Confraternização em um cessar fogo
“Na guerra, a verdade é a primeira vítima”
Ésquilo
Na guerra eterna entre a organização palestina Hammas e o Estado de Israel, há muito mais que ódio visceral. Paradoxalmente, desenvolve-se neste conflito uma verdadeira simbiose.
Na biologia, simbiose é uma relação entre dois ou mais organismos de espécies diferentes, de forma mutuamente vantajosa, onde cada um contribui para a sobrevivência do outro e de si próprio.
O que parece ser positivo nas relações biológicas entre plantas, animais, fungos e bactérias, pode, no entanto, resultar em algo profundamente destrutivo, quando a simbiose diz respeito à sobrevivência de parasitas no ecossistema político.
A simbiose sinistra aplica-se integralmente ao conflito ocorrente na faixa de Gaza e Jerusalém, com efeitos diretos em todo o território de Israel e da autoridade palestina.
Não se trata de uma batalha de vida ou morte entre muçulmanos e judeus, palestinos e israelenses, ocidente e oriente, democracia e teocracia ou terroristas insanos e forças regulares. Nada disso. O que ocorre nesse conflito é um “abraço de afogado” de dois partidos políticos com raízes fincadas no terror. Organizações que simbioticamente buscam sobreviver ao juízo implacável do tempo, consumindo-se em conflitos belicos, à custa da verdade e de centenas de vítimas humanas inocentes.
Os dois “parasitas” têm nome, líderes e origem: Hamas e Likud.
O primeiro forma uma das mais radicais organizações político-religiosas sunitas no seio da comunidade árabe. O segundo é o partido político mais expressivo do populismo intolerante israelense.
O HAMAS
O HAMAS (termo que significa entusiasmo ou cordialidade em árabe) é também a sigla do Harakat al-Muqãwama al-Islãmiyya – Movimento de Resistência Islâmico.
O HAMAS é filho direto da Irmandade Muçulmana do Egito, seguindo os mesmos preceitos sunitas da Jihad (empenho em conquistar a fé perfeita), de lutar por um estado islâmico unificado e estabelecer a sharia (lei islâmica) como a lei do governo.
Quando ocorreu a primeira intifada dos palestinos contra o governo israelense, no final dos anos 80, nos territórios ocupados, vários xeques palestinos com expressão na Irmandade, liderados por Ahmed Yassin, formaram o Hamas, como um braço político do trabalho de beneficência religioso, realizando projetos de ação social e comunitária expressivos.
Parada militar do Hamas
Os projetos da Irmandade Muçulmana, nos anos 70 e 80, foram financiados direta e indiretamente pelos sauditas e sírios.
Sempre houve a notícia de ter, muito discretamente, o Mossad – o serviço secreto israelense, também apoiado o Hamas, pois a atividade sunita, de certa forma, neutralizava o radicalismo xiita, no foco das atividades de defesa geopolítica ocidentais durante a década de 80, até o final da guerra fria.
Após a queda do muro de Berlin, passou a interessar à direita israelense que o Hamas fustigasse o partido da Fatah, de Yasser Arafat.
Após os acordos de Oslo, esse interesse se tornou agudo, pois o alvo primordial do Hamas era a Autoridade Palestina (dominada pelo partido Fatah). Nas intifadas, de fato, o Hamas sempre hostilizava, primeiro, as forças do Fatah e da autoridade palestina, depois, as forças de Israel.
O HAMAS assumiu estrutura partidária no seu segundo ano de formação, quando tomou rumo oposto ao partido da FATAH, pregando a criação de um Estado Palestino Islâmico sobre os escombros do Estado de Israel – eliminando possibilidade de convivência pacífica pregada pela Autoridade Palestina (dominada pelo FATAH).
A força do HAMAS sempre esteve, não na palavra de seus líderes, mas na sua raiz beneficente e social: o partido criou escolas, hospitais, asilos, bibliotecas e vários outros serviços de assistência à miserável população dos territórios ocupados. Sobre essa rede social, montou aparelhos nos quais arregimenta quadros para sua “guerra santa” contra a “ocupação da palestina pela entidade sionista”.
