Simon Bolivar, o maior dos Libertadores da América, que repousa num lindo panteão no centro de Caracas, deve estar revoltado na tumba. O ditador venezuelano de plantão, Nicolás Maduro, pode ter cara de bobo, jeito de bobo e roupa de bobo, mas não é bobo: na tentativa de bater novos recordes de desprezo à democracia, ele acaba de lançar mais uma palhaçada, deixando de saia justa estadistas de outros países que ainda o defendem.
Não bastasse fechar jornais, prender políticos da oposição e provocar um êxodo da população da Venezuela rumo à Colômbia e aos Estados Unidos, Maduro decidiu fabricar um “plebiscito” para tentar ter do povo o direito de encampar dois terços do território de um país vizinho, a Guiana. A velha disputa territorial, começou há mais de cem anos, mas parecia adormecida até o momento de o ditador organizar mais um golpe, alegando que a região de Esequibo, onde há bastante petróleo, é da Venezuela e não da Guiana.
O “plebiscito” foi cômico, de baixa adesão, mas, no final do dia de votação, Maduro anunciou “uma vitória espetacular”. Vamos aguardar os próximos passos: seu exército vai invadir Esequibo? Haverá guerra?
O mais interessante é que Maduro, sindicalista de esquerda, herdeiro político de Hugo Chavez, recorre a um artifício parecido com o da ditadura argentina de direita que, em 1982, lançou-se na luta inglória para se apossar das Ilhas Malvinas.
Essa situação é tudo aquilo que a América do Sul não precisa.