O rádio de hoje tem o seu mérito, o seu valor, a sua tecnologia, o seus encantos; não é bem o que nós, velhinhos de antes de ontem, sobreviventes de todas as guerras mas, unidos em nossas lembranças, em nossos corações, em nossa saudade, esperávamos, mas, a cada dia basta o mal ou o bem, que lhe cabe. O que passou, foi muito bom para nós, mas, passou. Não adianta ficarmos discutindo se Anitta é ou não é, se Pablo está ou não está. Se os programas de hoje, no rádio, não são mais a sombra do que foram e os meninos novos estão querendo aparecer mais do que o programa em si. Hoje é o hoje. Saudade daqueles tempos, janela de apartamento. Deu vontade, hoje, no caleidoscópio em que me coloco vez por outra, de falar dos Bettio. Sim, aqueles sem acento, os descendentes de italianos, Bettio.
Eu convivi com um dos maiores sanfoneiros de todos os tempos, que tinha conhecido; não posso me colocar como expert mas, como trabalhei na mais completa empresa gravadora de discos do Brasil, a Copacabana, do Adiel Macedo de Carvalho, Gunther Szaznik e Rosvaldo Cury, que contava com o ouvi e aprendi muita coisa. E um dos sanfoneiros que lá gravavam, merecia um apreço especial: Arlindo Bettio. Arlindo não era de muito falar, meio caladão, sério, pouco mencionava os irmãos, mas tinha sempre um gesto de carinho com seus colegas, principalmente os mais simples. Aparecia vez por outra, para comprar seus discos e os vender em shows, como muitos. Todos gostavam dele e foi um baque, para nós, quando chegou a triste notícia de sua morte, e da forma violenta que ocorreu. Saudade, Arlindo Bettio.
Do José, todos conhecem a história, a vida, o sucesso; pouco há a acrescentar, a não ser lembrar o seu lado “tio Patinhas”. Pelo que me recordo, na Rádio Capital, ele gostava de fabricar o seu próprio sapato, tinha um, marrom e branco, que eu achava muito bonito; gostava de levar de casa ovos caipira, que trazia de sua fazenda, e o seu pão italiano, para o lanche. Pedia à nossa cozinheira que fritasse os ovos, colocava no pão e ficava comendo por ali, chapeuzinho na cabeça. Em tempos outros, ficava em uma farmácia perto da estação da luz, dando plantão, para atender clientes e ouvintes; o maior sucesso. Tinha uma cabine dupla branca, Chevrolet, que ele não trocava de jeito nenhum. E ia para sua fazenda, acho que em Rinópolis, e, vez por outra levava seu amigo, Zé Russo…e este me contava que ele dirigia por quilômetros, até parar em um posto, já bem longe. Lá, abastecendo, ganhava o cafezinho e ele não era de ficar gastando à toa por ai.
Do Osvaldo, irmão, eu me lembro certa ocasião, como divulgador da Copacabana, encarregado de sair pelo interior buscando as rádios e levando o suplemento do mês, indicando os prováveis sucessos. Cumpriu sua passagem como destacado deputado estadual, quando brigou para que se aprovasse um projeto de abate de animais nos frigoríficos, com anestesia. Não me recordo do resultado, mas me lembro das brigas dele com a politicada. Por falar em brigas, ele andava meio agastado com o irmão e eu fui encarregado de escrever e produzir, na Capital, um programa surpresa, onde o Darcio Campos homenagearia o Zé. Fui até o sítio do Osvaldo em (Tietê ou Tatui, não me recordo) e tratei de convencê-lo a falar alguma coisa…ele atendeu o pedido e o programa foi, completo, com a fala, a história e o abraço, dele. Para minha felicidade, tive o privilégio de ser colega dos “três Bettio”, com e sem acento. Meus pequenos casos da história, no rádio, nunca seriam os mesmos, sem eles. Abraços e Feliz Natal aos queridos amigos que, de uma forma ou de outra, acabam prestigiando esse velhinho de 84 anos bem vividos, lendo nossas estórias.










