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A era da mediocridade, o declínio de uma nação – por Foch Simão

Uma nação não se sustenta apenas sobre a firmeza de seu território, a glória de sua história ou a pompa de suas instituições. Esses são cenários importantes sim, mas secundários para a ação dos verdadeiros protagonistas da vida nacional; os seus cidadãos. O coração de um país pulsa no seu povo, e um povo é, em essência, a média de si mesmo. Da educação básica à produção científica, da ética cotidiana à criação artística, toda manifestação cultural ou intelectual de um país é fruto direto do esforço coletivo de seus habitantes. Esse processo é cumulativo; quanto maior a valorização da formação intelectual, do bem-estar social e da saúde pública, maior a capacidade da nação de produzir riqueza, não apenas material, mas sobretudo humana. O caso da Índia, que em poucas décadas alçou-se ao protagonismo tecnológico e científico global, é um exemplo eloquente dessa dinâmica.

Contudo, um dos mais insidiosos fatores que minam o progresso nacional é o que se convencionou chamar de “fuga de cérebros”, a evasão de jovens, pesquisadores e profissionais qualificados, que enxergam no exterior aquilo que seu país de origem não soube ou não quis oferecer.

O Brasil enfrenta hoje essa realidade de forma alarmante. Estima-se que, apenas nos últimos anos, cerca de sete mil cientistas tenham deixado o país em busca de oportunidades em centros mais estáveis e valorizadores do conhecimento, como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e França, segundo estimativas do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, veiculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Os motivos são claros: desvalorização profissional, cortes drásticos em verbas para pesquisa e inovação, instabilidade política, salários incompatíveis e, acima de tudo, a sensação constante de que o saber incomoda mais do que inspira.

Mas é preciso ir além dos sintomas e nomear as causas dessa tragédia geopolítica. A “fuga de cérebros” é consequência direta de uma mentalidade dominante egoísta, corrupta e patrimonialista, que há décadas sequestra a administração pública brasileira. Políticos descomprometidos com o bem comum, gestores inaptos e oligarquias rentistas transformaram o Estado em um instrumento de enriquecimento privado e de manutenção de privilégios, corroendo as bases de qualquer projeto nacional sério.

A mediocrização nacional não é um acidente, é um projeto. Um projeto silencioso, mas eficaz, que mina esperanças, rebaixa expectativas e empurra gerações inteiras para o conformismo ou para o exílio voluntário. E tudo isso serve a um propósito perverso; permitir que uma corja de pérfidos usufrua, com exclusividade, da vasta
riqueza do Brasil, enquanto condena a maioria da população ao atraso e à servidão moral.

O investimento em ciência, educação e inovação exige visão de longo prazo, algo incompatível com a lógica imediatista de poder que rege grande parte da elite dirigente brasileira. Essa elite, blindada por seus interesses, trata o conhecimento como ameaça e a meritocracia como discurso decorativo. O resultado é um país que afasta os melhores, despreza os competentes e estimula a mediocridade como método de reprodução do poder. Para notar esse fenômeno deletério, basta observar as indicações político-partidárias para os milhares de cargos
administrativos dos governos pertencentes aos entes federativos, onde se destacam as práticas patrimonialistas, nas quais a distinção entre o público e o privado é tênue ou inexistente.

Se o Brasil ainda deseja aspirar a um futuro digno, deverá começar por romper com esse ciclo. Não há desenvolvimento possível sem valorização do capital humano. E não há soberania verdadeira quando a inteligência nacional é exportada como excedente descartável.

Quando a excelência se torna exceção, o declínio se torna inevitável.

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