Ainda não existia a Rio-Ita com seus ônibus de molas duras que arrebentavam os rins dos passageiros, parando mais do que recolhedor de latões com leite.
As viagens de Miracema para Rio e Niterói eram feitas nos trens da Estrada de Ferro Leopoldina, gerenciada na Santa Terrinha pelo sr. Cordeiro, pai do Cícero e do Amaro.
O último apito avisando a partida era dado às 4h45, bem antes do galo cantar. Recomendava-se uso de guarda-pó, preservando os ternos e os vestidos chiques da fuligem soltada pela máquina à lenha.
Recomendava-se, também, não pedir chocolate quente no bar da estaçaão de Três Irmãos, primeira parada de cinco minutos. Demoravam servir, não dando tempo para que fosse saboreado. O pagamento, claro, era feito antecipado.
No Rio, o hotel preferido dos conterrâneos era o Municipal, na rua da Carioca, não longe do Bar Luis. Foi por ali que num início de tarde Geraldo, bom alfaiate, viu mulata charmosa, e não perdeu tempo.
Olhou, encostou, jogou seu charme – pessoal da Santa Terrinha, naquela época, era bom de prosa. A bela mulata o reonheceu, mas ficou na dela. Caprichando nos “esses”, disse que sim, era carioca, e trabalhava como “housekeeper” na Gávea.
Papo vem, papo vai, Geraldo disse que era industrial paulista e estava no Rio a negócios. A mulata, nascida e criada na rua da Lage, deixou que o “paulista” a conquistasse e aceitou o convite para o jantar.
Alguns chopinhos, um belo filé, sobremesa, cafezinho e, quando Geraldo armou para dar o bote, levantou-se, agradeceu pelo belo jantar e, despediu-se.
“Preciso ir, Geraldo, meus patrões estão me esperando. Quando voltar para Miracema, dê um abraço no Inhá e no Biá, seus irmãos”.