Entre meados dos anos 90 e início deste século, o Hamas radicalizou seu discurso e sua atividade, saindo “do controle” das forças de inteligência ocidentais, israelenses e sauditas – primeiro por conta da derrocada do Iraque na geopolítica do oriente médio e isolamento do sunita Saddam Hussein (Guerra do Golfo em 1991), em seguida, por conta da polarização generalizada entre “Islã” e “Ocidente”, a partir dos atentados da Al Qaeda e o disparo da Guerra Contra o Terror norte americana.
O Hamas passou a programar ataques suicidas a bomba, sistemáticos, em Israel e entrou na alça de mira dos norte-americanos e sua guerra ao terror.
Após ser impiedosamente atacado e sofrer perdas significativas de lideranças por conta da eliminação seletiva dos serviços de inteligência israelense e americano, o Hamas abandonou a prática dos atentados suicidas a bomba, em 2006, dedicando-se a lançar mísseis sobre a cabeça dos cidadãos de Israel.
O lançamento de mísseis sobre o território israelense constitui pura provocação – revelou a perda de qualidade estratégica do grupo, e a substituição da sofisticada periculosidade ideológica por uma rasteira sociopatia religiosa e fundamentalista, reinante entre seus líderes.
A selvageria rancorosa caiu no gosto da esquerda globalista, sempre atenta aos vitimistas de plantão, configurando um conflito de natureza híbrida que já envolve a geopolítica iraniana e russa… bem como a rota da papoula mantida pelo narcotráfico oriental, em direção ao ocidente.
Destruição cirúrgica em Gaza – escudos humanos e indiferença
Caindo nas graças da população palestina, após intensa ação repressiva do governo israelense contra a Autoridade Palestina e o Fatah, o Hamas chegou a assumir posição vantajosa no governo palestino. Porém, após reação do Fatah, foi praticamente empurrado para o território de Gaza (que tratou de ocupar militarmente, expulsando de lá as forças da Fatah e da Autoridade Palestina).
No governo da Faixa de Gaza, o Hamas demonstrou ser um desastre.
A perda de líderes mais capazes, por conta da eliminação seletiva aplicada por Israel na última década, o congelamento do envio de verbas para a região de Gaza, determinada pelos governos da autoridade palestina, norte americano e egípcio, a redução do apoio da Arábia Saudita (sunita) ao movimento, a interrupção dos repasses fiscais efetuada anteriormente por Israel (por conta da arrecadação junto a cidadãos e atividades comerciais palestinas no território) e, por fim, a destruição da estrutura da Irmandade Muçulmana egípcia, enfraqueceram sensivelmente o Hamas, reduzindo fortemente sua capacidade de articulação e seu desempenho militar.
O desgaste econômico e político do grupo é compensado, no entanto, com forte opressão religiosa de seus xeques e intensa repressão militar, imposta aos ocupantes da Faixa de Gaza, seguida sempre de uma massiva propaganda antissemita.
HAMAS, ISIS E HEZBOLLAH
O “inimigo israelense” tem efeito enzimático. Provoca a catarse afirmativa do radicalismo religioso e mantém o Hamas na direção do território de Gaza, às custas do sangue palestino (e israelense).
Mas, há problemas internos no campo muçulmano. O Hamas desenvolvia um outro relacionamento simbiótico e bastante complexo, com um grupo palestino aliado contra Israel, porém rival religioso inconciliável – o grupo xiita Hezbollah.
Ambos, Hamas e Hezbollah, contavam com o apoio maciço do Irã, que afastou-se do Hamas ao perceber o atoleiro sunita por este gerado a partir da guerra civil na Síria.
De fato, a pretexto de combater Bashar Al Assad, o Presidente Sírio, o Hamas forneceu apoio militar e tecnologia aos grupos radicais sunitas empenhados em restabelecer um califado sob um Estado Islâmico. O extremismo bárbaro desse grupamento – conhecido como ISIS ou EI, e sua sanha expansionista, tornaram difícil a manutenção de uma aliança com o Hezbollah, cujos quadros formam a linha de defesa de Bashar Al Assad, na Síria.
A divisão parece hoje insuperável. Porém o Hamas terá que lidar com seus pupilos do Estado Islâmico e manter alguma relação com o Hezbollah, em sua luta contra Israel.
