Voltamos à velha saga. Militantes estudantis ocupam escolas acusando o governo de reduzir a qualidade do ensino enquanto os estudantes de verdade permanecem impedidos pelos primeiros de aprender qualquer coisa…
O governo federal, enquanto isso, faz propaganda sem ter o cuidado de aferir resultados do programa implantado antes mesmo de aferir o que pretende implantar.
Os governos estaduais, responsáveis pela implementação dos programas de ensino, afundam em dívidas e sequer conseguem pagar os professores, quanto mais manter escolas com segurança, carteiras e banheiros decentes…
A burocracia acadêmica, enfim, gera o seu pior efeito: educadores que desprezam a realidade da competitividade diária à qual estão submetidos os cidadãos brasileiros. Tratam estudantes como elemento estatístico, e, posto isso, ministram a eles o aprendizado dos derrotados.
A pedagogia da derrota, com ou sem reforma, forma vítimas e idiotas
A pedagogia da derrota
A pedagogia da derrota começa pela ausência de educação física no currículo escolar, da base à universidade.
Os burocratas do aprendizado alheio, postados contra e a favor da política curricular governamental, não se preocupam – como nunca se preocuparam, pela formação esportiva da juventude.
Desconhecem solenemente que a educação do corpo é pressuposto da educação da mente e que a educação física induz à disciplina e à persistência – os grandes fatores da superação de todos os problemas. Ignoram o óbvio num país dividido em obesos e subnutridos.
A ignorância quanto aos mecanismos de formação para a cidadania continua no campo das ciências sociais.
É notória a contaminação burocrática e esquerdopata na forma de ministrar história, geografia, filosofia e ciências sociais.
Não é de hoje que o chamado “ensino crítico” gera ignorantes críticos supervisionados por críticos ignorantes. Essa é a razão da impressionante ausência de cidadania observada no comportamento de milhões de adolescentes Brasil afora.
Imerso na mediocridade das burocracias acadêmicas, o governo, no entanto, ao invés de enfrentar o aparelhamento ideológico nas ciências humanas, resolveu dar um basta ao problema reduzindo – quando não eliminando – as cargas horárias dessas matérias. Vale dizer: reduziu o mobiliário “cafona” sem mexer no restante da sala.
O que quero dizer com isso é que a polêmica com a reforma do ensino no Brasil não é técnica, é burocrática. Na verdade, o conflito quanto à implementação da base curricular é de ordem ideológica.
A supressão proposital desse componente ideológico, na análise da questão, acaba dividindo os lados em disputa entre os que querem um ensino medíocre, porém engajado, e os que querem um ensino desengajado, porém medíocre.
Talvez seja essa, aliás, a razão da mediocridade ocupar-se em ocupar escolas…
Uma massa de “barrados no baile”, sempre em busca de algo contra o qual se revoltar…
O que pretende o governo federal
A reforma dá opção para que as escolas ofereçam aos alunos cinco possibilidades de áreas nas quais queiram empregar mais tempo. São os chamados “itinerários formativos“: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.
O programa não permite ao aluno escolher diretamente sua área de concentração. Isso vai depender de como cada sistema de ensino (escolas estaduais ou rede privada) irá elaborar seu próprio currículo. Se o aluno, por exemplo, optar por concluir o ensino médio com ênfase na formação técnica e profissional, dependerá da rede estadual oferecer ou não essa formação.
O governo Lule ameaça, agora, retirar o ensino técnico. Parece querer organizar “madrassas” – escolas de formação de militantes. O que estava ruim, pode piorar.
A carga horária mínima, progressivamente ampliada para 1.400 horas – poderá agora passar de 2400. Antes, a LDB estabelecia 800 horas anuais, distribuídas num mínimo de 200 dias letivos.
O ensino da língua inglesa passa a ser obrigatório a partir do sexto ano.
Nos governos petistas, era obrigatória a inclusão de uma “língua estrangeira moderna”, a partir do quinto ano. A escolha do idioma, nos moldes anteriormente estabelecidos, ficava à cargo da “comunidade escolar”.
Agora, o ensino de um segundo idioma – preferencialmente o espanhol, deverá ser optativo.
O governo também determina o que deve ser referência no conteúdo dos processos seletivos para a universidade – os vestibulares. Os vestibulares deveriam cobrar apenas o que for determinado pela Base Nacional Comum Curricular – eliminando a possibilidade de seleção ideológica de quadros. Mas a discriminação por pensamento, e orientação identitária, poderá agora se acirrar, bem ao gosto da burocracia acadêmica instalada nas várias igrejinhas ideológicas vigorantes nas universidades.
