Em 1975, fui escalado pelo Jornal da Tarde para a cobertura dos Jogos Pan-Americanos do México.
Passei um mês trabalhando bastante na enorme e sempre congestionada capital mexicana. Como eu não podia ir a todas as competições, por serem bem distantes, uma noite descobri que o João Carlos de Oliveira tinha conquistado ouro no salto em distância. Chamei um táxi e fui para a entrevista na Vila Pan-Americana.
No prédio onde a delegação brasileira estava hospedada, encontrei o João dormindo numa cama menor do que ele. Ao acordá-lo, percebi que ele cheirava à bebida e enrolava a língua quando falava. Pensei em ele ter tomado umas cervejinhas pra comemorar o ouro no salto em distância, o que eu considerei justo.
Por outro lado, fiquei preocupado com o major Sylvio de Magalhães Padilha, chefe da delegação brasileira, que podia pegar pesado com o cabo João se soubesse dessa embriaguez. Na hora, pensei também que uma punição poderia afastá-lo da disputa do salto triplo, prova que consagrou o João do Pulo dois dias depois com os 17,89 metros e o recorde mundial.
Voltando para o Centro de Imprensa, fui no táxi pensando se contava ou não que ele estava bêbado. Optei por não escrever nada nas 30 linhas que mandei para o jornal.
Hoje, conhecendo melhor a vida do nosso grande atleta (e que atleta), eu me arrependo de ter escondido a verdade naquele dia. Que se danem vitórias, recordes, medalhas e carreira política.
O importante seria o João estar aqui com a gente, sem tanta fama, vivo e com as duas pernas. Quem sabe?