Desafiador para mim escrever sobre este tema, já que sou um gênero feminino ainda que com certa energia masculina dentro de mim, aliás como todos os seres, que tem ambas as energias dentro de si, feminina e masculina. Então, todos que lerem, o farão com a clareza de que é um texto sob a perspectiva de uma mulher muitíssimo interessada neste assunto também.
E quero inicialmente pontuar, um material que apareceu para mim por meio das mídias digitais, e que me impactou de certa forma. Foi a entrevista que Willian Shatner fez com um dos maiores lutadores da história, Mike Tyson, e para quem não sabe quem é Willian, trata-se do ator que fez o papel do capitão Kirk na série Jornada nas Estrelas.
Extrai um trecho dessa conversa entre eles para falar do tema vulnerabilidade masculina.
“Eu sempre chorei antes de uma luta, porque aquele cara não era quem eu sou em realidade, me transformava em alguém que eu não gosto, precisava me transformar em um lutador e não gostava do que esse lutador trazia com ele, além da luta: ciúmes, inveja, culpa e muitas outras qualidades ruins”, afirma Mike Tayson.
Esse depoimento do Tyson nos permite fazer várias reflexões: “Quantos de nós se transformam em uma outra pessoa antes de começar alguma coisa na vida, por exemplo, trabalhar, se relacionar etc.? Quem é você realmente sem o crachá, o cargo, o uniforme de trabalho, os títulos etc.? Precisamos, de fato, para ter uma vida que queremos ter, nos transformar em feras? Qual o preço estamos pagando para viver, ter certa dignidade?
A vulnerabilidade mostrada por Tyson nesta entrevista é algo importante e marcante, pois convivendo com muitos homens em minha vida, depreende-se que esse gênero não gosta muito de falar de suas lutas, dificuldades, dores, desafios, problemas etc.
Aprendi também que, para eles, é relevante não demonstrar o lado fraco que possuem, ou mesmo de um assunto ou questão, o aspecto pelo qual podem ser atacados, feridos ou mesmo lesionados física ou moralmente, ou seja, querem se afastar de riscos, fragilidades e danos.
Presto atenção que muito costumeiramente quando pergunto a um homem, “você está bem? “A resposta que muito geralmente vem é “eu sempre estou bem”.
Para o gênero masculino, por conta de aspectos culturais e até mesmo do inconsciente coletivo, este muito geralmente quer demonstrar socialmente que está por cima nos quesitos dinheiro, status, poder, saúde e sexo. Ou seja, não querem fracassar na carreira, nos esportes, na cama etc.
Quantos homens falam sobre suas dificuldades oriundas da idade mais avançada, por exemplo? Acredito que poucos. E muitos, com certa idade madura, ainda querem demostrar que estão muito bem, tudo pautado no aspecto vaidade. Acredito que alguns, quando lerem esse texto, pensarão em ao menos uma pessoa neste contexto.
Dados que assustam
A falta de comunicação dos homens está associada, por vezes, aos altos índices — e riscos — de suicídio. No mundo, os homens representam 78% de mortes por autoextermínio, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), coletados em 2019.
Já no caso do Brasil, dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, apontam que homens apresentam um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres. A taxa de mortalidade por autoextermínio em 2019 foi de 10,7 por 100 mil, enquanto a do público feminino ficou em 2,9.
Devemos acolher os homens, que por conta da construção machista e patriarcal de muitos e muitos anos, sofrem muitas vezes em silêncio sem compartilhar questões importantes envolvendo dores, fracassos e que muitas vezes para serem curadas, devem ser abertas e discutidas, eles precisam se abrir emocional e sentimentalmente para encarar essas dificuldades e encaminhá-las adequadamente.
Sugiro assistirem um documentário, no Youtube, chamado “O silêncio dos homens”, muito ilustrativo, pois há relatos e dados reais a respeito desse tema.
É mostrado inclusive diversas iniciativas em todo o país a fim de fomentar a criação de reuniões e grupos de homens com o objetivo de compartilhar sentimentos e experiências em torno do gênero masculino e de suas construções e assim ressignificá-las.
Trata-se de um movimento de coragem e disposição para que os homens se conscientizem da importância de suas emoções, deixem a sensibilidade inata da nossa espécie aflorar e se ajudem mutuamente a construir vidas melhores, mais reais e menos mascaradas e ilusórias.
Assim como os movimentos feministas, os movimentos de reflexões sobre masculinidades, são uma importante luta pela igualdade social e de gêneros a fim de desconstruir conceitos ultrapassados, rumo a um progresso na convivência mais saudável e mais real, da sociedade como um todo.
Quem não tem questões, não é mesmo? Segundo Fritz Perls, pai da Gestalt-terapia, “é importante tocar a dor para sair do sofrimento”.