Ontem acompanhei meu filho no exame para renovação da carteira de motorista.Na fila, aguardando, estava um idoso, 88 anos, com os olhos brilhando como um menino tirando a tão sonhada habilitação. Muito educado, chegou cumprimentando a todos e foi repreendido pela atendente “não pode falar alto que atrapalha os exames”…”desculpe, mas é que não escuto bem, sabe?”…respondeu mostrando o aparelho no ouvido.
Roboticamente, a “moça”… de 200 anos de alma, apresentou um questionário no balcão ” o senhor toma remédios?”…”Sim, claro, muitos, né?”…”para que tipo de doenças?”…”Ah, de tudo um pouco, diabetes, coração, coloquei um stent, sabe?”…”altura e peso?”…” olha, dei uma emagrecida, devo estar com uns 78, 80…altura? Encolhi um pouco, acho que 1,83″…
Deveria ter sido um bonito homem, de estampa, como diria minha avó.
Pensei com meus botões “acho que o médico não irá liberar, por excesso de sinceridade, não de idade”…o doutor nissei, sansei, não sei, parecia apressado e com cara de poucos amigos.
Finalmente chegou a vez dele “JOSÉ”…era ele, que se levantou todo animado como se estivesse andando de rolemã…passados alguns segundos ele abre a porta e chama a filha “o doutor quer falar com você”.
Meu coração apertou “coitado, meu Deus, acho que foi reprovado, não vai poder dar mais suas voltinhas por aí”.
Não consegui conter as lágrimas ao constatar a dura realidade daqueles que ultrapassam os limites do politicamente correto…para uns tudo, para outros um chinelo e um pijama! Triste fim!
Daqui a pouco ele sai, ” me deu só mais um ano para dirigir”…aquele olhar juvenil da entrada parecia ter agora uma cortina para tentar esconder seu desapontamento. Meu filho foi liberado rapidamente, tem 32 anos, e acabamos pegando o elevador juntos.
Muito educado, fez questão que eu entrasse primeiro, um cavalheiro à moda antiga…descendo os 22 andares, deu tempo de falar pra ele ” pensando bem, um ano pode ser uma eternidade, compre aquele carrão dos seus sonhos e saia por aí espalhando essa simpatia e alegria de viver”…ele me sorriu tristemente.
A porta se abriu, cada um foi para seu lado, tenho certeza que nunca mais nos encontraremos ou quem sabe algum dia numa dessas milhares de esquinas e ruas?
Foi um prazer lhe conhecer!
ACELERA JOSÉ!
O mundo é seu!
Acelera, José! Por Valéria do Amaral
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