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Cotidianamente, nossos cansaços – por Marli Gonçalves

Todo dia, a série absurda segue da hora do acordar ao dormir, as tarefas que se repetem, quase todas obrigatoriamente, por você, ou por quem ou por aquilo que depende do seu comando. As físicas, e as que temos de renovar mentalmente, inclusive, entre elas, a de tentar não se aborrecer nem com a rotina, nem com ninguém, nada.

Não é de se admirar que a cada dia a gente saiba de mais pessoas de alguma forma doentes, com diagnósticos diferentes, inclusive da saúde mental. Nós, mulheres, ainda mais, pela tendência que chamo de absorção que temos de tentar cuidar de tudo, abraçar o mundo.

Cada qual com seus problemas! Não é reclamação, mas constatação, e vinda de alguém que, embora já tenha passado por períodos terríveis e inesquecíveis, como cuidados especiais com mãe e pai, hoje até está menos sobrecarregada. Por experiência própria, à esta altura da vida, no entanto, o tema está aí para ser citado. A batalha pela sobrevivência, sanidade e até busca para crônicas que apontem justamente para o cotidiano. Especialmente em épocas de tentar fugir um pouco das mazelas de nosso país, dessa coisa externa, mas que tanto nos afeta a todos, como tantas sobre as quais não temos controle.

Que sono. Por aqui, solteira sem filhos, tem a gatinha que acorda no meio da madrugada cheia de energia e carências e que quase canta uma ópera de miaus, isso quando não resolve agir com leves patadinhas de garras afiadas. Bonitinha, depois dorme. Quem tem bichinho sempre tem muito a contar; daí tantos cartuns divertidos que retratam essa convivência afetiva, mas que ao menos alivia, dá tantas alegrias e distrações.

A profissão de jornalista e a atividade requer uma espécie de plantão 24 horas – o que impede de desligar o celular, ou ao menos se desligar dele direto, depende sempre daquela olhadinha nem que seja de soslaio. Nos finais de semana, pró-saúde, afastada das telas, e também de redes sociais que são porta de esgotamento. Recomendo. Sem férias há décadas, isso tem um peso, mas o melhor é não sofrer: o que não dá para fazer, não dá, e pronto. Manter o bom humor, procurar ver coisas bonitas por aí, relaxar.

Tudo cansa, até para se sentir bem. Alguma atividade física, sempre na lista – quem não tem um dia no qual a cama parece ser o lugar bem melhor do mundo do que a academia, por exemplo? E é regra chovendo para tudo quanto é lado: fazer isso, aquilo, comer bem, se equilibrar no peso. Tudo isso requer uma ação, um tempo. Sorria.

As contas chegam de todos os lados e é preciso conferi-las atentamente porque sempre trazem surpresas, inclusive as questionáveis que levam horas para serem resolvidas com operadoras que adoram incluir extraordinários apêndices do nada. Ponta do lápis. E a procura por preços mais baixos, descontos, direitos.

Ah, o convívio social. A gente pensa em tudo que fica devendo de atenção aos amigos, e como perde a paciência muitas vezes até em ouvir e também de ser pouco escutada. Saber de conflitos em grupos que acompanha, e até onde mora.

Não descrevo, creio, nada que você aí não sinta, embora cada um de nós tenhamos nossas rotinas, duras ou não, a consciência sobre elas, creio, ajuda a buscar alguns pequenos prazeres que as aliviem, para que, no mínimo, não se transformem em males que nos tirem do combate. Ultimamente tenho sabido de muita gente indo à lona. Daí o alerta. Fica a dica. Parar para pensar.

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MARLI GONÇALVES – Jornalista, cronista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano, Coleção Cotidiano, Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). Vive em São Paulo, Capital.  marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br

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