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Decifra-me ou devoro-te – por José Henrique Reis Lobo

Há tempos comecei a ler “Imortalidades”, livro de Eduardo Giannetti da Fonseca (Companhia das Letras, 1ª Edição, 417 páginas).

Quero dizer que foi um sufoco, porque filósofo parece que só escreve para outro filósofo e, para prosseguir a leitura, fui obrigado a consultar dicionários e autores que me esclarecessem tudo aquilo que eu estava a ler.

Não adiantou nada, porque acabei ficando mais tonto do que com a leitura que me propunha a fazer, mas fui persistente: minha cabeça quase deu um nó, mas, vitória, consegui chegar ao fim.

Com Giannetti aprendi, por exemplo, que “a inexistência de provas não é prova da inexistência da alma”. E que é preciso tomar posição sobre o “medo e a esperança que se digladiam no infinito”, já que “a ignorância infinita desconcerta o saber finito”.

Passei um dia inteiro meditando sobre o significado da frase e, por fim, dei-me por derrotado.

Pensando que era preciso prosseguir a leitura – que estava parada em razão dessa problemática que me aparentava vital para a humanidade – andei mais algumas páginas, quando me deparei com outra informação preciosa.

Eu também não sabia que Francis Bacon, atormentado com a preocupação de saber se a neve, assim como o sal, poderia prevenir a putrefação dos órgãos, foi ao mercado, comprou um galo e o estufou de gelo usando as próprias mãos.

O coitado do Bacon, filósofo com nome de carne de porco, morreu aos 62 anos, sem descobrir exatamente a resposta para a questão que o absorvia.

Sinto muito, mas, é certeza que eu também vou morrer sem saber.

Mas, se eu soubesse, não tenho ideia do que é que deveria fazer com a resposta.

E também não sabia, mas agora sei, que “a cigarra canta mais forte no outono”, e essa é mais uma das interações que Giannetti faz com outras informações em seu livro .

E por que as faz? Por que o o autor caminha por veredas tão intrincadas como essas?

O que é que ele quer dizer?

Ele as faz porque quer dizer que o homem, inconformado com a sua finitude, tem necessidade de acreditar que a morte não é o fim de si próprio e nem de todas as coisas.

E, no afã de encontrar a imortalidade, cultiva-a nos seus filhos, nas obras que escreve, na crença obstinada na existência da alma, na vida pós morte e em tudo quanto reforça o seu desejo de acreditar na sua própria perenidade.

Mas, meu Deus, se é isso por que ele não disse logo?

Enfim, o livro é dele, foi ele quem escreveu, é dificílimo, mas, com paciência, dá para chegar ao final.

Se alguém, por acaso, for tentar, boa sorte.

Afinal, “a miragem-promessa de uma viagem de ambulância no tempo com escala no hospital universal tem como destino a terra prometida da vida eterna”.

Tenho dito.

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