Mais de 80 mil pessoas de todo o mundo estiveram em Dubai para a cúpula do clima da ONU.
Delegações nacionais e subnacionais de cerca de 200 países e mais comitivas da sociedade civil participaram deste importante evento, que aconteceu entre os dias 30/11 e 12/12, debatendo o aquecimento global e as mudanças climáticas, suas causas e consequências para a humanidade e o planeta.
O local parecia uma torre de Babel, de línguas, de etnias, de culturas, de saberes, de dúvidas, certezas e incertezas. Embora fosse organizada em um país e uma cidade rica, a organização deixou muito a desejar. Muitas filas para entrar e sair do local, dificuldades para alimentação na área do evento. Distâncias enormes de um local ao outro, a serem cobertas a pé, em um sol escaldante. Espaços pequenos para reuniões bilaterais.
Enfim, para mim que já participei de outras COPs, essa foi a mais dificultosa.
A cidade de São Paulo, poder subnacional, se fez presente com uma delegação pequena, mas altamente representativa. Estávamos em cinco Secretários e alguns assessores, e participamos ativamente das agendas previstas para as Prefeituras, encontros bilaterais, reuniões temáticas e participações em plenárias ministeriais.
Estreitamos os laços com instituições internacionais importantes, como o ICLEI, a C40, a Fundação Bloomberg, a ONU Habitat, além de instituições privadas de financiamento climático. Porém, do ponto de vista da política global, dos resultados finais do acordo climático, essa COP 28 pode ter tido resultados pouco expressivos.
Cumprimos de forma intensa tudo o que foi possível dentro do que estava previsto. E muito mais.
Posso afirmar que São Paulo mostrou sua cara na COP 28, com ações e propostas concretas e foi correspondida pelos parceiros de outras partes do mundo. E posso garantir que compomos a vanguarda das cidades que estão praticando políticas públicas de ações climáticas.
O presidente da COP28, Sultan Al Jaber, deu duas declarações de caráter negacionista que marcaram o evento. Disse que a ciência não conseguiu mostrar que a queima do combustível fóssil é responsável pelo aquecimento do Planeta. Seria como se o celebrante de um ato religioso dissesse que duvidava da existência de Deus.
Sua declaração foi catastrófica, mesmo por que ele é diretor de uma grande petrolífera, e esse fato jogou dúvida no evento o tempo todo.
O mundo tem que caminhar para um lado, e a indústria do petróleo teima em caminhar para o outro.
Enquanto isso os fenômenos climáticos extremos castigaram todos os dias os mais diversos cantos do Planeta, de forma cada vez mais cruel.
A COP 28 acaba com resultados muito aquém dos necessários.
Os países ligados à produção de Petróleo fizeram de tudo para impedir metas prementes e indispensáveis para combater o aquecimento do Planeta. Obstruíram como puderam e conseguiram impedir as conclusões mais avançadas.
Perde o Planeta, perde a humanidade, perde a ciência, perde o futuro. Mas, apesar de tudo isso, da vitória do dinheiro sobre a razão, vamos continuar lutando para que o avanço da transição energética, da mitigação e da adaptação continue.
Por uma simples razão: a preservação da vida, da biodiversidade e dos recursos naturais, deve estar acima de tudo, nesse planetinha azul chamado Terra.
Gilberto Natalini
Médico e Ambientalista
Secretário Executivo de Mudanças Climáticas/ SP