Sol ardendo, na aridez. Arte aqui em São Paulo, além de viver e sobreviver, são ovos estalados no asfalto da avenida do dinheiro. A cidade ferve e a primavera grita, muito mais quente do que o normal.
Não se fala de outra coisa, não se sente outra coisa. O calor. Claro, o calor fora do normal, que calor em si é bom demais. Para quem pode e na hora que pode. Bom para quem tem sombra, água fresca e a cabeça tranquila, que cabeça quente piora muito as sensações de aperto, suor, a dor de cabeça e a respiração ofegante do correr atrás.
Uma praia, ondinhas, coco gelado, cervejinha, sorvete, essas coisas que devem estar permeando os sonhos de muita gente, me incluo. Já despertei quando me sentia dentro do mar, nua, chapinhando na praia de Tambaba, Paraíba, entre as pedras, brincando com argila natural, vendo peixinhos coloridos, coisas de um sonho de consumo que não morro antes de repetir de verdade.
Enquanto isso não tem condições vou continuando na briga, luta, #arvorenãoélixeira.
Árvore não é lixeira, pelo amor de Deus! Nesta cidade grande as pessoas são loucas, não dão valor ao que as árvores podem nos facilitar em momentos como esse, e socam lixo de todos os tamanhos e tipos aos seus pés, como se fossem elas algum tipo de marco para que os profissionais de limpeza localizem para recolhê-los.
Fora o cupim, as podas malfeitas, as pragas não combatidas, os assassinatos lentos, as árvores vão tombando e às vezes matando como se descontassem em alguns seus sofrimentos. Quanta encrenca já arrumei para explicar algo tão simples. Mas não adianta, e estou falando de áreas nobres da cidade que percorro.
A cidade mais rica do país, mas que não tem infraestrutura adequada, água para todos, cidade que ainda exibe rios gigantescos poluídos e esgotos a céu aberto, em dias de calor tem outra característica: cheiros, e muito poucos bons; na verdade, bons só em ruas de comércio requintado, vindos dos perfumes exalados das lojas numa concorrência doida, e às vezes até enjoativos de tão fortes.
Algumas marcas até vendem seus cheiros em sprays. No geral o que sentimos mesmo é o cheiro tenebroso vindo dos bueiros sempre entupidos, do xixi e fezes dos milhares que vivem nas ruas, e na falta de banheiros públicos, aliás também de muita gente que se alivia atrás de bancas, muros e… árvores!
Leques já começam a ser abanados, e ventarolas de papel, qualquer coisa que faça ventinho e possa ser balançada junto ao rosto. Os mini ventiladores movidos a pilha já devem estar bombando nas ruas do comércio popular.
Outro problema: amado por uns, odiado por outros, os aparelhos de ar condicionado sempre mal regulados que encontramos no entra e sai de um dia nas ruas. Não há saúde que aguente, inclusive porque muitas vezes são eles focos de muitas bactérias, além da geleira e do choque térmico, como se não bastasse a já estrambótica amplitude térmica, em 24 horas, que já beira até 20 graus nesse mundo com o aquecimento global batendo na porta – ou melhor, entrando fervendo sem pedir.
E o menino? O El Niño? Já o chamam de Super El Niño. Claro que já ouviu falar que pode ser ele causando essa onda atual de calor. Mas ele nem se instalou ainda, imagine! Apenas se aproximando. Esse doido que pode se estender até o verão do ano que vem chega para bagunçar, molhar mais, secar outros, esquentar as panelas dos oceanos.
Chapeuzinho, óculos escuros, filtro solar, alguma sombrinha, água, água. Abaixo gravatas, ternos, meias e muito mais!
Como já disse, calor é bom – sem dúvidas, melhor que o frio para o qual esse nosso tropical país não é nem um pouco preparado. Mas nesse momento e pelo que sabemos só piorando daqui em diante, precisa ser observado especialmente pelas ciências, todas, inclusive as que lidam com comportamento humano. Como registrei no artigo passado “Tá todo mundo louco. E não é ôba” imagine só o que cabeças quentes podem fazer acontecer por aí.