O governo deve permitir que profissionais com notório saber, reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino, possam dar aulas de conteúdos de áreas afins à sua formação.
O ensino de artes e a prática de educação física, no entanto, são obrigatórios apenas nos ensinos infantil e fundamental. Ou seja, no ensino médio, é apenas opcional. O mesmo acontecendo com as disciplinas de filosofia e sociologia.
Todo projeto, no seu todo, é a princípio aceitável. A questão é se será cumprido… pois os pressupostos materiais, fornecidos pelos estados, quase sempre inexistem.
Assim, toda a inútil polêmica proselitista envolvendo assédios a professores em aula, conflitos com alunos militantes e militontos, buillings, greves e ocupações Brasil afora, resume-se ao que “pode vir a ser”, “se efetivamente for”, “quando for”, “se não mudar antes”… em suma: algo em torno do que pode não ser cumprido e, com certeza, sofrerá ainda alterações.
Lançamento do BNCC no governo Temer.
Todo projeto é aceitável. A questão é se será cumprido.
Escolas públicas viram “depósitos de idiotas”
Com ou sem base nacional curricular, o sistema de ensino médio continuará nas mãos ineficientes e ineficazes das burocracias dos estados da Federação.
A política de ensino dos estados, também é fato, continuará atuando de forma a desestimular os adolescentes a produzirem cultura e absorverem conhecimento.
Os estados, por conveniência curricular, continuarão produzindo derrotados, vitimizados e obesos.
A pérola em todos os projetos de governo – tão do agrado dos burocratas acadêmicos, é a repetição do modelo de “tempo integral” nas escolas – vale dizer: manter os alunos o maior tempo possível afastados do convívio familiar, e inteiramente dedicados a conviver com o Estado.
A alienação familiar não é novidade. Pelo contrário, remonta à grécia antiga. Licurgo, o grande idealizador do sistema espartano de ensino, ao que tudo indica, continua sendo modelo educacional para o Brasil em pleno século XXI.
Esse modelo seguiu incólume na transição de tucanos, petistas e peemedebistas. A postura adotada no Estado de São Paulo, por exemplo, desde o início da dinastia tucana, sempre foi a de administrar escolas públicas como “depósitos de crianças e adolescentes”. Gestores tucanos se esmeraram em tratar os alunos que depositam nas escolas como idiotas. Esse vício da mediocridade floreada com discursos esnobes contaminou quase todos os estados brasileiros.
Nos estados, governados à esquerda ou à direita, o desprezo pela mente do adolescente é absoluto. Varia da doutrinação livre ao descaso total para com o resultado do aprendizado – de toda forma terminatemente proibido de ser aferido – basta lembrarmos da novela que foi a introdução do sistema periódico de aferição do ENEM (sem dúvida um enorme avanço em meio ao atraso).
Assim, o tempo integral escolar visaria “tirar o adolescente das ruas“. No entanto, a segregação familiar se prestará apenas a “depositar alunos” nas salas de aula, sem outro propósito que não o de cumprir com uma “logística de ensino” para idiotas.
Desuniformidade politicamente correta
Há uma lógica nisso tudo. O modelo adotado é absolutamente reativo.
A burocracia educacional segue cegamente um padrão de reação politicamente correta, que contaminou a guerra à meritocracia praticada pela “eugenia cívica norte-americana” – método que vigorou até pouco depois da segunda guerra mundial nos EUA (e ainda contamina a formação complicada da “high school”), e foi aplicada dissimuladamente em vários colégios de elite no Brasil.
No sistema norte-americano, o pressuposto para a eugenia cívica era que “o meio social miscigenado tenderia a produzir idiotas. Portanto, se estes não fossem identificados, poderiam ser autorizados a propagar-se e prosperar”. Desse modo, a “escala” deveria ser quebrada imediatamente acima no nível da idiotice, para que não avançasse para a completa imbecilidade.
A meritocracia, assim, destacaria quem seria encaminhado ao rol dos “vencedores”, conferindo-lhe bolsas, convites e possibilidades no nível universitário, reservando aos demais, democraticamente, todo o volume “necessário” de conhecimento, para que tocassem a vida nos padrões de nível técnico.
