A Lei da Revisão Intermediária do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), sancionada em julho último e vigente até 2029, ampliou para um raio de 700 metros ao redor das linhas do metrô e trem e 400 metros dos corredores de ônibus a permissão para a construção de prédios residenciais mais altos, facilitando o adensamento populacional junto aos eixos de transportes. Em tese, inclusive de modo congruente com as mais contemporâneas tendências de planejamento urbano, trata-se de um modelo correto, pois se concentra maior número de pessoas em áreas com infraestrutura, diminuindo a necessidade de investimentos em infraestrutura e reduzindo os deslocamentos.
No entanto, a capital paulista, maior cidade brasileira e uma das maiores do mundo, não tem linhas suficientes de metrô para dar sustentação ao adensamento em curso, que transformou o interior de alguns bairros próximos às estações em imensos canteiros de obras. Na comparação com outras metrópoles, com níveis de concentração demográfica até mais acentuados do que São Paulo, como Paris e Nova York, as linhas metroviárias e ferroviárias são imensas e capilarizadas, possibilitando que os moradores acessem com facilidade qualquer ponto, sem precisar tirar o carro particular da garagem.
A realidade é que para São Paulo, com seus 11,45 milhões de habitantes, sendo 7,53 mil por quilômetro quadrado (Censo IBGE 2022), a rede metroviária é insuficiente, com apenas seis linhas, totalizando 104,4 quilômetros de extensão e 91 estações (Paris tem 214 quilômetros e 301 estações, para uma população de 2,1 milhões de habitantes). São cinco milhões de passageiros diariamente na capital paulista. Deve-se considerar, ainda, que o município é o polo central da maior Região Metropolitana do País, com população superior a 21 milhões de pessoas, com impacto direto na rede de transportes coletivos.
A Companhia do Metropolitano é responsável pela operação das Linhas 1-Azul (Jabaquara – Tucuruvi), 2-Verde (Vila Prudente – Vila Madalena), 3-Vermelha (Corinthians-Itaquera – Palmeiras-Barra Funda) e o Monotrilho da Linha 15-Prata (Vila Prudente – Jardim Colonial). A Linha 4-Amarela, do Morumbi à Luz, é operada pela Via Quatro em regime de parceria público-privada e a Linha 5-Lilásfoi concedida à Via Mobilidade, ligando Capão Redondo à Chácara Klabin. Há conexões do metrô com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que tem 196 quilômetros de linhas, 57 estações e atende 18 municípios, transportando diariamente 2,12 milhões de pessoas.
Como se observa nesse rápido resumo da estrutura metroferroviária, com dados oficiais das empresas, há numerosas localidades de São Paulo e da Região Metropolitana nas quais não se consegue chegar pelos trilhos. Então, restam os ônibus, cujo sistema é gerido pela São Paulo Transporte S/A e operado por companhias privadas. São 2,5 milhões de passageiros por dia e 12 mil coletivos, mas são poucos os corredores exclusivos em proporção ao tamanho da cidade, o que resulta em viagens muito demoradas.
Diante da insuficiência do transporte público, a população recorre ao carro próprio. Segundo o portal IBGE Cidades e Estados do Brasil, há 9,15 milhões de veículos no município de São Paulo, dos quais6,09 milhões são automóveis. A maior parte, dentre particulares, táxis e serviços de aplicativos, circula diariamente, respeitados os dias de rodízio.
Essa numerosa frota de ônibus e veículos automotores, a maioria ainda consumindo combustíveis fósseis, espreme-se diariamente no congestionado trânsito, em morosos percursos, e emite um volume elevado de dióxido de carbono, tornando-se cúmplice do aquecimento global. São Paulo e sua Região Metropolitana necessitam de investimentos expressivos e rápidos em sua rede de metrô e trens urbanos para compatibilizar os objetivos de adensamento previstos no Plano Diretor vigente e os anseios de ampla mobilidade e melhor qualidade de vida da sociedade. Cidade sem mobilidade é cidade sem qualidade.