Um fenômeno ainda recente, de poucas décadas, é incontroverso: o número de “ideologias” políticas e sociais diminuiu bastante, pois a multiplicidade anterior não se susteve no mundo moderno, da globalização e das redes sociais.
Este modesto artigo pretende apenas analisar e propor as apropriadas denominações das duas principais correntes que sobraram.
Alguns as definem como os da “direita” e os da “esquerda”; outros preferem classificá-las em “conservadores” ou “progressistas”, e há ainda os extremistas, que preferem impingir aos opostos, os clichês de “fascistas” ou “comunistas”.
Todas essas denominações são forçadas ou pelo menos, anacrônicas.
Se não, vejamos.
A rigor, no Parlamento da Inglaterra na idade média, salão retangular com dois “lados”, quem defendia o Rei se ajuntava no lado direito, e quem fazia oposição ao Rei, se ajuntava no lado esquerdo. Nada mais obsoleto e inconsistente atualmente, ou teríamos que conotar como “direitistas” todos os que apoiam o chefe político Lula da Silva.
Pechar como “direitistas” os que defendem a prevalência do capital nas relações de produção, e como “esquerdistas” os que defendem a prevalência do trabalho, perdeu completamente o sentido com o fracionamento do capital (nas bolsas de valores) e com a eclosão das micro e até empresas individuais.
Mesma inconsistência em relação aos termos “conservadores” e “progressistas”. Com o desenvolvimento exponencial da ciência e da tecnologia, as relações humanas tiveram que se adaptar, o que além de necessário foi bom, e não há conservador que não seja também progressista e nem progressista que não tenha um tanto de conservador. Por exemplo, é muito raro encontrar alguém declarado progressista, que concorde em entregar as suas propriedades e deixar suas heranças para o Estado. Digamos que os dois grupos se encontraram no meio do espectro, perdendo seus significados.
Quanto aos dois últimos termos, largamente utilizados quando se esgotaram os argumentos e o bom-senso, são simplesmente ofensivos.
Fascismo e comunismo são ideologias caracterizadas por regimes totalitários e policialescos, não democráticos, onde impera a repressão ao livre-pensamento e à diversidade, e forte controle da economia. A diferença entre os dois é que o fascismo é ultranacionalista e defende a supremacia dos seus, comparados com as demais nações, enquanto que o comunismo defende que o preconizado bem-estar social tem que ser coletivo, não individual e nem familiar, e forçosamente espalhado por todo o planeta.
Já o horrendo nazismo, da Alemanha, foi uma mescla de fascismo com comunismo, aproveitando o pior de cada um deles, haja vista o seu título: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Observar que, nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, houve um acordo político de interesses comuns entre Hitler e Stalin.
Expostas as falhas e inconsistências dessas denominações, vem a questão: como chamar as duas correntes que se formaram nos últimos anos, visando que as pessoas convirjam e atuem coerentemente em uma ou em outra ?
As melhores palavras para isso são: Fundamentalismo e Libertinagem.
Fundamentalismo não significa bitola, imobilismo intelectual e nem literalidade religiosa, nem culto a personalidades. Em poucas palavras, fundamentalismo significa o forte apego a valores universais, absolutos e inerentes à natureza humana, sendo os principais Deus, Família, Pátria e Liberdade.
O cerne do fundamentalismo é o desenvolvimento individual, todos tendo como caminho e meta esses valores, onde todos se encontram, irmanam e convergem.
A liberdade somente encontra limites no respeito aos demais e às regras sociais.
Já a corrente da libertinagem admite que cada ser humano tem o direito de fazer o que bem entender e quiser, independente de regras sociais: “tudo posso, proibido é somente proibir”. Deus, Pátria e Família, para esses, são conceitos ultrapassados e que devem ser repelidos ou, se possível, eliminados.
Libertinagem significa o abuso da liberdade, sem respeitar o próximo, nem a coletividade, ultrapassando todos os limites conforme os interesses e as paixões do momento. Fatalmente, leva à desagregação familiar, à perda de dignidade humana, à entrega aos vícios e drogas, e muitas vezes ao suicídio.
São termos fortes, mas expressam bem a dicotomia atual.
Todos devemos refletir sobre em qual corrente estamos, ou desejamos ficar. E feita essa escolha, participar e atuar com coragem e desprendimento para a prevalência das suas ideias, não necessariamente contra os que estão ou vão para o outro lado, mas sim para, com o seu exemplo e realização pessoal, atraí-los para o seu grupo.
///
José Crespo foi deputado estadual na ALESP por três legislaturas seguidas e atualmente é presidente do ICPP – Instituto de Cidadania e Políticas Públicas.