Sei que janeiro já foi, mas ainda dá tempo de falar sobre as promessas para 2024, né? Vamos ter em mente aquele ditado que diz que o ano só começa depois do Carnaval. Brincadeiras à parte, percebo que as resoluções de réveillon são, direta ou indiretamente, relacionadas com uma melhora na qualidade de vida. Os objetivos mais populares envolvem começar a se exercitar, diminuir o consumo de alimentos industrializados, viajar com mais frequência… Entretanto, acho que nunca vi ninguém dizer que fazer terapia é uma das metas do ano.
Dependendo da companhia e do contexto, afirmar em voz alta a vontade de começar a fazer terapia pode resultar em um climão. É como se a busca por ajuda profissional não fosse interpretada como uma oportunidade de autocuidado e de uma melhora holística na saúde; é como se fosse vista como uma vulnerabilidade constrangedora. Isso acontece porque, para muitas pessoas, a definição de saúde mental ainda é nebulosa e o sofrimento emocional é erroneamente associado com loucura.
Esse é um estigma extremista e equivocado que não pode mais ter espaço em uma sociedade cada vez mais ansiosa, por exemplo. Inclusive, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 9% da população brasileira vive com transtornos de ansiedade, o que mostra que a doença é mais comum do que se imagina. Para reverter esse cenário ou impedir que essa situação piore, a busca pela ajuda profissional precisa ser desmistificada.
O primeiro passo para essa desconstrução é entender como funciona e qual é o objetivo da terapia. A psicoterapia parte da premissa de melhorar a qualidade de vida e tratar transtornos emocionais com base no diálogo, acolhimento e escuta ativa. Apesar da conversa ser um pilar característico da terapia, é importante saber que a sessão de terapia não é como um bate-papo com amigos. Inclusive, o nome da troca que fazemos durante as sessões é chamada de Relação Terapêutica; um tipo de relação baseada em confiança e colaboração, mas não em amizade.
Um amigo bem intencionado pode dar conselhos, broncas e orientações, já o psicólogo usará técnicas que promovem a psicoeducação, uma estratégia que visa promover o autoconhecimento do paciente que resulte em uma mudança necessária de comportamentos e pensamentos. Em suma, um bom psicólogo nunca vai ditar o que ser feito, mas vai oferecer todo suporte para que o paciente encontre as respostas que deseja e descubra qual decisão é a que faz mais sentido em sua vida.
A psicoterapia é uma oportunidade para exercer uma autonomia plena em uma vida saudável e com propósito, sem se deixar ser tragado por sentimentos, pensamentos, comportamentos ou até mesmo por outras pessoas. Sendo assim, fico na torcida para que os objetivos estipulados para o ano não foquem somente na saúde física, mas que também promovam a saúde mental para que todos os aspectos de uma boa qualidade de vida sejam assistidos. Afinal de contas, como gosto de frisar: mentes saudáveis criam um mundo melhor.
Sobre Alana Anijar
Alana é psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especializada em Terapia Cognitivo Comportamental e mestranda.
Fundou junto com o marido, em março de 2020, o Psi do Futuro, especialistas em empreendedorismo digital para psicólogos, ajudando milhares de estudantes e profissionais a conquistar a tão sonhada agenda lotada e viver bem da profissão.
Hoje, já alcançou mais de 3 milhões de pessoas direta e indiretamente para mostrar que a Psicologia pode ser moderna, dinâmica e acessível para todos.