Essa ideia de Goddard, aplicada no início do século nos EUA – absolutamente eugênica – sofreu forte reação. Hoje, no entanto, submetida à “luz” do politicamente correto, essa reação acabou por estigmatizar da mesma forma, apenas invertendo as prioridades: os medíocres – vitimizados, passaram a ser privilegiados, e os “derrotados”, igualmente vitimizados, bem como aqueles incluídos em todo tipo de “minoria”, passaram a ser protegidos, excluindo-se os demais.
Terrível paradoxo…
Os estágios do desenvolvimento mental, de Goddard, parecem ainda ser o padrão no Brasil, a pretexto de desdizer o já dito…
Com isso, comparados todos a “idiotas” e logisticamente depositados em salas de aula, os adolescentes passaram a ser bombardeados com perolas do politicamente correto: a crítica sem conhecimento, o respeito à diversidade sem que se saiba ao certo o que é uniformidade, a desconsideração pela lógica e o desprezo ao senso comum.
Abolir o uniforme, por exemplo, é fator típico dessa reatividade.
O pretexto é de que a ausência de uniformes irá igualar desiguais expressando o vestir das desigualdades. O fato, na verdade só gerou mais estigma social, hábitos consumistas, comportamentos de ostentação e valorização material.
A desuniformidade na paisagem escolar é o caos priorizado – sem que se saiba que “nova ordem” dele poderá sair…
Todos são “vítimas”. Logo, ninguém é responsável
A generalização e a reatividade “politicamente correta” constituem o grande crime não abordado na Base Curricular.
Esse crime é notoriamente praticado no ensino público secundário em todos os estados, sob o beneplácito dos governantes medíocres que temos.
A moda é generalizar e vitimizar, para dissimular a pedagogia dos fracassados.
Generalizar é subentender que o hipossuficiente social merece uma educação medíocre e, como não se pode permitir que a meritocracia diferencie inteligentes de idiotas e imbecis, a educação praticada buscará formar apenas idiotas.
A vitimização, é motor da entropia politicamente correta, cuja mediocridade, gerou efeitos sinérgicos – como a perda da noção de cidadania, o desaparecimento dos valores morais e a ausência de responsabilidade social .
Agora, todos são vítimas, em algum momento, de alguma coisa alheia a eles – os colegas assediadores, os pais intolerantes, os professores arbitrários e, amanhã, toda a sociedade.
Esse equívoco monumental já degrada, hoje, a própria segurança pública.
Um sistema que trata a todos como idiotas, acaba gerando sociopatas.
Um padrão de governança escolar que desvaloriza o convívio familiar, reduz a hierarquia e despreza a disciplina, expõe o professor à crítica leviana sem conferir a ele qualquer respeito profissional.
A moda é questionar sempre as autoridades, e vitimizar os que sofrem as sanções. Não há moral possível de ser aferida, quando a própria moral é desconstruída.
Essa mistura de desídia pública, irresponsabilidade ideológica, incompetência funcional e descaso político, atingiu a psiquê dos adolescentes no estágio médio do ensino.
Pais criados nesse mesmo padrão, reforçam o comportamento injusto dos filhos. O padrão do rancor social e da vitimização sem responsabilidade perverteu os padrões e valores morai. A desarticulação do tecido social que se nos apresenta, revela um quadro sombrio e sem perspectivas. Essa ausência de perspectivas pode ser notada nas “comunidades” de favelados, nas escolas de periferia, nos padrões rancorosos de na adoção de culturas marginais (muitas delas importadas de comportamentos rancorosos e racialistas, vários assimilados de forma igualmente equivocada por conta da vitimização social praticada nos EUA).
Professora agredida na sala de aula – descaso absoluto das autoridades para com a figura do mestre
Professores do ensino básico e médio: chave para o desenvolvimento
Os professores do ensino básico e médio são as primeiras vítimas das frustrações descarregadas pelos alunos – por conta do recalque psicológico alimentado pelo rancor e pela vitimização sem responsabilidade – tudo com o beneplácito das autoridades academicistas, enfurnadas na medíocre burocracia titulada.
Uma pesquisa global feita com mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) pôs o Brasil no topo de um ranking de violência em escolas.
Na enquete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos – pelo menos uma vez por semana.
Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados – a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%.
Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero.
O estudo internacional sobre professores, ensino e aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), também revelou que apenas um em cada dez professores (12,6%) no Brasil acredita que a profissão é valorizada pela sociedade; a média global é de 31%.
O Brasil está entre os dez últimos da lista no quesito que mede a percepção da valorização do professor. O lanterna é a Eslováquia, com 3,9%. Em seguida, estão a França e a Suécia, onde só 4,9% dos professores acham que são devidamente apreciados pela sociedade.
