Mais de um mês já se passou e o impacto da terrível tragédia climática que tomou conta do sul do País ainda não foi assimilada pela maior parte da população brasileira. Tudo começou com uma onda de chuvas fortes que começaram a cair no dia 27 de abril. A expectativa inicial, era a de que, dias depois, como sempre acontecia, as nuvens carregadas desaparecessem e o sol voltasse a brilhar forte no céu azul de Porto Alegre, e secasse rapidamente o terreno encharcado. Ledo engano. Ao contrário. As chuvas aumentaram muito na sua intensidade, viraram tormenta, os ventos começaram a derrubar árvores, postes de iluminação e até telhados, e a vida dos gaúchos virou de pernas para o ar. Logo, muitos deles foram obrigados a deixar suas casas e pedir asilo a um parente próximo ou até a um vizinho (conhecido ou não). Outros preferiram pegar seus carros e deixar a região o mais rápido possível.
Mas os que ficaram, precisaram ter muito controle emocional para suportar a pressão psicológica pela qual foram obrigados a passar. Corpos boiando na água, dezenas de idosos e crianças mortas, a enchente invadindo terrenos, casas e até alguns andares mais baixos de prédios de apartamentos, centenas de automóveis submersos (mais de 200 mil) nas garagens ou estacionados à beira das calçadas. O “velho” e conhecido rio Guaíba, que parecia tão inofensivo até algum tempo atrás, atacou com vigor os habitantes de Porto Alegre e região, e fez profundos estragos no ambiente. A comida desapareceu da mesa e das prateleiras dos supermercados, e a ameaça da falta dela começou aos poucos a se transformar numa triste e preocupante realidade.
De início, os Governos (municipal, estadual e federal) ficaram paralisados e sem saber o que fazer para resolver os inúmeros problemas que se avolumavam. Diante deste quadro, a própria população resolveu então sair de casa para ajudar em tudo o que fosse preciso. Tanto aqueles que não tinham onde ficar ou morar, até na utilização dos barcos disponíveis para salvar a vida daqueles que, sem saber nadar, estavam prestes a morrerem afogados. A tragédia tomou tal proporção, que virou manchete em todos os órgãos de imprensa do Brasil. Com a divulgação, uma onda de voluntários começou a aparecer em Porto Alegre e adjacências, para também auxiliar na recuperação dos mais necessitados.
O Exército Brasileiro, que já tinha um posto na capital gaúcha, foi reforçado por unidades vindas de outras regiões do País. Em primeiro de maio foi decretado estado de “calamidade pública” em 114 municípios gaúchos. No primeiro levantamento feito, foi constatado que a metade dos mortos eram idosos e que os principais motivos de suas mortes foram descargas elétricas, afogamentos ou deslizamentos de terras. O Instituto de Meteorologia local anunciou que em sete cidades do sul, aconteceu o “maior índice pluviométrico do mundo”. O Lago Guaíba ultrapassou seu maior nível de enchente desde 1941 (chegou a 5,77 metros acima do normal). Como consequência, o principal Aeroporto de Porto Alegre e os estádios e centro de Treinamentos de Grêmio e Internacional, maiores clubes de futebol do Estado, foam tomados pela água.
Com tanta desgraça, as informações sobre as tormentas no sul brasieiro tomaram conta também do noticiário internacional. Jornais, rádios e televisões de todo o mundo passaram a dar detalhes sobre a tragédia e, em alguns casos, até mandaram repórteres para cobrir ao vivo esse difícil momento que a população gaúcha atravessa. Além da falta de comida, também começou a faltar água potável, apesar da enorme quantidade deste líquido que tomava conta da região. No último levantamento, 463 dos 497 municípios gaúchos já estão afetados. Uma empresa internacional, que costuma medir a intensidade destes eventos, classificou o que está ocorrendo no sul do País como de Nível 3, devido aos danos e prejuízos incalculáveis que causou. Mas se vários índices altamente negativos devem ser citados, um deles deve ser ressaltado e aplaudido. Um jornal local chegou a usar a frase “nunca houve tamanha corrente de solidariedade no Brasil”. De fato. Nunca tanta gente se uniu para ajudar seus semelhantes, como ocorre no sul do País. Neymar mandou um avião lotado para ajudar as vítimas.
São Paulo, Palmeiras e Flamengo fizeram o mesmo (além de outros!). Mas gostaria de citar um exemplo que, ultimamente, passou a ocorrer em Porto Alegre. Todos sabem que lá, gremistas e colorados (torcedores de Grêmio e Internacional) se xingam, se agridem, se odeiam e até se matam Mas, durante o momento que Porto Alegre vivencia, até isso mudou. Em alguns momentos,é fácil encontrar lado a lado, quase de mãos dadas, torcedores dos dois clubes, vestindo as camisetas oficiais de seus clubes, ajudando a salvar pessoas, a levar comida para quem precisa ou a levar doentes para hospitais. São pessoas do esporte, unidos e solidários em torno de uma causa comum. Uma lição de vida. Uma prova de que o respeito humano e amor ao próximo ainda existe. Um exemplo que merece ser seguido!