Aqui vai um episódio jornalístico e de vida. Pode-se chamar de “Lugares Sagrados”. Quer ler?
A cobertura mais variada, bonita e cheia de emoções que fiz foi o giro da seleção brasileira por Europa e Israel em 1987. Aprendi demais com as vicissitudes enfrentadas. Foi meu amadurecimento integral no Jornalismo. Contei episódios aqui. Cabe um especial.
Foi em 31 de maio, pois no dia seguinte a seleção enfrentou Israel, ganhou por 4 a 0 e, e, em 2 de junho, meu aniversário, peguei a rota de retorno.
Como havia brecha na agenda, na véspera do amistoso Fiori Gigliotti e outros colegas veteranos propuseram um passeio por lugares históricos até Jerusalém. Topamos. Contratamos uma van e nos mandamos.
Primeiro, uma pausa para turistar. E, claro, tentativa de montar num camelo. Provei a emoção, não aguentei dois minutos de chacoalhadas. Paguei, com cara de logrado, e com a leve desconfiança de que o beduíno de araque me achou otário.
Em seguida, parada no Túmulo de Raquel, lugar sagrado para o Judaísmo. Na entrada, todos são obrigados a usar quipá, como respeito. Há os quipás verdadeiros, bonitos, delicados, e os de papel, para uso descartável, sobretudo para seguidores de outras religiões, como era o nosso caso.
Segui o roteiro do local. Ao chegar ao centro da capela, digamos assim, fiz uma reverência, seguida do Sinal da Cruz. Na hora, percebi a gafe, recolhi a mão direita e apelei para um aceno genérico. Que mancada!
Na saída, em contrapartida, não entreguei o quipá, para mostrar que eu era da casa. Mais novo, clarinho, óculos redondos, nariz da “terra”, cabelos encaracolados, o moço que recolhia o material nem olhou pra mim. Passeei muito com o troféu, que tenho guardado até hoje. Afinal, eu sou do Bom Retiro…
NATIVIDADE
A emoção extravasou quando fomos à Igreja da Natividade, no local onde Jesus nasceu. O clima da catedral mexeu comigo. Uma aura diferente, forte, me envolveu. O coração disparou. No centro, há o local da suposta manjedoura. Desci os degrauzinhos, olhei em volta, e saí de lá rapidamente.
A respiração presa, o coração mais acelerado, busquei uma das laterais da nave, para ver o céu. Naquela hora, ouvi um caça supersônico, que cobria o espaço aéreo. Não teve jeito: rompi num choro convulsivo, muito maior do que ao ver a Basílica de São Pedro pela primeira vez, em 1982. Fora o nascimento de meu primeiro filho, jamais havia sentido algo semelhante. Indescritível! Eu estava no local onde Jesus nascera.
Ao escrever isso, 36 anos mais tarde, a emoção se repete, estou arrepiado, com lágrimas. Pena que, em seguida, fomos embora. Estávamos a poucos passos do Muro das Lamentações. Outro monumento imperdível e sagrado.
Quero voltar para Israel. Com paz na região.
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(A riqueza de uma cobertura internacional não está no “campo e bola”, apenas. É a chance de conhecer locais históricos e sagrados, de respeitar as tradições, de voltar mais sábio, experiente e melhor. O Esporte proporciona estas oportunidades.)