A democracia nasceu entre os gregos há mais de dois mil anos e até hoje, vive em crise porque esse regime tem inimigos internos.
Desde a Grécia Antiga, a democracia apresentou suas fragilidades internas.
O caso mais emblemático foi a morte do filósofo grego Sócrates (470-399a.C.) pelo tribunal popular.
Uma cidade que é incapaz de fundamentar o poder na justiça e que opta por fundamentar a justiça no poder está destinada a matar o melhor dos seus homens.
A democracia é a maior expressão da condição humana, ou seja, da fragilidade da natureza humana.
Nós mesmos podemos colocar a democracia em risco, pois no próprio interior desse regime de governo está a vulnerabilidade do ser humano.
Por isso, o conceito de democracia como “o poder do povo” é uma definição vazia, inútil e que não determina o que é realmente democracia.
O regime democrático por trazer no seu âmago a fragilidade da natureza humana, necessita de constante atualização e vigilância.
E, ao mesmo tempo, no interior da democracia há complexidade.
Portanto, as piores ameaças da forma democrática de governo são internas e não externas como as facções.
Na modernidade, há a tensão pendular entre indivíduo e coletivo que é uma ambiguidade típica na humanidade.
Então, surge a apatia, ou melhor, uma pessoa não se preocupa com a outra, portanto, não se importa com a política.
De um lado, há aqueles que priorizam o indivíduo em detrimento do coletivo e, por outro lado, há aqueles que priorizam a coletividade em prejuízo do indivíduo.
No individualismo exacerbado, o cidadão se aliena da vida de sua comunidade.
Estando no polo coletivo, corre-se o risco de a pessoa ser diluída no coletivo.
Os regimes totalitários impõem suas crenças particulares como critério universal de um possível mundo justo e perfeito.
Os inimigos da democracia estão intrinsecamente na própria condição democrática.
Enfim, não devemos ser submissos ao domínio do governante, pois nossa condição autodeterminante por essência é ser livre!
“A democratização das nossas sociedades se constrói a partir da democratização das informações, do conhecimento, das mídias, da formulação e debate dos caminhos e dos processos de mudança”.
Betinho (Herbert José de Souza) (1935-1997), sociólogo brasileiro e ativista dos direitos humanos.
Sorayah Câmara – Escritora