Gosto de pensar que a “esperança é a última que morre”. Dá a sensação, na verdade, a certeza de que a vida realmente é eterna, seja enquanto estamos, aqui, nesta dimensão, seja depois de desinvolucrarmos. Sim, “desinvolucramos”, porque apenas deixamos para trás nosso corpo físico, nosso involucro. Acreditem ou não, e isto não importa, a passagem para a continuidade da Vida é uma realidade intransponível e inexorável.
O que faz a diferença é a nossa jornada. Realizá-la da melhor maneira possível, dignificando-a em toda a sua magnitude. Honrando-a, você estará honrando, primeiro, o seu Ser, e depois, a todos os que com você convive: familiares, amigos, colegas, aqueles que você encontra sempre, aqueles que você somente ultrapassou no trânsito. Todos.
Como viver sem esperança? O que ela pode significar na sua trajetória de Vida? A cada desafio que enfrentamos ela necessariamente deve estar presente. O contrário seria transformar nosso viver em uma árdua batalha constantemente permeada por sofrimentos, desânimo, desesperança.
Como não se agarrar a ela, à esperança, quando sentimos que nosso mundo vai desabar? Quando nossos planos estão desmoronando? Quando passamos por dificuldades, diversas, aparentemente intransponíveis? Quando você recebe um diagnóstico de uma enfermidade que poderá ser fatal?
Constantemente, a vida nos surpreende com situações desalentadoras e/ou desafiadores. Sempre, o que nos mobiliza em busca de superação é a esperança de que vale a pena acreditar que tudo dará certo. Ela é essencial, a mola propulsora para a ação.
Sim, a esperança é um sentimento que não é passivo, ele exige que você aja, seja qual for a questão que se desenvolva. Seja uma prova escolar, seja um concurso, seja um tratamento de saúde. O esperar que suas ações em prol do desafio apresentado serão positivas e o sucesso alcançado, torna a jornada mais leve e promissora.
Ela, a esperança, esteve presente em todas as experiências da minha Vida. Sempre me levou a confiar que valeria a pena lutar para alcançar meus objetivos, acreditar que a vitória estaria sempre ao meu alcance. Nunca a considerei perdida, lembrando-me de que “é de batalhas que se vive a vida”, na poética reflexão do saudoso Raul Seixas, me incentivando a tentar outra vez, a não desanimar, a lutar pelos meus sonhos.
O agir gera mais esperança. Sim, a esperança se retroalimenta e transforma os sonhos, mesmo distantes e difíceis, possíveis e realizáveis. Ela depende do meu agir, da minha certeza de que o futuro a ser alcançado depende da minha força de propósito, da minha automotivação na realização e sucesso do meu objetivo.
Minha automotivação me fortalece na certeza de que vou vencer os problemas e ficar bem, vou superar meu câncer e ficar bem, vou superar os efeitos colaterais advindos do tratamento e vou ficar bem, vou remover a fadiga e voltar a ter vida normal, sem impedimentos. Isto é esperança. Ela me move. Ela me ajuda na recuperação da minha integridade física. Ela sustenta minha integridade mental. Ela equilibra minha integridade emocional.
Ela me alimenta. E eu a retroalimento.
A esperança me amparou quando tudo parecia nebuloso e nunca me deixou entrar em depressão, mesmo quando sentia vontade de ficar prostrada na cama, com dores e vertigens. Ela me amparou e me nutre na certeza de que tudo apenas parece, mas não é, me mantém na certeza de que todos os sintomas são passageiros, não são permanentes. Tudo passa. Sim, amanhã será um novo dia!
“Amanhã será um lindo dia”! Esta afirmação de Guilherme Arantes em um de seus maiores sucessos, injeta no coração e na mente a esperança de dias melhores, de realizações alcançadas e sonhos realizados. Pensar o amanhã promissor transforma nossa jornada, torna mais leve o caminhar, sustenta todas as dores, na certeza de que serão superadas.
A esperança sobrepuja qualquer desânimo, ultrapassa barreiras, elucida dúvidas, alimenta sonhos. Ela não é uma mera expectativa, ela é uma virtude, é espiritual. A expectativa não possui a força essencial para a superação, configura apenas um desejo passivo, enquanto a esperança é a certeza do por vir.
Sei que o significado de esperança assume formas diferentes para cada pessoa. Há os que, como eu, se agarram a ela em todas as situações da vida. Aqueles que lembram da sua existência apenas quando a vida impõe provações. E os pessimistas que preferem ignorá-la por completo e assumir que a vida é dura e pronto.
Hoje, entendo que foi uma questão de sobrevivência, que me deu sustentação em todas as minhas ações e desafios, principalmente o último, o câncer. Com certeza, consegue tornar a minha experiência mais leve e nutrida.
Neste caso, foi e está sendo primordial a minha visão espiritualizada da Vida. Este aspecto, principalmente, se encontra intrinsicamente ligado à esperança, como um de seus componentes básicos e, posso afirmar, a potencializou e me envolveu durante todo o tratamento. Ainda me acompanha diuturnamente. Tenho confiança plena na minha cura.
A confiança fortalece minha alma no imediato. Tenho confiança no aqui e agora, na competência e profissionalismo dos meus médicos e de todos os profissionais da saúde que me acompanham. Quanto à esperança, ela me sustenta para o futuro, na certeza de que minha cura é real e não me incomodará mais. Não haverá metástase. Coloco no “haverá” porque, apesar de plena confiança de que estou curada, sei, tenho esperança de que não haverá recidiva.
Só tenho certeza de uma coisa: para mim, sem esperança não haveria razão de existir, minha vida não teria sentido. Ela me dá forças, me move e me sustenta. É ela que me faz acreditar que meu futuro será promissor, pleno de coisas boas, positivas, inclusive e principalmente, em relação à minha evolução espiritual.
A Esperança é a âncora da minha Alma.
Ela me guia. Ela permanecerá entre os meus. Este será meu mais precioso legado.
Elizabeth Leão – magistrada aposentada, advogada, consultora, servidora da Luz e pianista
Lindo texto, querida amiga.
Ótimo texto,não podemos nunca perder esperança !