O LIKUD
Likud significa união em hebraico. A apropriação do termo por um partido político ocorreu em 1973, pelas mãos do Ministro Menachem Begin, direitista radical e líder do partido HERUT, que formou uma coligação conservadora com os movimentos e partidos radicais ortodoxos, derrubando definitivamente a hegemonia da esquerda formada pelo Partido Trabalhista e demais partidos liberais e laicos de Israel.
Likud assume o Poder em Israel, para não mais sair, em 1977
A partir dessa hegemonia do Likud, Israel perdeu, progressivamente, o caráter laico do seu Estado, degradou seu serviço de inteligência, desvirtuou sua doutrina militar, destruiu sua estrutura e forma de assentamento humano e convívio social (os sistemas de Kibutz), enterrou sua habilíssima política exterior e deteriorou sua melhor escola de líderes políticos (Haganá – Exército – Partido Trabalhista).
Hoje, sob o ranço populista de radicais intolerantes, Israel padece economicamente – cada vez mais dependente do apoio econômico norte-americano.
Há de se preservar, aqui, e sempre, a fantástica capacidade de reinvenção tecnológica, o cultivo à cultura e à educação e o vigor da sociedade israelense – que sempre sobreviverá à crise.
O país, no entanto, perde-se em mobilizações “patrióticas”, programas econômicos confusos e uma política de ocupação territorial demagógica e cara, que privilegia o público judeu ortodoxo.
Programas de apoio à multiplicação de filhos, apoio financeiro a colonos que se dedicam a “defender” colônias nos territórios da Cisjordânia ocupada (liberando-os de trabalhar…), de restrições ao reconhecimento religioso sobre quem efetivamente pode ser considerado “um judeu” (etnografia teocrática impensável em um estado democrático), pululam sob o governo inspirado pelo Likud.
Os israelenses vêem rios de dinheiro serem despejados para a especulação imobiliária cristalizada nas cidades e protagonizada nos empreendimentos de ocupação.
Como Estado Nacional, é fato que Israel está atolado numa política de estímulo ao conflito territorial e impulsionado a buscar em cada crise um impasse militar.
A questão é que esse estado de coisas não é circunstancial, está na própria raiz da formação dos quadros que hoje governam Israel.
Na raiz histórica do Likud está o Herut (partido da Liberdade) e sua vinculação com o movimento paramilitar – quase fascistóide – Irgun, ambos ligados ao Sionismo Revisionista.
SEPARANDO O JOIO DO TRIGO EM ISRAEL
Os sionistas revisionistas formaram um movimento de afirmação etnocentrista, que foi historicamente essencial para que se procedesse à reestruturação da nação israelita e reocupação do território de Israel. Eles defendiam a criação de um estado judeu nos dois lados do Rio Jordão, ou seja, um estado que incluiria a atual Cisjordânia e quase toda a Jordânia.
Os revisionistas organizaram o movimento Lehi a partir de 1941, que foi decisivo para o enfrentamento à Coroa Britânica – a grande vilã, na origem de todo esse conflito geopolítico. Reafirmaram o direito, inserto nas escrituras, de reivindicar o Estado de Israel no coração da Palestina.
A corrente mais inteligente, racional e avançada, do Revisionismo Sionista, defendia a assunção de um Estado israelense marcadamente judeu, nos moldes de uma democracia constitucional. Sempre admitiu administrar a convivência com árabes sem jamais descurar da defesa intransigente dos interesses e da identidade de Israel. O braço militar dessa corrente, o Haganá, constitui a estrutura de inteligência (Mossad) e o estado maior do exército israelense, desde 1948.
O Partido Trabalhista de Israel é fruto dessa tendência. Nele despontaram estrelas de primeira grandeza, como Ben Gurion, Golda Meir, Shimon Perez, Moshe Dayan, Ehud Barak e Itzhak Rabin. Nessas figuras se reflete a grandeza da causa do Estado de Israel.
Itzhak Rabin – diferença abissal com os líderes de hoje em Israel
Ninguém duvide do heroísmo, determinação, coragem e fé, esteios da nação israelense. Essa determinação foi forjada milenarmente, na luta contra inimigos melhor armados e em número superior de efetivos.
Por décadas, Israel lutou em situação desvantajosa, acreditando na astúcia estratégica de David contra Golias. Essa situação perdurou até o estabelecimento de um sistema mais equânime, no final dos anos 60, no século passado e, hoje, francamente superior, com capacidade de dissuasão – para a proteção da soberania.
