…Não tivéssemos instâncias do poder judiciário marcadas com frequência por denúncias da prática de venda de decisões de juízes e aprovação de penduricalhos que elevam a níveis imorais os salários de parte da magistratura, transformando-a numa casta intocável do funcionalismo público;
…Não tivéssemos no STF -guardião da Constituição- alguns ministros sem notório saber jurídico e reputação ilibada que aprovaram condenações na Lava Jato, mudaram suas frágeis convicções jurídicas e decidiram enterrar a operação anulando acordos de delação, provas, confissões, libertando presos e anistiando multas bilionárias de empreiteiras sob o olhar incrédulo, mas atento, da opinião pública nacional;
…Não tivéssemos fatos fortalecendo as suspeitas que cercaram o fim da Lava Jato, como a aprovação pelo STF em 2023 da ADI 5953 (AMB), que encerrou o conflito de interesses contido no CPC: o inciso VIII do art.144 ampliava o impedimento de juízes para julgar processos em que uma das partes fosse cliente de escritórios de advocacia de cônjuge ou parente do magistrado;
…Não tivéssemos juízes como Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Nunes Marques, Alexandre de Moraes e André Mendonça, que garantiram a aprovação da ADI 5953. Os 3 primeiros acima têm cônjuge ou parente em escritórios que defendem empreiteiras, empresários e políticos condenados na Lava Jato, com direito a honorários milionários na anistia de multas aplicadas pela justiça. O código de ética da magistratura que o presidente Edson Fachin pensa elaborar enfrentará resistência não só no STF e poderá resultar capenga, ou até inútil sem o restabelecimento do conflito de interesses no CPC;
…Não tivéssemos um juiz como Dias Toffoli, talvez o STF refletisse antes de assumir e decretar sigilo sobre o inquérito da PF que apura as fraudes que levaram à liquidação do Banco Master pelo BC, com possível envolvimento de pessoas importantes dos meios jurídico, político e empresarial;
…Não tivéssemos um poder legislativo com baixo nível de qualidade e alto grau de esperteza, mais preocupado com os interesses de deputados e senadores do que em honrar os votos de seus eleitores;
…Não tivéssemos um presidente na Câmara dos Deputados que não cumpre a punição de deputados condenados pelo STF; que ignora a atividade antipatriótica de Eduardo Bolsonaro nos EUA; que apóia projeto blindando parlamentares em caso de processos por malfeitos, que revela, enfim, não ter a necessária estatura política e moral para comandar a Casa;
…Não tivéssemos um presidente no Senado Federal com tanto espaço e poder no governo -a ponto de fazê-lo refém em certas ocasiões- que recebe de Dias Toffoli / STF o processo sobre o Banco Master, liquidado pelo BC, e também decreta sigilo sobre o assunto. Que deveria ter tratamento transparente se não expusesse figuras importantes -inclusive do Senado- envolvidas nas atividades do ex-banqueiro Daniel Vorcaro;
…Não tivéssemos um governo que fala muito e não consegue cumprir suas promessas de campanha, que na falta de transparência impõe sigilo de 100 anos (como seu antecessor) para certas atividades governamentais e sociais, incluindo os cartões corporativos. Especialmente os da primeira-dama ainda deslumbrada com seu status, sem cargo oficial e nenhuma noção do que e onde fazer ou opinar sobre o que não sabe, criando situações embaraçosas-pessoais, políticas e diplomáticas- para o presidente da república;
SE TIVÉSSEMOS, todos os brasileiros, acesso amplo e fácil às informações e um nível melhor de consciência política para escolher governantes e representantes no legislativo -nos níveis municipal, estadual e federal- certamente seríamos um País melhor. É verdade que somos um País ainda jovem, mas não temos o direito de perdermos tempo acreditando cegamente em promessas de pseudos salvadores da pátria ou enviados divinos. Seguramente, eles não existem.












