Amigo Plínio, muito te admiro, me perdoe por usar e abusar ao tomar emprestada a cantoria do poeta maior dos tempos da brutalidade e da delicadeza, Chico Buarque, pra te dizer que aqui não estão para futebol e muito menos rock’n’roll… Com muito custo estão fazendo, às escondidas, algum Samba e Choro. Às vezes chove; noutras vezes bate Sol, porém, o que eu queria te dizer mesmo é que a nossa cidade — lembra da cidade vermelha, da pequena Moscou — não existe mais. No lugar dela, surgiu algo triste, um deserto de ideias que, não por acaso, vestiu o apelido de Dubai do Brejo.
Caro amigo Plínio, como você mesmo se diz repórter de um tempo mau e fez a terra tremer várias vezes, confesso que, infelizmente, não temos mais quem faça isso aqui vibrar..
É muita mutreta pra levar a vida… na teimosia, na pirraça, pois pra poder segurar esse rojão, só mesmo cachaça com sardinha.
Plínio, amigo, vamos atiçando por aqui e acolá nossa saudade daquela cidade que brigou, lutou, levou porradas dentro de um abjeto navio-prisão e, quando o povo que ainda guardava uma certa altivez e rebeldia, contra todas as forças reacionárias e possibilidades, derrotou o candidato da ditadura e elegeu o nosso eterno prefeito Esmeraldo Tarquinio. Sabemos, sim, muito bem o que aconteceu. Lembra, Plínio?
A cidade se rebelou e a ditadura, em mais um ato de violência, decretou intervenção federal, proibindo-nos de eleger nossos prefeitos.
Plínio, camarada, como te contar as novidades? Triste, conto sem aumentar um ponto que a cidade, numa letargia quase morta, viu, sem berrar na geral, surgir ovos de serpente que eclodiram nascendo daí uma gente estúpida, fascista, reacionária que se diz “conservadora”; que se apoderou da cidade. Os outroras revolucionários que tornaram a cidade na pequena Barcelona já não existem mais. Muitos se perderam (ou transmutaram-se) no discurso bem distante do povo ou, como dizia velho amigo jornalista: “Camaradas vai ser impossível fazer a revolução a partir do Gonzaga”.
Plínio, finalizando essa magoada história, lembrando de você certa vez:
“Não faço teatro para o povo, mas o faço em favor do povo. Faço teatro para incomodar os que estão sossegados. Só para isso faço teatro”
Velho amigo Plínio Marcos, infelizmente, como já te disse, dos ovos de serpente surgiu uma burguesia xumbrega reacionária retrógrada produzindo uma “classe política” analfabeta — da pior espécie e que se aliou ao que de pior surgiu nesse pobre estado e pobre país.
Otimista, com certa dose de pessimismo, acredito ainda numa possível juventude ansiosa de um novo tempo.
Plínio fica aqui minha admiração e te mando um abraço forte. Pena que você, como um deus ex machina, não possa descer daí e gritar contra a canalha. Infelizmente, nesses tempos burros, a patuleia sequer imagina o que seja um deus ex machina.
(Renê Rivaldo Ruas, nascido em Santos , poeta, escritor e músico nas horas vagas)