O Brasil só muda de verdade quando mudamos a forma como lidamos com o público, com a política e com o outro
Este artigo é a continuidade de um esforço para estimular um movimento baseado no exercício consciente da cidadania e na busca por mudanças tão desejadas em nosso país.
No primeiro texto, uma afirmação necessária: “O cidadão está acima do estado”.
No segundo, reconhecemos que “O ceticismo é compreensível, a desistência não“, enfrentando a crença de que mudanças estruturais não podem vir da sociedade, do cidadão comum.
Agora, propõe-se um passo adiante: agir. Porque já não basta entender a crise, é preciso enfrentá-la.
Já não é possível dizer que a crise que atravessamos é apenas institucional, econômica ou política. Ela é – acima de tudo – uma crise de cultura, de valores comuns, de confiança pública, de responsabilidade compartilhada.
Muitos cidadãos já despertaram e sabem que não faz sentido ficar esperando por um herói ou por uma solução mágica vinda do alto. Compreenderam que a reconstrução começa em outro lugar: na atitude cotidiana de cada um que se recusa a naturalizar a decadência.
A pergunta que se impõe, então, é: “O que posso fazer, na prática, para ajudar a revitalizar a cultura pública no país?”
Algumas sugestões iniciais, as quais se seguirão outras:
1. Nomeie o que é inaceitável – e diga em público
Nada degrada mais uma democracia do que o silêncio diante dos desmandos de hoje. Nomear abusos, desvios, capturas e farsas é um ato de sanidade cívica.
O que hoje se cala, amanhã se repete – com mais força e mais custo.
Por isso, diga (em público), escreva, aponte. Com firmeza e sem ódio.
2. Valorize o que funciona, mesmo que não seja do seu grupo
A política degenerou num jogo de torcidas. Se algo dá certo, mas vem do outro lado, desqualifica-se. Essa lógica impede que avancemos. Precisamos aprender e a admirar a excelência pública, onde quer que ela esteja.
Quando uma política pública funciona, quando um servidor age com ética, quando um projeto melhora a vida das pessoas, é dever do cidadão reconhecer, divulgar e proteger.
3. Exija impessoalidade onde você estiver
Você pode não estar no governo, mas está em algum lugar: empresa, associação, escola, condomínio, projeto, onde há também decisões, regras, escolhas, nas quais pode haver favorecimento, compadrios, exceções pessoais.
A cultura institucional começa onde se exige que as regras valham para todos.
Seja você o agente dessa prática, mesmo no ambiente informal. Isso muda o entorno e prepara o país.
4. Junte-se a outros cidadãos lúcidos
Indignação isolada vira frustração, mas quando as pessoas lúcidas se conectam com propósito, nasce algo diferente: lucidez organizada.
Através de grupos de discussão diversos, da leitura, de um núcleo de ação, de uma rede de articulação cívica, ainda que pequena – se for coerente e perseverante – será mais útil do que muitos “likes”
Democracia não vive só de votos, mas de comunidade de valor.
5. Espalhe espírito público – e não indiferença
Não é verdade que as pessoas não ligam para o Brasil, apesar de muitos se esconderem atrás do cinismo como mecanismo de defesa e, outros mais, terem sucumbido à lógica do “cada um por si”.
Você pode inverter isso no seu raio de ação, reconhecendo o mérito, incentivando o serviço público, premiando a responsabilidade, admirando o coletivo.
Sem oxigênio moral, nenhuma reforma se sustenta.
Finalmente, nenhuma mudança duradoura virá de decretos, de líderes carismáticos ou de reformas de gabinete.
O que sustenta a democracia é a ação cívica decidida, cotidiana, insistente, sustentada pela coragem de explicitar publicamente as mazelas existentes e, ao mesmo tempo, começar a viver – mesmo que em pequena escala – os valores que queremos, ainda não temos, mas podemos ter. Essa é a revolução possível.
Em outros momentos da história já aconteceu. Ela começa agora, por você, cidadão acima do Estado.
Conviccção acima da conveniência.










