Quando se encontrava em plena forma, nos anos de 1980 e 1990, e era reverenciado em todo o mundo, o atleta do basquete Oscar Schmidt foi convidado para participar de uma campanha publicitária. A campanha tinha como objetivo lançar uma linha de produtos voltada para manter a boa forma e saúde das pessoas.
Oscar seria garoto propaganda dessa campanha, composta por diversos anúncios para revistas e comerciais para TV, as duas mídias mais eficazes da época. A agência de publicidade contratada para essa campanha havia pesquisado o mercado e concluído que Oscar era o melhor nome para dar força à marca e atrair consumidores. O testemunhal e a credibilidade do craque do basquete eram garantia para o sucesso dos produtos.
O cachê era alto, a campanha era boa; bem, parecia boa. Oscar, que sempre se negou a participar publicidade de bebidas alcoólicas ou de cigarros, até então permitidas, preferiu pensar uns dias antes de aceitar. Pediu a opinião de fisiologistas amigos. Um deles levou alguns produtos para análise mais apurada em laboratório. Dias depois chamou Oscar para dizer que mais da metade dos componentes daqueles produtos, contrariamente ao que insinuava a campanha, não tinha as qualificações positivas comprovadas pela ciência.
Mesmo sabendo que deixaria de ganhar o cachê, Oscar abriu mão dizendo que não se sentia confortável em prestar um testemunhal fora da realidade. Na época teria tido algo como “ não posso falar mentira”. O ato de testemunhar algo, mesmo por meio de campanhas publicitárias tem peso – peso moral e social. Devem existir personalidades públicas como o Oscar, que não usam imagem, voz e nem outras atribuições para ganhar dinheiro à custa de mensagens com contornos de embuste.
Só para ficar num exemplo oposto ao de o Oscar, que representa o mocinho, o outro, que representa o raciocínio de camelô é o que vemos aos domingos, com Luciano Huck. Ele “vende” a imagem da rede Magalu como sendo o paraíso das compras. “ É só apontar a câmera do seu celular aqui. Você pode comprar de absorvente higiênico, a material de pescaria, bateria para automóveis e qualquer outra coisa que imaginar”, diz ele dirigindo-se a milhões de telespectadores.
Esse caso é típico dos que buscam lucrar sem se preocupar por onde andará, depois, sua reputação – um imediatismo predador, que se encontra crescendo com erva daninha. Para completar e não deixar dúvida: apontar a câmera do celular e comprar na Magalu não é uma operação simples como insinua o apresentador. Pior do que isso é a frustração da não entrega do produto comprado no cartão, ou então pago com antecedência.
O dinheiro de volta é uma peregrinação. Há outras insatisfações e frustrações catalogadas no site Reclame Aqui. Para os que buscam seus direitos via SAC ( Serviço de Atendimento ao Cliente) da rede Magalu, há respostas padronizadas e pasteurizadas. Quem cai nessa malha terá muito desprazer. Atitudes como a de Oscar deveriam ser mais frequentes e das de Luciano Huck, eliminadas, ou, no mínimo, mais éticas.