Hard, soft e fake news: como a imprensa trata o Brasil nestes dias.
Sem nenhum sentido professoral, mas simplesmente para facilitar a narrativa desta leitura, convém, a priori, uma explicação. Nos Estados Unidos, berço do jornalismo o qual inspirou o nosso aqui no Brasil, quando o repórter está diante de um fato novo, relevante, o trabalho é “duro” ou hard. Seu objetivo é trabalhar forte para priorizar leitores ou assinantes de canais virtuais da organização para a qual trabalha. Quando o jornalista trabalha com um fato conhecido, de interesse e de consumo de massa o profissional também desempenha suas funções com o mesmo zelo. O veículo para o qual trabalha sabe pautar, valorizar e respeitar o interesse dos seus clientes consumidores de informações. Neste caso trata-se de uma soft news, ou seja, uma notícia “mais leve”. Estamos falando de hard news e soft news; não de fake news, mesmo porque está última é a quinta essência do fim o mundo, mas faz parte do cenário. Embora tenha convivência perniciosa no cotidiano e na política muito mais ainda, não merece ser abordada.
Nesses últimos dias, mais precisamente após a deflagração de operação da Polícia Federal, que investiga os responsáveis pelo plano que visava um golpe político no Brasil, cujo primeiro ato publico ocorreu em 8 de janeiro do ano passado. Brasília se transformou numa dissimulada praça de guerra e por muito pouco poderia ter se transformado em estopim para a consecução de objetivos distantes dos ditames de um país democrático. Nomes relevantes das forças armadas, da política e do meio empresarial foram alvo da Federal por meio de detenções, busca de documentos, depoimentos, e outras provas capazes de chegar aos seus responsáveis. Desde então, de ex-presidente e ex-ministros, passando por patentes militares e até subalternos se transformaram em notícia, ou seja numa bem caracterizada “hard news”. O assunto é da mais alta relevância. Embora não se saiba o que ainda acontecerá, não há como rebaixar esses acontecimentos como sendo “soft news”. Tanto é que até a mídia do exterior abriu seus espaços e vem acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Paralelamente esse fato, o Carnaval chegou. Ruas, avenidas e clubes estão vivendo uma festa de arromba. Os desfiles públicos lotam todos os espaços, com cores, ritmos e fantasias – um belo show que tem que ser visito com alegria. Embora se repita todos os anos, sempre leva à tiracolo altercações, mortes, acidentes e muito outros desatinos, próprios de quem se deixa levar pela euforia provocada por outros agentes, químicos ou psicossociais. Neste caso estamos falando de uma “soft news”. Não tem nada de realmente novo agregado neste evento. Não é algo anormal, ímpar, como no caso de tentativa de uma arquitetura de plano golpista. A imprensa, no entanto, está tratando os dois fatos como notícias com mesmo peso e a mesma medida. Aliás, como a plasticidade e a folia são mais atrativas visualmente, estas estão ganhando mais espaço do que poderiam merecer. Cá com meus botões imagino que seja a constatação salomônica do provérbio que diz: “No Brasil tudo termina em pizza”. No caso, a variante dessa citação seria…. “tudo termina em Carnaval”. Será?