Como estava previsto, Donald Trump não recuou e impôs uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, com algumas exceções. De quebra, restringiu direitos ao ministro Alexandre de Moraes. Mais sanções virão porque não se trata de um movimento tresloucado como alguns querem fazer parecer. É estratégia política que pretende acuar países em uma nova forma de dependência e subserviência.
O multilateralismo está em crise desde que a ONU deixou de ser um ator fundamental para a resolução dos conflitos mundo afora. O Conselho de Segurança da instituição é o principal responsável por esse entrave e, como nada vai mudar, tudo ficará como está.
Por outro lado, a globalização resultou numa concentração de riqueza nas mãos do sistema financeiro onde poucos têm a chance de participar. Ao romper essa lógica, que permitia aos Estados Unidos imprimir títulos públicos lastreados na moeda aceita internacionalmente, mesmo que às custas de aumentar sua dívida fiscal, a China se transformou em inimigo daquela que tem sido a maior potência do globo desde a Segunda Guerra Mundial. O gigante asiático precisa ser derrotado a qualquer custo porque, a longo prazo, a tendência é que os chineses se transformem na maior potência mundial em todos os setores estratégicos.
Não há a menor chance de trazer as fábricas norte-americanas de volta para casa. Isso custaria um investimento extraordinário que sugaria os recursos dessas empresas, sem contar o tempo que levaria para a montagem da infraestrutura necessária e a formação da mão de obra qualificada. Trump sabe disso. Daí que opta pelo caminho mais fácil: a taxação que é, na prática, sanção comercial. Ele tenta colocar de joelhos os países para obter uma nova capacidade de arrecadação. Não vai gerar empregos novos nos Estados Unidos, mas agrada a sua base eleitoral, mesmo que aconteça uma ligeira elevação da inflação.
E o Brasil, como fica nessa história? Não há saída. O discurso da soberania serve como chama a despertar sentimentos patrióticos. Porém, pouco serve na prática naquilo que realmente interessa: a economia. Quem acha que a família Bolsonaro é traidora da nação, que comete crime lesa-pátria, não está errado. Mas, esses personagens são peças descartáveis na estratégia de Trump. Usa-os enquanto for interessante. Depois, serão descartados e lançados de volta para a lata de lixo da história, de onde nunca deveriam ter saído.
As relações entre o Brasil e os Estados Unidos têm mais de 200 anos. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Na maior parte do tempo, sempre foram relações amistosas, com alguns momentos de tensão como ocorreu na organização e execução do golpe militar de 1964 e, anos mais tarde, na crise do programa nuclear brasileiro com a participação dos alemães.
Por mais que o presidente Lula se esforce, que comitivas empresariais conversem com seus homônimos norte-americanos e que parlamentares se desloquem aos Estados Unidos para destravar o diálogo, não há a menor chance de uma abertura que culmine em um acordo mais amplo. As exceções contidas na decisão de Washington são apenas de interesse de setores do empresariado norte-americano. A sanção está posta usando como pretexto argumentos falsos como a suposta perseguição ao clã Bolsonaro e à liberdade de expressão.
O fato é que a soberania nacional, conceito-chave na construção de uma nação, deixa de existir a partir das atitudes de Donald Trump. O que vem no lugar será a ameaça permanente de um conflito entre os Estados Unidos e a China que não terá hora para terminar. O mundo tal como era, acabou. A expropriação de bens naturais é a nova palavra de ordem do império que, percebendo a sua decadência, quer se reerguer às custas dos demais países.
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