Após cerca de 40 anos como repórter esportivo, dei uma pausa neste cenário explosivo para me posicionar, mesmo que casualmente, como observador – cético, digamos assim – das imagens do circo. Agora, gostaria de mostrar a vocês a ótica mais exata do que vejo na mídia considerada xiita, a qual, creio eu, vê a bola quadrada. Sinto muito.
Acima de tudo, pude constatar que a maioria é composta por cronistas de resultados, seja para o bem ou para o mal. Jamais – em tempo algum – dirão que os perdedores mereciam ganhar, mesmo que o último chute batesse na trave ou decretasse o imprevisível tropeço.
Reparem se minto ou digo a verdade. Nas cobranças de pênaltis, basta um golzinho a mais para que destruam um ou exaltem outro. Só valem os desfechos favoráveis. Caso contrário, os atores do triste ou do alegre show nada prestam no contexto de uma cultura extremista. É na base do radicalismo. A retórica é manjada e repetitiva.
Ao assistir alguns programas ou visualizar colunas e artigos do gênero, os torcedores imaginariam que os entendidos – entre aspas, é claro – abordam temas de guerra. Os protagonistas – vejam – são esculhambados como se fossem mercenários desqualificados.
O comentarista Caio Ribeiro, um dos mais equilibrados neste meio contraditório, comprova que a sensatez importa na hora das avaliações. Idem Leo Junior, Fabio Luciano, Djalminha e… Síntese: é desnecessário agredir. Não é legal humilhar. Ex-atletas – e são muitos nos microfones ou no texto – focalizam o que mais interessa.
Um dia, ao se defender das exageradas críticas à Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira comparou a gritaria da torcida – nas ruas, no sofá ou nas arquibancadas – como se fosse uma caixa de ressonância do que a imprensa observa e comenta. Traduzo: é um fenômeno semelhante às lavagens cerebrais. As abordagens odiosas – propositais ou inconscientes – contribuem para incendiar ainda mais o circo da violência nos estádios ou fora deles. Não queiram duvidar do sábio Parreira. Quem não acredita que me atire a primeira pedra.