oligarquias econômicas e políticas, a corrupção sistêmica e a fragilidade institucional desenham um futuro sombrio. A riqueza nacional, em vez de ser direcionada ao desenvolvimento social, é frequentemente apropriada por grupos de interesse que dominam o sistema financeiro, o aparato administrativo e o poder legislativo.
A luta fratricida entre elites polarizadas aprofunda a fragilidade política do país, produzindo repercussões deletérias sobre a economia, gerando instabilidade financeira e jurídica e condenando a nação ao status de pária nos fluxos de investimentos internacionais. Essa combinação explosiva deteriora a confiança de agentes internos e externos, minando as condições mínimas para a retomada do crescimento sustentável.
A ausência de uma classe média atuante, patriótica e consciente agrava o problema. Enquanto parte dessa classe se refugia em ilusões de consumo e individualismo, as camadas populares permanecem presas à ignorância política, manipuladas por discursos fáceis e políticas populistas de curto prazo. Nesse vácuo de responsabilidade cidadã, prosperam os projetos de poder autoritários, clientelistas e patrimonialistas, que perpetuam o círculo vicioso da desigualdade e da instabilidade.
O risco da “mexicanização” do Brasil não é apenas um exercício de retórica. Ele aponta para uma realidade concreta, a transformação de um país com imenso potencial em uma sociedade marcada pela violência generalizada, pela descrença nas instituições e pela captura do Estado por forças que não representam o
interesse público. Trata-se, em última análise, de um processo de inviabilização nacional.
Romper esse destino exige mais do que reformas superficiais. Requer uma verdadeira refundação ética e institucional, capaz de limitar o poder das oligarquias rentistas, desmantelar os pactos de corrupção e enfrentar com firmeza o crime organizado. Sem isso, o Brasil estará condenado a repetir o drama mexicano, uma nação rica em cultura e potencial, mas condenada à impotência política e à fragmentação social.