Nos últimos anos, a América do Sul tem sido palco de um notável crescimento na indústria de data centers, com destaque para o Brasil. Esse boom está intrinsecamente ligado à crescente demanda por armazenamento e processamento de dados, impulsionada pela digitalização em todas as esferas da sociedade. O aumento do uso de algoritmos, inteligência artificial e a iminente chegada do 5G estão entre os principais impulsionadores desse crescimento.
De acordo com um estudo da Arizton Advisory & Intelligence, o mercado de data centers na América Latina está projetado para ultrapassar os US$ 7,8 bilhões até 2026, com uma taxa de crescimento anual composta de 7,6%. Dessas cifras impressionantes, o Brasil é responsável por uma fatia considerável, representando cerca de 40% desse valor. Esses números evidenciam não apenas o potencial do mercado brasileiro, mas também sua importância na região.
Oportunidades:
- Crescimento Econômico Digital: O Brasil está experimentando um crescimento acelerado em sua economia digital, com destaque para o comércio eletrônico e as fintechs. Esse cenário está gerando uma demanda crescente por infraestrutura de TI, incluindo data centers e redes corporativas.
- Adoção do 5G: A implantação das redes 5G no Brasil promete revolucionar a conectividade e abrir novas oportunidades para a indústria. O aumento nas taxas de adoção de smartphones e a ascensão da economia digital estão impulsionando a demanda por capacidade de armazenamento e processamento de dados.
- Posição Geográfica Estratégica: A localização estratégica do Brasil na América Latina o torna um destino atrativo para investimentos em data centers. Sua vasta extensão territorial, população significativa e conectividade com os países vizinhos contribuem para seu potencial como hub regional de tecnologia.
- Crescente Uso de Inteligência Artificial (IA): A inteligência artificial está se tornando cada vez mais onipresente em diversos setores, exigindo infraestruturas de data centers mais avançadas para suportar o processamento de grandes volumes de dados. Essa demanda é impulsionada pelo crescimento das big techs e pela necessidade de empresas de todos os segmentos de utilizar IA para impulsionar a inovação e a eficiência.
Desafios e alternativas de soluções:
Sustentabilidade: Os data centers são conhecidos por seu alto consumo de energia e suas emissões de carbono significativas. Em um mundo cada vez mais consciente das questões ambientais, a necessidade de práticas sustentáveis na indústria de tecnologia se torna cada vez mais urgente. Os datacenters, em particular, têm sido alvo de crescente preocupação devido ao seu impacto significativo nas emissões de carbono. A título de comparação, só em contas online – como contas de e-mail, bancárias, entre outras – são gerados milhares de dados baseados em nuvem. No entanto, milhões dessas contas provavelmente não são utilizadas, principalmente, gerando dados considerados inúteis associados a essas contas ficam parados em data centers, que são movidos principalmente a combustíveis fósseis e operam 24 horas por dia. Para se ter uma ideia, os datacenters respondem por 2% de todas as emissões globais de carbono, quase o mesmo que todo o setor aéreo, indica uma pesquisa mundial denominada “Na nuvem, fora da mente”, da Veritas Technologies.
Nesse sentido, voltamos ao estudo da Arizton Advisory & Intelligence que indica que a construção modular deverá contar com volume significativo de investimentos durante o período, por ser energeticamente eficiente e projetada para sustentar alta densidade de rack e propiciar custo de execução 30% menor do que instalações tradicionais de alvenaria.
Mas enxergamos outras alternativas que podem minimizar o impacto ambiental dos datacenters, como :
- Manutenção de hardware: Estender os serviços de suporte para além do período de garantia, permitindo que a tecnologia existente seja aproveitada por mais tempo, reduzindo assim a necessidade de atualizações frequentes.
- Serviços profissionais: Descarte seguro de hardware, com foco na reutilização e reciclagem de peças e sistemas, contribuindo para a economia circular.
- Escolha de softwares: Adoção de soluções empresariais de monitoramento, gerenciamento e desempenho de rede para otimizar a infraestrutura e reduzir o consumo de energia.
- Serviços gerenciados: Aquisição de serviços entregues por meio de automação, visando reduzir resíduos eletrônicos e minimizar o tempo de inatividade.
- Hardware: Considerar a compra de hardware usado como alternativa, contribuindo para a economia circular e reduzindo os impactos ambientais associados à produção de novos equipamentos.
Inteligência Artificial:
Com a crescente adoção da nuvem para armazenamento de dados, em especial com a evolução e popularização do uso da inteligência artificial, as organizações se vêem obrigadas a aumentar a infraestrutura de data centers e serviços de armazenamento, a fim de suportar essa nova demanda em evolução.
Atualmente, o segmento de serviços de nuvem tem como principais players Amazon, Google e Microsoft. Chamados de hiperescaladores, são provedores de nuvem em larga escala. Essas corporações são as que armazenam maior volume de dados das empresas em geral, especialmente agora com a explosão da utilização de sistemas de Inteligência Artificial como o Bard – do Google – e do ChatGPT.
Além e devido ao crescimento dessas big techs, empresas do setor de datacenters utilizados não só por elas, mas também por uma variedade de companhias de todos os segmentos e até órgãos públicos têm obrigatoriamente crescido, afinal, sem , pelo menos não na escala atual.
Uma parte do boom para os datacenters se deu com o advento da pandemia, que obrigou as organizações a se digitalizarem com rapidez – o que até vinham fazendo antes, mas a passos de tartaruga. Quado essa nova necessidade de alocação começou a se estabilizar, com a adaptação das empresas ao novo normal e o fim da pandemia… BOOOM… entra em campo e de sola, a IA generativa.
Se de fato, como se tornou lugar comum no mercado a expressão “os dados são o novo ouro”, as companhias farão de tudo para acumulá-lo e o cofre para isso são os datacenters.
Apontada como uma das principais tendências tecnológicas desse e dos próximos anos, a inteligência artificial generativa exige o desenvolvimento de estruturas mais robustas para operar – em especial, a do datacenter.
A verdade é que a modernização de sua infraestrutura de TI é inevitável, para empresas que desejem ser ágeis e competitivas.
Associada ao crescente uso de aplicações baseadas em (machine learning- ML), soluções de IA generativa podem demandar uma densidade energética três vezes maior do que a utilizada no processamento de dados convencional, reivindicando uma mudança fundamental em toda a arquitetura do centro de dados. O mesmo se dará nos sistemas de resfriamento, que precisarão ser mais sofisticados para acomodar uma saída de calor mais alta.
Entretando, ao mesmo tempo que esse desafio se apresenta, a utilização da IA pode ser uma aliada aos operadores e administradores de datacenters.
- IA Generativa: A aplicação da inteligência artificial generativa nos data centers promete trazer benefícios significativos, incluindo análise preditiva, detecção de anomalias e otimização do desempenho. Essa tecnologia está se tornando uma aliada valiosa para os operadores de data centers, permitindo aprimoramentos em eficiência e economia de custos.
- Aumento da Densidade Energética: Soluções de IA generativa podem demandar uma densidade energética três vezes maior do que o processamento de dados convencional, exigindo uma mudança fundamental na arquitetura dos data centers. Isso destaca a importância de investimentos em infraestrutura para suportar as demandas crescentes da IA.
Em suma, esses dados e os números revelam um cenário de oportunidades e desafios para o mercado de data centers na América do Sul, em especial no Brasil. À medida que o setor continua a se expandir e evoluir, é crucial que sejam implementadas soluções inovadoras e sustentáveis para garantir um crescimento econômico sustentável e responsável.
Christian Mendes Gouveia, Diretor Geral LATAM da Park Place Technologies