Todo esse esforço teve seu diferencial na inteligência. Inteligência essa que vem sendo substituída pela arrogãncia e força bruta, embasada por uma postura política que não tem como se ombrear com as figuras históricas acima citadas.
O populismo globalista hoje afeta o Partido Trabalhista, a esquerda e suas preocupações identitárias enfraquecem a unidade soberana da sociedade, da mesma forma que o populismo distorce a direita, perdida na administração dos interesses da ortodoxia religiosa e do expansionismo territorial.
LIKUD: ORIGEM RUIM, DESTINO RUIM
A corrente mais radical do movimento revisionista, de posição protofascista, etnocentrista e teocrática, originou a organização ultranacionalista e paramilitar Irgun, favorável à implantação de assentamentos para além do Rio Jordão e exclusão dos árabes nos territórios ocupados.
O Irgun, nos anos 40, produziu atentados terroristas que causaram baixas civis e militares na palestina. Seu alvo era a autoridade britânica na região.
Os métodos e ideário do Irgun, no entanto, nunca foram admitidos pelos judeus democratas. A elite judaica não concebia um moderno Estado Israelense comandado pelo sucessor político dessa organização terrorista, o Herut.
Em 1948, ano da campanha internacional pela estruturação do Estado de Israel, o New York Times publicou “nota ao editor” assinada por 24 expoentes judeus, condenando Menachem Begin, o Irgun e o partido Herut, que ele recém-fundara, durante uma visita de Begin a Nova York.
A carta, comparando as correntes do sionismo revisionista aos “partidos nazistas e fascistas”, foi assinada por Albert Einstein, Hannah Arendt, Sidney Hook e outros ícones.
A nota publicada no New York Times, é reveladora e premonitória do que viria a ocorrer com Israel, caso o partido surgido do Irgun, o Herut (cujo descendente direto é o Likud), assumissem o Poder:
“Entre os mais perturbadores fenômenos políticos dos nossos tempos está a emersão, no recentemente criado Estado de Israel, do “Partido da Liberdade” (Herut), um partido político muito semelhante em sua forma de organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazistas e fascistas. Ele foi formado sem sociedade e seguindo o antigo Irgun Zvai Leumi, uma organização terrorista, direitista e chauvinista na Palestina.
A atual visita de Menachem Begin, líder desse partido, aos Estados Unidos está obviamente calculada para dar a impressão de apoio americano ao seu partido nas vindouras eleições de Israel, e para cimentar laços políticos com os elementos conservadores sionistas nos Estados Unidos. Vários americanos de reputação nacional emprestaram seus nomes para dar-lhe boas vindas.
É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo em todo o mundo, se corretamente informados sobre os registros políticos e perspectivas de Begin, possam pôr seus nomes e dar seu apoio ao movimento que ele representa.”
Menachem Begin assumiu a chancelaria israelense, após sucessivas crises no seio do partido Trabalhista, em meio a um processo de radicalização dos conflitos militares e terroristas nos anos 70. Begin articulou inúmeros programas que resultaram numa articulação hegemônica no Knesset – o parlamento israelense.
Einstein: uma denúncia premonitória do mal representado por Begin
Formada a coalização Likud, o destino de Israel passou a ser traçado nos moldes do ódio, da discriminação e da destruição sistemática de tudo o que poderia representar uma democracia pluralista, étnico-tolerante, socialmente progressista e laica, como a que caracterizara o Estado israelita nos anos 50 e 60.
Begin surpreendeu o mundo ao assinar o Acordo de Camp David, em 1978. No entanto, é bom que se diga, isso só ocorreu por conta da coragem, da grandeza desabrida e fantástica iniciativa de Anwar El Sadat, o presidente egípcio.
O espírito de maldição se fez presente a partir de então.
Menachem Begin foi atacado pelo acaso sinistro que passou a auxiliar o Likud nos momentos em que se vislumbra uma luz no conflito de forças do oriente médio. Duramente criticado por seus próprios seguidores, foi acometido de rara doença, perdeu a esposa, e se afastou da vida pública.
A paz com o Egito de Anwar Sadat rendeu a morte do presidente egípcio. A Menachem Begin, rendeu o ostracismo e ao Presidente Carter, dos EUA, a derrota eleitoral.
