Essa prisão de três equatorianos que “espionavam” com drones os treinos da seleção, que se prepara para dois jogos pelas eliminatórias para a Copa de 2026, levou-me de volta ao México-70
Nossa seleção já vivia a parte final da preparação, em Guadalajara, quando fomos procurados por um jornalista inglês, no velho e tradicional Hotel Morales, no centro histórico, onde estávamos.
Ele chegou cedinho, quando tomávamos o café da manhã, indagou se éramos quem procurava e se apresentou. Mike Langley, do jornal The People. Zagalo, técnico da nossa seleção, negava a ele uma entrevista e queria nossa ajuda.
Por que não? Marcamos encontro às 14 horas na concentração das Suites Caribe, no centro novo, onde a seleção se concentrava. Zagalo relutou atender nossos pedidos e acabou cedendo com uma observação, que cumpriu à risca:’vou enrolar gringo”.
Só faltou dizer que Pelé seria o lateral esquerdo, barrando Marco Antonio e Everaldo. Ouvimos tudo e Hedyl Vale Jr, grande parceiro na Placar, craque no inglês, fez a tradução.
Fim de papo. Eu e Hedyl trocamos olhares e decidimos contar ao companheiro de lutas que Zagalo o havia “toreado”. Mike sorriu e disse que já sabia. Era especialista em futebol brasileiro…
Rimos juntos e nos tornamos amigos. Fui encontra-lo em Tunis, na excursão de 1973, nas Olimpíadas de Montreal-76, na Copa da Argentina-78, nos Jogos de Moscou-80 e nos de Los Angeles-84.
Mike, sempre simpático e sempre disposto a um puro malte ou boas e geladas cervas, não era espião da seleção inglesa – que vencemos em jogo duro por 1 a 0, no saudoso estádio de Jalisco. Não usava drones. Só sua competente caneta.
Agora, prendendo os “espiões”, acabaram com uma boa desculpa, em caso de uma derrota para o Equador. Esses tempos modernos de chuteras coloridas e futebol gris…rrrsss
(((A historia com Zagalo e mais perto de 200 momentos que vivi como repórter está no meu livro MINHA VIDA DE REPÓRTER. leia, vai gostar…