Coincidentemente – coincidência existe? Ou apenas sintonia? – a Cool50s, página do Instagram, que brilhantemente aborda os desafios da maturidade, postou um vídeo da grande dama do teatro, Maria Alice Vergueiro, relatando um episódio de perda de memória.Digo coincidentemente porque já estava em processo de reflexão e iniciando a minha escrita sobre este delicado assunto.
A grande atriz faleceu aos 85 anos, em 2020. Este vídeo nos conduz a um questionamento que preocupa e assusta as famílias, atualmente, seja pelo desconhecimento acerca das causas que impulsionam o início desta enfermidade, seja pelos desafios que inevitavelmente surgem na relação entre os envolvidos – doente e familiares próximos.
Atualmente? Por incrível que pareça, não. Apesar de aparentemente atual, surpreendeu-me o conhecimento de que a notícia do primeiro caso desta tão indesejada doença, o Alzheimer, ocorreu no início do século passado, em novembro de 1906, durante um Congresso científico na Alemanha. O caso foi apresentado pelo psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer, como demência ou perda de funções cognitivas. Sua conclusão foi de que a perda da memória, de orientação, de atenção e as dificuldades com a linguagem, sintomas iniciais deste tipo de demência, são decorrentes da morte de células cerebrais.O que mais inquieta é que, apesar de existir há mais de um século, não tem cura. Existem, apenas, tratamentos que podem reduzir a velocidade da progressão da doença.
Seria muito mais fácil se fosse possível um diagnóstico precoce e se houvesse um padrão de sintomas. Mas não, além dos sintomas se assemelharem a outros tipos de doenças, nenhum caso é igual ao outro. Depende de cada pessoa. Ela está intrinsecamente ligada às características pessoais do indivíduo em face das suas diferentes reações durante sua experiência nesta existência.
Primeiro, ocorre uma perda da função cerebral, afetando a memória e a fala. Posteriormente, podem surgir alucinações, comportamentos repetitivos ou obsessivos, sono conturbado, incontinência. Os pacientes muitas vezes podem se esquecer de fatos que aconteceram há muito pouco tempo, o que ocasiona oscilações de humor, em face da frustração.
O mais triste é presenciar a progressão da doença para um estágio mais severo, havendo confusão mental e estágios de alucinações frequentes, inclusive, com agressividade. Neste estágio, surgem outros sintomas como dificuldades de deglutição, de movimentação, perda de apetite e de peso, maior chance de desenvolver infecções e perda completa da memória.
Com certeza, analisando o processo de envelhecimento, sabemos que nosso cérebro sofre alterações e podemos ocasionalmente nos deparar com dificuldades para lembrar de detalhes do cotidiano, como datas de aniversário, nome das pessoas, o seu próprio nome, como relata a famosa atriz, Maria Alice Vergueiro. Isto independe de estarmos ou não frente ao início do Alzheimer.
Realmente, trata-se de uma questão à qual precisamos estar atentos, pois o processo normal de envelhecimento, em geral, pode causar confusão e dificultar o diagnóstico precoce desta doença. O início do Alzheimer pode ser camuflado e confundido com “coisas da idade”. Quem não passa ou passou por lapsos de esquecimento? Podemos nos prevenir contra esta temida enfermidade? Sim. Segundo os especialistas, pasmem, o índice de Alzheimer é maior entre as mulheres! Afirmam que talvez seja pelo fato da nossa expectativa de vida ser maior.Contudo, essencial sabermos se é possível a prevenção desta doença tão indesejada. Importante que, seja para prevenir, como também, para o tratamento, haja atenção e cuidemos da nossa
saúde física e mental. Pequenas atitudes podem afastar sua incidência, como praticar atividade física, ter uma alimentação balanceada e rica em antioxidantes, buscar a moderação do consumo de álcool, não fumar – este terrível vilão, e lembrar-se da importância deatividades intelectuais, como a leitura, testes e exercícios mentais,como palavra cruzada. Tão importante quanto as atitudes anteriores, imprescindível a manutenção de um convívio familiar e social saudável, o que equilibra a mente, o coração e o espírito.
Apesar da causa real desta doença degenerativa ser, ainda, desconhecida, acredita-se que seja geneticamente determinada. Mesmo assim, a preocupação domina a mente das pessoas, em qualquer parte do mundo. Uma vez diagnosticada, a crença é de que não existe sofrimento, afirmando-se que o paciente com Alzheimer não sofre e quem sofre são os familiares, principalmente na fase mais severa, quando vem a sensação de que estão frente ao ser amado inanimado. Esta afirmativa merece ser analisada. Desde a fase inicial, o paciente pode desenvolver depressão e a partir daí, ficar ansioso, irritado, frustrado e acometido pelo medo, o que se agrava na fase mais avançada quando, além da perda da memória, possivelmente será acometido por alucinações,delírios ou transtornos de personalidade.
Segundo publicação do estudo coordenado por Edmarie GuzmánVélez, na revista Cognitive and Behavioral Neurology, em 2014, os pacientes submetidos a esta doença podem sentir emoções, mesmo que, por causa dela tenham se esquecido do motivo que as causou. Eles sustentam as emoções vivas, o que leva à necessidade dos parentes e familiares buscarem a manutenção do equilíbrio de suas emoções. Elas continuam vivas. Conviver com uma pessoa com Alzheimer, é, sem dúvida, um desafio para todas as pessoas próximas.
O importante é ter consciência de que não se trata de um ser vegetativo, mas uma pessoa dotada de emoções profundas. O equilíbrio do seu estado emocional será potencializado com melhoria do seu bem-estar, tanto dele, paciente, como de toda a família. Os familiares se entristecem, com certeza, se não há interatividade, principalmente se não há reconhecimento de sua pessoa, mas, um paciente que consiga se manter em equilíbrio, bem cuidado, bem alimentado, bem atendido em suas necessidades, com amor, carinho e atenção, com certeza, terá melhor qualidade de vida.
Se lhe for proporcionado momentos de alegria, amor e felicidade, mesmo que em lapsos momentâneos, este sentimento vivido permanecerá com ele, da mesma forma que experiências de tensão, de tristeza, também se manterão, mesmo que não entenda
a causa, nem se lembre do ocorrido. Isto influenciará no sono, no apetite, nas reações emocionais. Sim, o paciente pode ter uma boa qualidade de vida, com atenção plena às suas reações e, muitas vezes, os sintomas podem ser amenizados com algumas alterações simples no cotidiano. Seu bem-estar pode ser potencializado com a presença frequente dos familiares e amigos, com interações sociais, exercícios, música ou dança, ou atividades que sempre haja apreciado no decorrer de sua vida.
Parece fácil falar? Pode ser, mas estas considerações merecem ser refletidas e adequadas a cada situação, mais ou menos grave. O mais desafiante é concluirmos que esta fatalidade não é causada pelo envelhecimento e isto precisa serdesmistificado. Assim, se não conseguirmos driblar esta doença, só nos resta torcer para que tenhamos construído uma egrégora de amor, solidariedade e compaixão com nossos familiares e recebamos todo o cuidado amoroso que esta assustadora enfermidade requer.