A felicidade como todas as coisas, é difícil e rara.
Se alguém nos pergunta se somos realmente felizes um movimento superficial nos leva a responder “sim”.
Porém, se encostamos o entrevistado à parede, ele responde: “Creio”, “Talvez”, “Quase”.
Na verdade, pensarmos que somos plenamente felizes, revela uma enorme presunção.
Para Friedrich Schiller (1759-1805), filósofo alemão, a felicidade não é mais do que uma “faísca divina”.
De fato, não nos consideramos verdadeiramente felizes.
As dificuldades são de toda a ordem: materiais, econômicas, físicas, financeiras, sociais, espirituais, intelectuais e assim por diante.
Acreditamos que somente podemos ser totalmente felizes depois de termos resolvido uma quantidade de problemas que permanecem em suspenso.
Todos os filósofos falaram da felicidade, mas nem todos disseram que ela é possível.
Muitos reconheceram seu caráter excepcional e as dificuldades que nós temos que ultrapassar antes de alcançar a felicidade.
Contudo, muitos filósofos acreditam nela.
Sócrates (470 – 399 a.C.), filósofo grego, acreditava na possibilidade do homem ser feliz.
Para ele, a felicidade era sabedoria, quase ciência.
Portanto, era preciso aprender a felicidade como se aprende a virtude.
Ou seja, escutando o nosso ser, a nossa consciência, o nosso dever.
Sócrates dizia que a virtude é uma ciência.
Aristóteles (384 – 322 a.C.), filósofo grego, dizia, pelo contrário, que a ciência é uma virtude.
Para Aristipo de Cirene (século V a.C.), discípulo de Sócrates, a felicidade consiste na procura do simples prazer, temperado pela razão.
Blaise Pascal (1623-1662), filósofo francês, está a favor de Aristipo de Cirene e especifica que “o homem foi feito para o prazer, sente-o, e não são necessárias outras provas”.
Esta filosofia também é conhecida por hedonismo.
O hedonista procura durante toda a sua existência a satisfação dos seus desejos, a realização de todos os prazeres.
Porém, a corrida desenfreada ao prazer conduz o homem a uma profunda amargura e segundo o dito de Charles Fourier (1772-1838), filósofo francês, a felicidade não coincide “com o desenvolvimento de todas as paixões”.
Aquele que se satisfaz com os prazeres da carne, os prazeres da ambição, da vaidade, do jogo da cama ou da mesa, não poderá viver plenamente feliz o resto da sua vida porque vai progressivamente enojar-se espontaneamente, sentir-se mal.
Epicuro (341 – 270 a.C.), discípulo de Demócrito e fundador da Escola Epicurista, nutria uma profunda desconfiança por essa falsa felicidade que se confundia com o prazer.
Ou seja, o prazer não pode ser considerado como um fim em si.
Para os estoicos, a felicidade consiste em distinguir as coisas que não dependem de nós das que dependem.
Quando não podemos estar de outro modo perante o destino, quando nada podemos fazer, temos de nos sujeitar.
Em todas as circunstâncias da vida, é necessário saber resignar-se, submeter-se, suportar. Esta resignação é o segredo da felicidade para os estoicos.
Se as coisas dependem de nós, é preciso fazer o máximo para obter o que se pretende.
Ou seja, é preciso desejar verdadeiramente ser feliz.
A verdadeira liberdade estoica não é a da fantasia anárquica. Sêneca (04 a.C. – 65), filósofo estoico, disse: “Obedecer a Deus é a liberdade.”
O nosso verdadeiro objetivo é obedecer ao nosso “destino”, assumir a nossa existência tal como ela é oferecida, e tirando dela o melhor partido possível. Todas as pessoas, sem exceção, partem em busca da sua própria felicidade e tentam fazer das suas vidas um empreendimento com algum êxito.
A felicidade é um todo indivisível, isto é, não podemos ser simultaneamente felizes e infelizes. É uma plenitude de ser, ou seja, um sentimento que brota do nosso próprio espírito.
A alegria para a felicidade seria a expressão de uma satisfação plena e inteira, completamente total?
A felicidade não se confunde com a alegria porque compromete muito mais a pessoa na sua ação. Estar feliz é explodir e, sobretudo, sentir a “consciência tranquila”, sem qualquer sombra de sentimento de culpabilidade.
Ou seja, o homem feliz é alguém calmo, pois está contente consigo mesmo, com as suas ações, decisões, feliz com as suas relações com os outros, e com suas boas ações.
Ou seja, sente a satisfação do dever cumprido.
Em síntese, para sermos felizes, devemos fazer o melhor, e permitir saborear os “momentos” de felicidade que são raros e de difícil acesso.
“Todas as coisas belas são tão difíceis quanto raras.”
Espinosa (1632-1677) foi um filósofo holandês de origem judaico-portuguesa.