Os números refletem que o problema brasileiro também se estende aos países que mais equilibrados, que, porém, aplicam a mesma doutrina do “politicamente correto. Os que implementam essa bobagem não valorizam mestres, embora prestigiem burocracias medíocres que vivem de mestrados e doutorados…
Governos que aplicam a valorização do ensino básico e médio, sem priorizar a burocracia acadêmica, são os exemplos de sucesso.
Na Malásia, quase 84% (83,8%) dos professores acham que a profissão é valorizada. Na sequência vêm Cingapura, com 67,6% e a Coréia do Sul, com 66,5%. Nesses países, em franca evolução, a valorização dos professores do ensino básico e médio é elemento-chave para desenvolver os sistemas educacionais.
No Brasil, segundo dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDEs) da Presidência da República, divulgados em junho de 2016, a remuneração média dos professores de ensino básico e médio é de pouco menos de R$ 1,9 mil por mês. A média salarial dos professores nos países da OCDE, calculada levando em conta o poder de compra em cada país, é de US$ 30 mil (cerca de R$ 68,2 mil) por ano – o equivalente a R$ 5,7 mil por mês – o triplo do que é pago no Brasil.
Por um estatuto que confira autoridade ao mestre
Mas o problema não é apenas salarial.
No Brasil, “especialistas” em mediocridades tituladas têm o desplante de pensar o estatuto do professorado como espécie de convenção coletiva do trabalho – uma relação de benefícios trabalhistas e previdenciários – jamais como um estatuto que confira ao professor AUTORIDADE pedagógica.
O segredo é simples de verificar, e pode ser explicado pela psicologia. Desde o governo FHC, por conta da enorme defasagem acadêmica encontrada no sistema superior de ensino nos anos 90, a priorização do governo foi o aperfeiçoamento e o estimulo à criação de cursos de graduação, e pós graduação como critério para a constituição dos primeiros.
Não foi o desejado, porém, a externalidade desse esforço foi a burocratização da atividade acadêmica. Criou-se um apego sistêmico à titulação como forma de hierarquizar a política de ensino no Brasil. Isso pareceu conferir status psicológico à burocracia encastelada nas universidades públicas, o que gerou verdadeira sociopatia, a qual acomete parcela de indivíduos cognitivamente burocratizados, que se agarram a formas “excludentes” de segregação acadêmica, buscando afirmação. O efeito é perverso: uma crescente burocratização do ensino superior, retroalimentada financeiramente em detrimento da valorização dos verdadeiros mestres do sistema educacional, os professores de base e de nível técnico – aqueles que forma os cidadãos.
Coreia do Sul e a China são exemplos de países onde o trabalho dos professores é valorizado tanto pela sociedade quanto por políticas governamentais, o que representa um elemento fundamental na melhoria da performance dos alunos.
Diz a OCDE que “em países asiáticos, os professores possuem uma real autoridade pedagógica. Alunos e pais de estudantes não contestam suas decisões ou sanções“.
Ora, com salários de fome, turmas desinteressadas, infraestrutura precária e falta de autoridade pedagógica para os professores, o Brasil possui qualquer base possível para implementar com sucesso o curriculo pretendido para o ensino médio, pela cúpula do governo.
A profissão não sendo valorizada pelo poder público e pela a sociedade, por mais que o mestre ame a profissão, permanecerá hipossuficiente e acuado. Assim, cria-se um círculo vicioso de desrespeito e desmotivação que culmina no sucateamento do ensino que vivenciamos hoje em dia.
Conclusão
Assim, a saída para quebrar o circuito da mediocridade e superar a pedagogia da derrota é VALORIZAR O PROFESSOR. Conferir a ele autoridade pedagógica, exigir, até mesmo por lei, o devido respeito e adequado tratamento social.
Mestre, deve deixar de ser mera qualificação acadêmica para se tornar forma de tratamento efetiva aos que se dedicam a ensinar.
O governo ganharia muito mais se orientasse seus esforços em construir um estatuto do professor que o valorizasse como ente social, dentro e fora da sala de aula.
É necessário um marco legal que reconheça o professor como elemento essencial ao Estado.
Talvez, assim, saíssemos todos desse patamar de ensino abaixo da média da mediocridade mediana.
Obs: artigo revisto em 2023, face ao anúncio de nova reforma do ensino médio no Governo Lula.