Como pano de fundo, a estimular a mudança de rumos na política israelense, a radicalização do ambiente internacional advindo do empoderamento xiita com a Revolução iraniana.
O DURO APRENDIZADO DE ARIEL SHARON
Se havia algum ser dotado de inteligência e iluminação no Likud, embora notadamente radical e sanguíneo, esse foi o General Sharon.
Sharon era um brilhante oficial paraquedista e herói da Guerra do Yom Kippur de 1973.
Como ministro da defesa no governo do Likud, no entanto, foi responsável pelo massacre de civis palestinos, executado pelos falangistas cristãos libaneses com apoio das forças de ocupação israelenses nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, durante a Guerra do Líbano de 1982. A pedido dos falangistas, as forças israelenses cercaram Sabra e Shatila e bloquearam as saídas dos campos para impedir a saída dos moradores e facilitar o massacre.
A Comissão Kahan, criada pelo governo israelense para apurar o episódio, recomendou a remoção de Sharon como ministro da defesa. Sharon chegou a sofrer processo por crime de guerra em jurisdição universal instituída pela justiça belga, sem no entanto ser julgado.
Sharon, ao contrário do soturno e rancoroso Begin e do dissimulado Netanyahu, era franco e explosivo. Suas qualidades pessoais, impressionantes para um gestor numa área tão complexa como o oriente médio, conferiram credibilidade à sua liderança nos momentos difíceis mas, também, reforçaram a desastrosa e deletéria intervenção do Likud no Estado de Israel .
Sharon foi um líder contraditório. Suas idiossincrasias têm relação direta com a situação atual na Faixa de Gaza.
Ariel Sharon – Militar Brilhante, político radical, líder contraditório
Na década de 1970, 1980 e 1990, Sharon lutou para que fossem construídas colônias israelenses na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. No entanto, como primeiro-ministro, entre 2004-2005 comandou com mão de ferro a retirada unilateral de Israel da Faixa de Gaza, alegando razões de segurança.
Essa retirada forçada de colonos da Faixa de Gaza foi precedida de forte ataque à autoridade Palestina na Cisjordânia, inclusive com a destruição pelos tanques israelenses da sede do governo da Autoridade Palestina.
Esse “apoio” de Sharon à causa dos radicais de todos os matizes, permitiu, justamente, que o Hamas conquistasse a chancelaria Palestina, reforçou a liderança de Ismail Haniyeh, facilitou o entendimento do sunita Hamas com o xiita Hezbollah e abriu caminho para que o Hamas ocupasse militarmente a Faixa de Gaza.
Em 2008, com Sharon já em estado vegetativo devido à um derrame cerebral, as Forças de Defesa de Israel realizariam um devastador ataque à Faixa de Gaza— a Operação Chumbo Fundido, bastante similar ao atual conflito.
A ação disparatada de Sharon, no entanto, o fez deixar o Likud, em novembro de 2005, para formar um novo partido, o Kadima.
O Likud, mais uma vez, foi salvo pelo acaso sinistro (tal qual ocorreu em Camp David, Oslo e com a retirada dos assentamentos judeus-ortodoxos na Cisjordânia). Sharon era o virtual vencedor das eleições, já estava planejando a desocupação unilateral em larga escala da Cisjordânia e, no entanto, sofreu um derrame em 4 de janeiro de 2006. O grande líder da direita israelense ficou em estado vegetativo até falecer.
SIMBIOSE SINISTRA
O Likud (tal como o Hamas), administra hoje um Estado em crise financeira.
Israel já ultrapassou 100 bilhões de dólares de dívida externa, suporta déficit permanente nas suas contas públicas, importa mais do que exporta, convive com “pibinhos” de 2% em média, uma porcentagem expressiva da população (mais de 20%), vive abaixo do nível da pobreza e sua economia não chega a estar entre as 50 maiores do mundo.
Shimon Peres e Mahmoud Abbas líderes diferenciados
Encontro com o Papa não foi em vão
O descontentamento da população judia com os rumos da economia e da política empreendidos pela direita israelense só não é maior que o da imensa maioria de judeus no mundo todo, irritados com o volume estapafúrdio de leis votadas demagogicamente, em prol dos ortodoxos, criando sistemas cada vez mais seletivos para a assunção de pessoas à religião judaica, beneficiamento de assentamentos na Cisjordânia (que, decididamente, não mais deveriam ali estar), construção de um muro físico da vergonha e distribuição de obras de saneamento e abastecimento de acordo com princípios etnográficos, num sistema que beira o apartheid.
