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O impresso está morrendo ou se reinventando? – por Fábio Carvalho

O futuro do impresso é uma das questões mais debatidas no cenário da comunicação moderna. De acordo com a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Nielsen BookData e divulgada em 2025, o mercado de livros impressos registrou uma queda real de 44% no faturamento entre 2006 e 2024 (descontada a inflação). No entanto, a mesma pesquisa aponta que houve um crescimento específico em nichos como Obras Gerais (9,2%) e Religiosos (8,7%), impulsionados pelo conteúdo digital. Estes dados sugerem que o impresso está, de fato, em um processo de encolhimento geral em seu formato tradicional, mas encontra focos de resistência e adaptação.

Portanto, é possível dizer que o impresso não está morrendo, mas sim passando por um processo de reinvenção nesse novo mundo, dominado pela tecnologia. Sendo assim, o material físico está se transformando e encontrando outras formas de se manter relevante. Vale destacar que ambas são vistas atualmente como complementares e não mais como concorrentes. Um exemplo disso é que muitos jornais e revistas operam em um modelo “figital”, unindo os dois tipos, onde um canal direciona tráfego e interesse para o outro.

Em meio a uma época regada de excesso e velocidade de informação, muitas pessoas estão buscando maneiras de se reconectarem com o mundo físico, procurando passar um tempo longe das telas. Uma das alternativas é justamente ler um livro e tocar o papel, tendo uma experiência tátil e sem interrupções, algo que o digital, com suas notificações constantes, muitas vezes não consegue proporcionar. Visando momentos de imersão, os jornais e revistas impressos estão focados mais em reportagens, artigos de opinião e análises profundas ao invés de notícias de última hora, oferecendo algo que o fluxo incessante da internet não consegue: contexto e confiabilidade.

Ter uma grande quantidade de estímulos, como assistir vídeos rápidos e ler muita notícia em pouco tempo, pode ser prejudicial ao cérebro, como já vem sendo discutido pela neurociência. O chamado “Brain Rot” (em inglês, algo como “apodrecimento cerebral”) ou “Cérebro de Pipoca” (Popcorn Brain), causam prejuízo à atenção sustentada e concentração, perda de paciência, sobrecarga cognitiva, impacto na função executiva tomada de Decisão e ansiedade. Dessa forma, é importante buscar materiais impressos para dar um intervalo para o sistema neurológico.

Devido a esses novos estudos, o livro físico se mantém firme e forte por ter um apelo sensorial e emocional que o digital, apesar da praticidade, ainda não superou. O cheiro do papel, a textura da capa, o ato de folhear – todos esses elementos criam uma experiência de leitura imersiva. Além disso, a indústria editorial tem investido em nichos de mercado (como ficção young adult e livros de colorir, que apresentaram forte crescimento nas vendas em 2025) e em edições de colecionador, transformando o livro em um objeto de desejo.

A verdadeira reinvenção, no entanto, reside na convergência. O impresso moderno não existe isolado, mas como parte de um ecossistema multimídia. Já as revistas e jornais utilizam o QR Code e a Realidade Aumentada (RA) para ligar a página impressa a vídeos, podcasts ou galerias de fotos online. A impressão digital, com sua flexibilidade, permite tiragens personalizadas e sob demanda, reduzindo custos e desperdícios. Nesse modelo híbrido, o material físico atua como um ponto de partida ou um complemento tangível para uma experiência digital mais rica e interativa.

Em suma, o impresso não está morrendo, mas sim se transformando. Ele está abraçando um novo papel: de objeto de valor, de veículo de curadoria profunda e de âncora física em um mundo digital cada vez mais volátil. Sua sobrevivência depende menos de competir com o digital em velocidade e mais de oferecer qualidade material e uma experiência de consumo intencional. Pense nisso! 

Fábio Carvalho é CRO da Printi. Engenheiro de Produção por formação, conta com uma trajetória de mais de uma década em gestão operacional e estratégica. O executivo é movido pela paixão em transformar negócios e pela crença no impacto positivo que uma gestão eficiente pode gerar para clientes, colaboradores e resultados corporativos.

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