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O desafio da resposta nacional ao crime organizado – por Antonio Tuccilio

A escalada da violência em 2025 evidenciou o que há muito tempo o Brasil vem sentindo: o crime organizado deixou de ser um problema localizado. Com tentáculos que alcançam diversas regiões, essas organizações passaram a operar com estrutura nacional, ocupando territórios, infiltrando-se em instituições e atuando em frentes que vão do tráfico de drogas e armas a golpes digitais e assassinatos por encomenda. Em estados como São Paulo, Amazonas e Bahia, episódios recentes expuseram o grau de articulação dessas redes criminosas.

Esse cenário se amplia quando olhamos para o ambiente digital. A insegurança virtual também cresceu, e seus efeitos são cada vez mais diretos sobre a população. Entre 2023 e 2024, os crimes cibernéticos aumentaram 56%, segundo dados oficiais. Golpes por mensagem, vazamento de dados e fraudes financeiras se tornaram parte da rotina, revelando a necessidade urgente de o Estado estruturar melhor sua atuação para conter essas novas modalidades de crime.

Diante desse panorama, cresce a necessidade de uma resposta mais coordenada. Hoje, cada estado adota seu próprio modelo de registro e investigação, o que dificulta o compartilhamento de dados entre as polícias e limita uma ação nacional integrada. Enquanto as organizações criminosas se articulam em rede, o poder público continua a responder de forma fragmentada. A Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública, propõe a criação de um padrão nacional para registro de ocorrências e troca de informações, o que pode representar um avanço significativo na integração entre os órgãos de segurança. Mas é preciso cuidado. O Brasil é um país de dimensões continentais, com realidades regionais muito distintas. A centralização excessiva pode comprometer a autonomia das polícias locais e dificultar respostas adequadas a problemas específicos de cada território.

Além das estruturas e sistemas, é fundamental investir em quem atua na ponta. Profissionais da segurança pública lidam diariamente com risco, pressão e responsabilidades, mas são pouco ouvidos nas decisões que moldam suas carreiras. Ao mesmo tempo, a relação com a sociedade segue marcada por ruído, o que compromete a confiança mútua e a colaboração para sanar esse problema que é de todos.

Durante o Seminário CNSP 2025, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo (AOPM) apresentou uma proposta voltada justamente para melhorar essa relação. O projeto Time de Especialistas organiza oficiais para atuarem como porta-vozes nas áreas de segurança pública e bombeiros, buscando informar melhor a população sobre o trabalho realizado, os desafios enfrentados e o papel do servidor nesse campo. É um exemplo de como a aproximação entre forças de segurança e sociedade pode contribuir para o fortalecimento da política pública e da valorização profissional.

A CNSP entende que combater o crime organizado exige mais do que medidas pontuais. É necessário planejamento, articulação entre os entes federativos e valorização de quem está na linha de frente. Fortalecer a segurança pública passa por servidores respeitados, estruturas integradas e diálogo com a população. Esse é o caminho para garantir um Estado mais eficiente, justo e comprometido com os direitos e a proteção da sociedade.

*Antonio Tuccilio, Presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos. Graduado em Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, foi Diretor do Departamento de Orçamento e Custos do Estado de SP e Diretor de Orçamento da Secretaria de Planejamento. Acompanhou a Comissão de Orçamento e Finanças da ALESP e foi responsável pelo capítulo de Orçamento na CF-89 e pelo desenvolvimento e implantação do Processo Orçamentário calcado no Orçamento Base-Zero. É Presidente de Honra da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo e Presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos desde 2007.

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