Não fossem os estímulos constantes à GUERRA, mantidos ás custas de sirenes de alerta, morte de jovens israelenses e palestinos – todos reféns do terror patrocinado pelos dois partidos – LIKUD e HAMAS, estas organizações já estariam contando as horas para desaparecerem, pelo menos por um tempo, da paisagem política da Autoridade Palestina e do Estado de Israel.
O paciente e inteligente Presidente Abbas, da Autoridade Palestina, já estava articulando um processo de reabsorção e apaziguamento na região de Gaza, permitindo uma integração do território à jurisdição de seu governo. No entanto, foi desautorizado e manietado por um arrogante e desastrado ato do chanceler do Likud, Benjamin Netanyahu – seja no complexo ataque à faixa de gaza tempos atrás, seja na quebra dos procedimentos para se tentar um acordo de paz, estabelecidos em Oslo.
Age, Netanyahu, desesperado por arregimentar votos às custas da manipulação da consciência israelense diante de conflitos consumados.
O exemplo clássico deu-se no conflito de Gaza.
Shimon Perez, como Presidente de Israel, foi com Abbas rezar pela paz e a conciliação, em Roma, na companhia do Papa Francisco, antes que os conflitos se acirrassem. O ato não foi em vão. Representou justamente a luz, o oposto das duas forças políticas em conflito, Hamas e Likud. Estes dois partidos, repita-se, mantém-se no poder às custas do sangue de palestinos e israelenses.
No entanto, senhor do poder em Israel, Netanyahu ordenou o ataque a Gaza, reforçando a consolidação, por via transversa, do poder do Hamas na região – produzindo vítimas como quem transfere verbas para reforçar a política pública do confronto.
Gaza, portanto, representou a face sombria de UMA SIMBIOSE. Um crime, perpetrado por entidades políticas que aparelharam o poder num Estado Nacional e num território ocupado.
Os conflitos que começam a generalizar-se, de ataques de jovens palestinos a cidadãos israelenses, da mesma forma como não ocorreu o contrário, com uma ou outra exceção – sempre com a imprensa esquerdista aplicando a lente de aumento sobre o fato, generaliza o clima de terror e seguem um mesmo raciocínio.
É necessário denunciar a simbiose. Revelada fosse a relação de causa e efeito, o núcleo deste grave conflito não se confundiria mais com as paixões, ressentimentos religiosos e nacionais, manipulados pelos dois partidos até o momento – até pelo fato de ambos serem frutos exatamente dessa manipulação rancorosa.
Desnudada a manipulação, poderíamos todos dissipar a cortina de fumaça proselitista, que favorece intervenções diplomáticas medíocres (como a brasileira), e posicionamentos decepcionantes (como têm sido os esforços norte-americanos). Também poderíamos dissipar dissimulações sectárias (de ortodoxos judeus e radicais muçulmanos), e toneladas de bobagens ditas por populistas hidrofóbicos, “analistas” do óbvio entrincheirados na grande mídia, esquerdistas radicais e libertários de galinheiro, mundo afora.
Netanyahu é um político de dupla-face. Aprende com o tempo e ganha habilidade a cada processo político em que se envolve. Demonstra compromisso com a causa de Israel. No entanto, é fruto da simbiose sinistra e refém da perpetuação do conflito.
A determinação Republicana, no comando do governo norte americano, se alterna com a tibieza protobelicista dos democratas, quando assumem o poder. Essa a razão externa da sobrevivência política de Netanyahu – visto como escudo contra essas alterações de humor na política do grande protetor geopolítico do corajoso Estado de Israel.
Fosse reduzida essa influência nefasta da política democrata norte americana e superada a simbiose sinistra dos populistas oriundos do Likud com os loucos do Hammas, o mundo poderia melhor se dedicar à luta contra a barbárie religiosa que vitimiza cidadãos do oriente médio e Africa, e que mata milhares de budistas, xintoístas, judeus, cristãos e muçulmanos, para muito além dos conflitos em Gaza, Cisjordânia e Israel.