O metabolismo cardíaco depende em sua totalidade dos níveis corpóreos de água. Todas as reações enzimáticas da célula cardíaca são mediadas por moléculas de água, essenciais para o transporte de substratos e para agregação de partículas.
Estados de desidratação podem ser causados por diversas situações como diarréia, queimaduras, vômitos, sudorese excessiva em locais muito quentes e prática excessiva de exercícios físicos. Em todos estes casos, o coração pode apresentar alterações da frequência cardíaca, pressão arterial e alguns sintomas como dor precordial e falta de ar tendem a surgir.
Caso o estado de desidratação seja muito profundo, existe risco de parada cardiorrespiratória, uma vez que o conceito de desidratação não consiste em perda exclusiva de água. Independentemente da causa da desidratação, existe espoliação de dois produtos básicos , água principalmente, mas também dos eletrólitos corpóreos, os quais são indispensáveis para a plenitude da função cardíaca.
O trabalho contrátil da musculatura cardíaca depende do equilíbrio de dois eletrólitos – sódio e potássio. Em outras palavras, pode -se afirmar que o coração humano, em condições estáveis e fisiológicas, só consegue bater se houver quantidade suficiente de sódio e potássio permeando as células miocárdicas. Em caso de desidratação, os batimentos cardíacos podem ficar desorganizados e apresentar muitas variações.
No âmbito esportivo, considerando sobretudo atletas de intensa atividade, a hidratação é fundamental para garantir um ótimo desempenho e prevenir intercorrências cardiovasculares. A quantidade de água e eletrólitos que um jogador de futebol elimina, ao longo de uma partida de noventa minutos, é praticamente inimaginável, principalmente se as temperaturas estiverem muito elevadas. Nestes casos, a ingesta de água e eletrólitos durante e após os jogos é mandatória.
A ingesta de grande quantidade de água consiste em terapia simples, natural e de extrema eficácia nos casos de desidratação. Preventivamente, manter uma rotina diária de aproximadamente dois a três litros de água por dia seguramente garante muitos benefícios cardiovasculares, afastando o risco de eventos mais letais como um infarto do miocárdio e arritmia grave.
No entanto, além da ingesta de água, as bebidas isotônicas e sucos naturais podem ser muito úteis no processo de compensação metabólica. No caso das bebidas isotônicas, a concentração dos principais eletrólitos é muito semelhante à concentração de eletrólitos no sangue, favorecendo rápido equilíbrio químico e adequada reposição.
Considerando que as atividades físicas, principalmente sob temperaturas elevadas, constituem um dos fatores primordiais para estados de desidratação, cabe ao cardiologista, em conjunto com o educador físico, determinar e orientar uma adequada e ponderada rotina de treinos. Não é incomum que indivíduos comuns passem mal ou até infartem durante treinos de academia.
Lamentavelmente muitas pessoas abusam de seu limite físico e torna-se frequente, sobretudo nos finais de semana, o acúmulo de pessoas em parques e avenidas, correndo de forma desenfreada, exagerando nos exercícios, sem uma adequada estratégia de reposição hídrica e de eletrólitos.
Buscar auxílio e orientação de um cardiologista pode garantir a tranquilidade necessária para manter sistematicamente uma rotina saudável e regrada de atividades físicas. Exames cardiológicos para avaliação da pressão arterial e modulação da frequência cardíaca mediante distintos graus de intensidade do esforço devem ser priorizados antes de qualquer rotina de atividades. Por meio destes exames, o cardiologista será capaz de orientar quanto a intensidade, frequência e variação dos treinos e, de forma tácita, a suplementação hídrica e de eletrólitos poderá ser devidamente mensurada, evitando desidratação profusa e complicações cardiovasculares.