O texto abaixo apareceu nas redes sociais, recentemente, e é digno de ser repercutido, também neste espaço de cidadania e cultura refinadas.
Trata-se de um novo diálogo entre Joãozinho e seu professor.
“Professor, o que é mais importante, o Povo ou a Constituição ?
– Ora, o povo! A constituição é apenas a materialização da vontade do povo.
E quem escreve a constituição ?
– Os representantes do povo, Joãozinho.
E quem cuida da constituição ?
– A mais alta corte do poder judiciário.
O povo pode mudar a constituição ?
– Diretamente não, somente por meio dos seus representantes.
E se esses representantes não a quiserem mudar ?
– Aí não muda.
A mais alta corte pode mudar a constituição ?
– Não, só pode cumpri-la.
E a cumpre ?
– Ultimamente, não.
E o que deve ser feito, nesse caso ?
– Bem, os representantes podem afastar as pessoas dessa mais alta corte.
E afastam ?
– Não.
Mas então o que pode ser feito, já que os representantes não os afastam ?
– O povo pode mudar os representantes, nas eleições seguintes.
Todos os representantes podem ser mudados ?
– Podem, mas isso nunca acontece, pois dos mais de 500 existentes, apenas 10% chegam lá pelo voto.
Como assim ?
– A lei eleitoral impõe a Proporcionalidade como um preceito fundamental, o que distorce a vontade popular.
E quem fez essa lei ?
– Eles mesmos, os representantes do povo, como um artifício que favorece se perpetuarem nos cargos.
E por que eles não querem depender dos votos ?
– Porque o povo já percebeu que na verdade eles não representam os eleitores.
Como funciona essa “proporcionalidade” ?
– Eles arranjam alguém famoso para concorrer, um jogador de futebol ou humorista por exemplo, e essa pessoa consegue tantos votos que “puxa” os demais.
Com 10% de famosos eleitos e 90% de “puxados”, a maioria vai trabalhar para quem?
– Certamente a prioridade dessa maioria não será os interesses do povo.
E quem fixa os salários dos representantes ?
– Eles mesmos.
E os seus aumentos e penduricalhos ?
– Eles também.
Que outras vantagens eles criam para uso próprio ?
– Para as eleições, milhões dos fundos partidário e eleitoral, e durante os mandatos, milhões em verbas “de gabinete”, emendas orçamentárias para seus currais eleitorais, propinas de todos os tipos e tamanhos, tratamentos de saúde, inclusive estéticos, para todos os familiares, hotelaria e transportes gratuitos, assessores às pencas e aposentadoria privilegiada.
Professor, já que o povo não consegue afastá-los, pode ao menos reclamar desses abusos na mais alta corte do judiciário ?
– Pode, mas não adianta, pois essa corte vive num luxo e abusos ainda maiores do que os dos representantes, e os protegem para que tudo continue como está. Aliás, os membros dessa corte são sabatinados e aprovados pelos mesmos representantes, trocando favores e um não implicando com o outro.
E o presidente da república, a maior autoridade, pode tirar essas pessoas da mais alta corte ?
– Esse não pode tirar ninguém, e pode ser incriminado e tirado pelos outros, com motivos ou até imotivadamente.
Professor, explica: se os representantes do povo não representam o povo, a mais alta corte é conivente e o presidente pode se tornar refém de ambos, não conseguindo governar, como reformar o país ou pelo menos fazer justiça social ?
– Não há o que fazer, Joãozinho.
Como assim, professor ? Tem que existir algo a ser feito !
– Não há. Temos que nos conformar, obedecer às leis, sejam elas quais forem, pagar todos os impostos, que sustentam toda essa bandalheira, e de preferência ficar quietos.
Ficar quietos ?
– Sim, para evitar sermos presos, difamados e espoliados ainda mais.
E o comunismo, professor ? Não seria a solução para acabar com todos esses males ?
– Você ainda não percebeu, Joãozinho. Já estamos no comunismo, onde poucos trabalham para sustentar os demais e pagam os maiores impostos do mundo. A diferença é que em países pequenos e com poucas riquezas naturais, o povo rapidamente se torna miserável. Aqui ainda temos reservas e resistências, por mais algum tempo.
Mas e a disputa entre partidos e políticos da esquerda com os da direita ?
– Dentro das casas do poder, Joãozinho, não existe nem direita nem esquerda. Os dois grupos vivem apenas fingindo brigas e disputas. Nossa política é como o som de um violino.
Violino ?
– Sim, segurando com a esquerda e tocando com a direita.
Socorro, professor ! Tudo isso parece um pesadelo, um filme de terror. Tem certeza de que não existe alternativa ?
– Em tese existe, Joãozinho: seria um pacto para todos fazerem a coisa certa… mas você se engajaria ?”
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12/1/2024
José Crespo foi deputado estadual na ALESP/SP por três legislaturas a atualmente é presidente do ICPP – Instituto de Cidadania e Políticas Públicas.
Texto perfeito. Gostaria de ter escrito.O Brasil jamais será um país que preste!