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Alcoolismo: a doença silenciosa que se disfarça de normalidade – por Bruna Gayoso

O álcool está em todo lugar: em festas, nos brindes de conquista, no relaxamento depois de um dia difícil. Ele parece inofensivo, quase parte da vida. Mas é justamente essa naturalidade que esconde o perigo. O que começa como diversão pode, aos poucos, se transformar em prisão. E, quando percebemos, já não é mais escolha: é o corpo que pede.

*Quando o prazer vira dependência

O alcoolismo não significa apenas beber muito. É uma doença crônica que altera o funcionamento do cérebro. O álcool mexe nos neurotransmissores ligados ao prazer e à calma. No começo, a sensação agrada. Depois, o organismo passa a depender dela. A dose que antes bastava já não faz efeito e o corpo exige mais.

Não se trata de falta de força de vontade. É uma condição de saúde que precisa de cuidado, acompanhamento e compreensão.

*Consequências que vão além do corpo

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 3 milhões de pessoas morrem por ano por causa do álcool. No Brasil, cerca de 10% da população tem consumo problemático.

Os impactos aparecem em várias áreas da vida:

No corpo: doenças no fígado, risco de câncer, problemas cardíacos e digestivos.

Na mente: ansiedade, depressão, impulsividade e falhas de memória.

Na sociedade: acidentes, violência doméstica, conflitos familiares e queda de produtividade.

O alcoolismo nunca atinge apenas quem bebe. Ele reverbera em toda a rede ao redor.

*O impacto na saúde mental

O álcool não afeta apenas o corpo, ele compromete de forma direta o equilíbrio psíquico. Em um primeiro momento, pode trazer sensação de alívio, relaxamento ou coragem. Mas, com o tempo, altera o funcionamento cerebral e abre espaço para sintomas graves: ansiedade, depressão, irritabilidade, distúrbios do sono e até crises de pânico.

Além disso, a dependência reforça um ciclo cruel: a pessoa bebe para aliviar a dor emocional, mas o álcool aprofunda exatamente essa dor. O que parecia uma fuga se torna prisão.

A longo prazo, o abuso de álcool pode desencadear transtornos psiquiátricos, dificultar tratamentos já em andamento e aumentar o risco de suicídio. A mente, assim como o corpo, paga um preço alto pelo vício.

*Álcool + energético: uma bomba-relógio

Se o álcool sozinho já traz riscos, misturado com energéticos pode ser devastador. Enquanto o álcool deprime o sistema nervoso, o energético estimula, criando a falsa sensação de que a pessoa está bem.

O resultado? Exagero na dose, comportamentos perigosos, maior risco de acidentes e até paradas cardíacas. O que parece “diversão” é, na prática, um jogo perigoso com a própria vida.

O grande problema é que o limite entre “uso social” e “uso problemático” quase nunca é claro. Muitos acreditam estar no controle, mesmo quando a bebida já compromete relações, trabalho e saúde.

Alguns sinais de alerta:

Beber para relaxar ou enfrentar situações sociais;

Perder o controle depois da primeira dose;

Ansiedade, irritação ou tremores quando não há álcool;

Esconder ou minimizar o quanto bebe;

Prejuízos no trabalho ou nas relações.

*Quando uma dose já é demais

Há pessoas que simplesmente não podem ter contato com álcool. Não importa a quantidade: o efeito é imediato. Pequenas doses podem gerar agressividade, impulsividade ou abrir portas para outras drogas.

Nesses casos, “uso moderado” não existe. A única forma de proteção é a abstinência. Reconhecer isso não é fraqueza é coragem de respeitar os próprios limites.

*Respeite o “não

É fundamental entender: quando alguém diz que não quer beber, não insista. Nem uma taça, nem um gole. Só essa pessoa sabe o motivo pelo qual precisa dizer não pode ser uma vulnerabilidade biológica, um trauma, um histórico de abuso ou uma decisão de cuidado. Respeitar é, muitas vezes, salvar.

*A falsa coragem da embriaguez

Muitos dizem que “mudam de personalidade” quando bebem. Tornam-se mais ousados, agressivos ou sentimentais. O que o álcool faz é desarmar os filtros psíquicos e liberar aquilo que estava reprimido raiva, tristeza, insegurança, mas de forma distorcida, exagerada e muitas vezes destrutiva.

Nesses casos, o problema não está apenas na bebida, mas no que ela revela. Buscar ajuda é essencial para lidar com a raiz do sofrimento, e não apenas com o sintoma.

O alcoolismo tem tratamento. Quanto antes identificado, maiores as chances de recuperação. Acompanhamento médico, psicoterapia, grupos de apoio e, quando necessário, medicação ajudam a reduzir a fissura e prevenir recaídas. O suporte da família e dos amigos deve vir em forma de acolhimento, nunca de cobrança ou conivência.

É preciso quebrar o estigma: ninguém escolhe ser dependente. O alcoolismo rouba saúde e relações, mas não apaga a chance de recomeçar.

*O que está por trás

Enquanto o álcool for visto apenas como parte da vida social, será difícil enxergar seus riscos. O desafio não é demonizar a bebida, mas reconhecer seus efeitos e criar espaços de cuidado.

Por trás de cada dependência existe alguém que precisa ser visto além do vício com sua dor, sua história e também sua capacidade de se reconstruir. O alcoolismo é uma doença. Como toda doença, merece tratamento, não julgamento.

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