Liberdade é uma palavra imprecisa, duvidosa e ambígua.
Pensar que ser livre é poder fazer tudo, ou seja, o que se quer, como se quer, quando se quer, é recusar todas as obrigações.
Nem tudo é possível e permitido!
Não existe realidade ou sociedade humana que permita fazer tudo o que se quer: para isso seria necessário viver numa ilha deserta.
O homem social não pode fazer incondicionalmente o que quer: existem impedimentos materiais, sociais e políticos que o limitam em todos os sentidos.
O exercício do poder obriga o indivíduo, pretensamente livre, a aceitar os constrangimentos e assumir as suas contradições e compromissos que prometeu rejeitar.
Jean- Jacques Rousseau (1712-1778), um dos melhores filósofos políticos de todos os tempos, disse: “A obediência à lei que se subscreveu é liberdade”.
A liberdade consistiria não em recusar obedecer, negar os constrangimentos e rejeitar determinações, mas sim em assumi-las plenamente, tentando refletir antes de agir, ajuizar de forma lúcida e racionalmente possível, para não acontecer excessos de toda a ordem.
Não é a anarquia o domínio da verdadeira liberdade, mas a ordem que impõe ao sábio uma liberdade bem temperada.
Todos nós temos o sentimento da nossa liberdade.
Porém, esta consciência que temos de ser livres, bastará para nos dar a certeza de que somos livres?
Caso tudo esteja predeterminado pela divina providência, que Deus é onisciente, onipotente, onipresente, que previu tudo, consequentemente, nada pode acontecer sem ter sido previamente concebido, imaginado, regulado pela inteligência divina.
Evidentemente, inúmeros filósofos ateus estavam contra a existência de Deus.
Não podemos esquecer o fatalismo maometano que provém desta mesma hipótese. “Está escrito”, “Mektoub”… Não há nada a fazer.
Assim sendo, nesse caso, a nossa liberdade estaria reduzida a uma ilusão psicológica: é praticamente uma alucinação. Pensamos ser livres e na realidade, não somos.
O matemático francês Henri Poincaré (1854-1912), afirmava: “A ciência ou é determinista ou não é nada”.
Num mundo material e cientificamente bem organizado, bem determinado, não restaria nenhum lugar para a liberdade. O que os sábios dizem é verdadeiro para a matéria, para a máquina, para as técnicas que não necessitam da intervenção humana.
Mas deixando de lado o domínio da matéria, a condição humana está na liberdade. Jean- Paul Sartre disse: “O homem nasce livre, responsável e sem desculpas”.
René Descartes (1596-1650), filósofo francês, afirmava que se o entendimento humano é limitado, a nossa vontade, em contrapartida, é infinita pelo simples fato de sermos livres.
Para Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, a liberdade é o garante do dever, sem a liberdade a ação humana deixaria de ter sentido.
Podemos analisar as causas dos nossos atos por raízes genéticas, psicológicas, para justificar que se tenha agido desta ou daquela maneira.
Assim sendo, para os psicólogos se explica a prática de um ato por determinações conscientes, subconscientes ou inconscientes.
Apesar das objeções colocadas à ideia de liberdade, o homem durante a sua vida realiza frequentemente ações totalmente livres: são as grandes escolhas, as grandes opções da existência.
Na verdade, a liberdade corresponde a um máximo de densidade do nosso ser, ao poder de agir com maior concentração, a mais alta sabedoria e uma vontade de ação.
Os heróis, os gênios e os santos foram, pelo menos uma vez na vida, homens verdadeiramente livres.
Mas a liberdade não é fácil!
Pierre Bost (1901-1975), escritor francês, disse: “Quando a liberdade se torna fácil, nada se aguenta de pé”.
Se a ação está de acordo com a nossa personalidade profunda, com tudo o que de melhor fizemos desde o nascimento, então, nesse caso, podemos dizer que agimos livremente e, segundo o dito de Platão (427-428 a.C.), filósofo grego, “com a nossa alma inteira”.
Portanto, a liberdade ocorre quando o homem supera a si próprio.
“Sei que só há uma liberdade: a do pensamento.”
Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), escritor francês.