Inspirada no Dia Mundial da Luta contra o Câncer, celebrado em 8 de abril, trago aqui dados preocupantes e reflexões necessárias sobre o assunto. Recentemente, houve uma publicação feita pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) trazendo uma projeção de aumento em 98,6% de mortes por câncer no Brasil em 2050. Este aumento se deve a inúmeros fatores como a transição epidemiológica em que vivemos. Com o avanço de antibióticos e vacinas, a redução de mortes por doenças infecto contagiosas está dando espaço para mortes por doenças crônicas.
Atualmente, o aumento numérico da população, seu envelhecimento e industrialização são os vilões para estes achados. O aumento da idade gera dano celular através de alterações no DNA, a industrialização leva a poluição, e o sedentarismo, ingestão de alimentos processados, consumo de álcool, drogas e tabaco levam a um estilo de vida não saudável. Também tem a questão da obesidade e sobrepeso, presente em mais de 2 bilhões de pessoas no mundo, e que está relacionada ao aparecimento de, no mínimo, 13 tipos de câncer e, ao que tudo indica, quanto mais jovem e quanto maior o tempo de exposição ao excesso de peso, maior o risco. Os cânceres de intestino, vesícula, bexiga, mama após menopausa, além de câncer renal, útero e esôfago são os mais comuns.
A poluição e uso de tabaco está relacionada a casos de câncer de pulmão (o mais frequente mundialmente). Também há estudos relacionando poluição com aumento de casos de câncer em crianças e adolescentes. As mudanças climáticas pioram a qualidade do ar, havendo intersecção entre clima e aumento dos casos de câncer.
No entanto, atualmente, acredita-se que metade dos cânceres podem ser evitados. Existem ações que podem reduzir o risco de aparecimento de neoplasias e consecutivamente a mortalidade. São elas: realizar atividade física reduz em até 20% o aparecimento de alguns tipos de câncer como mama, endométrio, esôfago e pulmão. Uma alimentação rica em vegetais e pobre em açúcar, farinha branca e carne vermelha chegam a reduzir em 65% o risco de câncer de mama, além de reduzir o aparecimento de outros tipos. O rastreamento para câncer de colo de útero reduz 95% a mortalidade, da mesma forma que a vacinação contra papiloma vírus a reduz em 100%. Parar de fumar reduz em 62% a mortalidade por câncer de pulmão e tomografia de tórax para tabagistas de alto risco, para o desenvolvimento de câncer pulmonar, consegue reduzir em 20% a mortalidade pela detecção precoce e possibilidade de tratamento da neoplasia.
A vacinação contra o vírus da Hepatite B reduz em 90% a mortalidade por hepatopatia crônica e câncer de fígado. A colonoscopia reduz a mortalidade por câncer de cólon quando indicada como rastreamento em indivíduos assintomáticos em 10% se comparada aos indivíduos que não se submetem ao exame. Com base nestes dados, há muito o que se fazer para impedir este aumento. Instituições governamentais, escolas, sociedade e profissionais da saúde terão mais um desafio a ser enfrentado.
Temos dados, agora nos resta agir em todas as esferas, aprovando leis de proteção ambiental, taxando e regulamentando produtos e alimentos nocivos, capacitando profissionais em escolas e agentes comunitários para disseminarem práticas de mudança do estilo de vida, aumentando o acesso da população a uma alimentação saudável diminuindo os custos de vegetais e frutas. Incentivar espaços para prática de atividade física e orientação em postos de trabalho. Oferecer tratamento para tabagismo, álcool e drogas e capacitar médicos para a abordagem correta dos casos.
Quanto a sociedade, cabe a nós termos papel ativo nestas mudanças, começando por nós mesmos. Agora pergunto a você: O que você tem feito para reduzir seus riscos de adoecimento? Você tem feito boa alimentação, cuidado de seu peso, feito atividade física, evitado excessos? Seu acompanhamento médico e exames de rotina estão em dia? Vamos começar?