O presidente da Aceesp, Mário Marinho, organizou em 1985, uma série de palestras para que os cronistas esportivos de São Paulo ficassem mais preparados para a cobertura da Copa de 1986. Uma dessas palestras foi dada por Telê Santana, que tinha sido técnico da seleção em 82 e não sabia se seria convidado para comandar de novo o time brasileiro.
Estava em São Paulo, a passeio, o ucraniano Kazimierz Górski, o técnico da Polônia que enfrentou o Brasil na disputa do 3º lugar na Copa de 74, na Alemanha. Ele soube da palestra do Telê e pediu credenciamento. Eu era vice-presidente da Aceesp e autorizei a presença do discípulo do holandês Rinnus Mitchels, o inventor da Laranja Mecânica.
Durante o coquetel, Górski perguntou em espanhol onde estava o “albino” de 74. Os cronistas brasileiros demoraram para deduzir que se tratava do Ademir da Guia, que jogou no 1º tempo contra a Polônia.
O ucraniano comentou que, com ele em campo, o time polonês se atrapalhou por estar acostumado a girar no sentido horário, enquanto o “albino”, de vez em quando, girava no sentido anti-horário e saía sozinho com a bola. Ele contou que, no 2º tempo, sem o Ademir em campo, a Polônia aplicou o seu “carrossel” e o Lato marcou o gol da vitória até com facilidade.
Como é que eu não percebi esse giro anti-horário do Ademir em tantos jogos do Palmeiras que cobri para o Jornal da Tarde? Fiquei com isso na cabeça. Em 1993, quando trabalhei na TV Bandeirantes, pude assistir a vários jogos gravados do Palmeiras. E não é que o Divino usava mesmo esse artifício? O adversário, acostumado a marcar jogador destro, ia para o lado normal, enquanto o Divino saía pelo outro lado.
Dez anos depois, o Ademir teve a infeliz ideia de se candidatar a vereador em São Paulo. A campanha foi lançada no restaurante de um palmeirense, na Mooca. No final, esperei todo mundo ir embora e, quando o Divino estava saindo, contei o que o técnico Górski tinha dito. E confessei: “Ademir, eu nunca percebi que você girava ao contrário”.
O Divino: “Eu também não”.