Cinzento é a cor que divisamos nas próximas eleições municipais. Para não dizer coisa pior. O que temos assistido no início dos debates eleitorais é verdadeira barafunda, confusão, falta de competência e pouco nível intelectual.
Em primeiro lugar, faltam propostas. Melhor dizendo, o que pode existir de proposta não vem à tona, porque os candidatos tecem armas em outro nível. Agressões inúteis, ridículas, para dizer o mínimo.
Adoraria ver um debate sobre o que fazer com a Cracolândia, quais as opções que os candidatos oferecem. O mesmo em relação aos moradores de rua. O problema habitacional, o que pensam a respeito. E a educação? O que farão? Indaga-se também em relação ao transporte. A mobilidade urbana alcança ares de crônica de um desastre próximo. Canalização de córregos existirá? Faz parte dos planos que serão apresentados, se houver oportunidade?
Não se sabe o que cada candidato fará. Nem estão tendo oportunidade de apresentar propostas, porque as agressões não cessam. Disputas inúteis. Já se divisa quem atacará quem e de que forma.
Sabidamente, cada candidato (a) tem seu estilo, seu modo de encarar os problemas que existem na cidade. Agressividade ou passividade podem fazer parte do caráter de cada qual. No entanto, não é isso que define uma eleição.
Cada um deles tem sua individualidade em relação a seu caráter, sua cultura, seu preparo psíquico e também em relação ao modo de ver as coisas. Suponho que seja isso que o eleitor queira saber.
Mas, como ocorrem as coisas na realidade? Será que a população está preparada para discutir as eleições em tais termos? Suponho que não. Em primeiro lugar, está a subsistência. A luta é pela comida. Depois, superada esta ansiedade, passa-se à casa que a Constituição define como a moradia inviolável do indivíduo – inciso XI do art. 5º da CF (como as palavras podem ser importantes e inúteis, não é verdade?). Depois de tal aquisição, novamente a alimentação. A seguir, saúde é bem necessário, seguido da educação. E por aí segue um rol de necessidades para fazer o cidadão feliz.
Ah! Não nos esqueçamos, a felicidade também faz parte das necessidades básicas do indivíduo e de sua família.
Saneamento básico e transporte sucedem-se no rol do que é imprescindível para uma vida razoavelmente feliz.
E quais são os compromissos dos candidatos? Com tudo isso, sem limites e alternativas. As promessas, então, surgem aos borbotões. Até o grande filósofo Diógenes de Sinope que vivia em barrica sentir-se-ia iludido com tal palavreado oco. Sairia com lanterna procurando um candidato.
A essa altura do campeonato, todas as promessas são válidas para cativar ouvidos dóceis.
Virada a página e terminada a eleição, assistiremos a quê? O esvaziamento das promessas, o ocultamento das responsabilidades, o disfarce dos compromissos, a ausência do governante nos piores momentos. A Cracolândia continuará, a fome prosseguirá, os moradores de rua estarão presentes, o transporte passa pelas mãos do PCC, as ruas nunca serão recuperadas, menores, mulheres e idosos serão sacrificados nas portas dos postos de saúde, nossa infância continuará como analfabetos funcionais, poucos obterão sua moradia.
E o que restará aos mais humildes? Continuar “esperando Godot”, personagem de Samuel Becket que nunca chega. Parece fumaça.
Não há sanção às promessas políticas não cumpridas. Ficam ao vento. Caem como folhas de árvores no outono. São varridas pelos garis. Estes sim, sofredores como todos os de baixa renda. Ainda bem que conseguiram emprego.