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O papel do Estado é prender, não matar – por Wagner Belmonte

O Estado brasileiro, em especial no Rio de Janeiro, tem falhado em uma de suas funções mais elementares: proteger vidas. Sob o governo Cláudio Castro, as operações policiais em favelas alcançaram índices de letalidade que escancaram um projeto de segurança pública baseado não em inteligência, prevenção ou presença social, mas na lógica da guerra. Não é possível normalizar que comunidades inteiras acordem sob rajadas de fuzil, helicópteros atirando sobre telhados e escolas fechadas enquanto o governo chama isso de “retomada de território”.

Desde o massacre do Jacarezinho, em 2021 — a operação mais letal da história do Rio, com 28 mortos — sucessivas ações, como as incursões na Vila Cruzeiro em 2022 e 2023, repetiram o mesmo script: altas mortes, poucas prisões, nenhuma responsabilização. Esses números não surgem por acaso. Castro enfraqueceu mecanismos de controle externo, confrontou decisões do STF que buscavam limitar operações em áreas densamente povoadas e priorizou o discurso político da força acima da estratégia. Resultado: o Estado tem tratado territórios populares como zonas de exceção.

É preciso dizer com todas as letras: há um recorte racial e de classe nesses corpos tombados. Jovens negros, moradores dos morros, são sistematicamente tratados como suspeitos antes de cidadãos. Esse padrão não é aleatório; ele é o reflexo de um racismo estrutural que percorre as instituições policiais brasileiras desde sua origem, quando foram desenhadas não para proteger a população, mas para controlar e reprimir determinados grupos sociais. O Rio escancara isso diariamente.

Quando o governo insiste na política do confronto, ele nega a essas comunidades direitos básicos: o de ir e vir, de estudar, de trabalhar, de viver. O Estado deve estar presente nos morros com escola, saneamento, cultura, saúde, emprego — não apenas blindados. Segurança pública se constrói com inteligência, investigação e respeito à lei. Quando o governo celebra mortes como “resultado positivo”, o próprio Estado assume que perdeu sua missão.

Responsabilizar Cláudio Castro não é uma questão ideológica, é uma necessidade democrática. Governos que naturalizam execuções fragilizam a democracia, corroem a confiança pública e transformam cidadãos em alvos. O Brasil precisa lembrar: segurança pública não se faz com cadáveres. Se o Estado mata, não é segurança — é barbárie.

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