No dia a dia corporativo, estamos tão acostumados a tratar os problemas que envolvem as questões das mulheres de forma reativa, que esquecemos que é possível atuar de forma preventiva, evitando que tais problemas aconteçam.
O objetivo deste artigo é justamente orientar quais são os caminhos para se criar um ambiente seguro de trabalho para as mulheres. O primeiro passo é questionar se a empresa possui um nível de maturidade suficiente para abordar temas que ainda são considerados tabus, como o assédio ou a igualdade salarial. Ou seja, a diversidade precisa ser um valor indiscutível dentro da corporação e para que se estabeleça esse padrão, é necessário que a barreira de desigualdade seja quebrada já na entrevista de emprego.
Isso significa que o recrutador precisa estar atento para focar em perguntas que são do interesse da vaga e da empresa contratante, ao invés de usar a oportunidade para questionamentos de mera curiosidade ou que podem acabar sendo invasivos. Não há necessidade de perguntar sobre filhos, gravidez, roupa e marido para a mulher que está sendo entrevistada. Essas são questões que não seriam feitas para um homem, por exemplo.
Também é papel do recrutador selecionar pessoas que estejam alinhadas com os valores da empresa. Há meios para se medir os níveis de integridade já na entrevista, evitando uma contratação indesejada que pode oferecer problemas no futuro. Esse tipo de análise permite entender melhor a visão do candidato sobre situações consideradas moralmente duvidosas, e ao ser aplicada antes da contratação, permite que que o recrutador e o gestor tenham acesso à percepção do entrevistado diante de dilemas éticos corporativos, evitando possíveis casos de assédio moral, por exemplo, além de ajudar a prevenir comportamentos inadequados.
Outro ponto importante nesse contexto são as lideranças. Além de demonstrar o compromisso com o estabelecimento de normas de respeito e segurança, a alta administração é responsável por tangibilizar que a empresa tenha uma equipe ativa de mulheres em cargos importantes, e isso cria um espaço de incentivo no qual todas sentem que podem crescer e se desenvolver, porque haverá oportunidades.
O estudo Women in Business: Pathways to Parity, conduzido pela Grant Thornton, constatou que as mulheres ocupam hoje 33,5% dos cargos de liderança sênior em empresas de médio porte. Os homens ainda são a grande maioria nesses lugares, por isso é importante capacitar figuras masculinas para que eles também possam orientar e liderar suas equipes no que tange a um local de trabalho respeitoso e inclusivo.
Vale lembrar que, mesmo com todos esses pontos alinhados, ainda estamos sujeitos a situações que podem colocar em risco a segurança das mulheres. Por esse motivo, é necessário que as corporações contem com canais de denúncias para identificar casos em que os limites morais e éticos contra mulheres foram ultrapassados. Após a apuração, a empresa deve tomar as medidas cabíveis para que o responsável arque com as consequências e, havendo a necessidade de desligamento, o processo deve ser feito de imediato, deixando claros os motivos de tal ação.
Recentemente, tivemos o caso da nutricionista que foi assediada no elevador pelo empresário Israel Leal. A empresa para qual ele prestava serviços o desligou assim que soube do ocorrido. Por isso, é importante que as instituições estejam cientes sobre quem elas estão colocando à frente dos cargos, não medindo esforços caso precise tomar alguma providência em virtude de comportamentos inadequados.
Conduzir essas medidas já é um caminho inicial para criarmos ambientes corporativos cada vez mais seguros para as mulheres. Estabelecer as bases para um espaço de trabalho ético e respeitoso é uma bandeira que deve ser levantada todos os dias e não apenas no dia da mulher.
*Gabriela Tavares é coordenadora e Business Partner de RH na ICTS, grupo que detém as marcas Protiviti e Aliant.
*Jully Anne Avelino é Business Partner de RH na Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados.
Sobre a ICTS
A ICTS Participações é uma holding limitada de empresas pioneiras em soluções de prevenção de riscos, compliance e segurança no Brasil. O grupo é composto por empresas destacadas nestas áreas de atuação. São elas Protiviti, Aliant, ICTS Security e Safecompany.