As eleições de 2026 batem à porta.
Da cozinha.
Basta observar o fogo do debate político para perceber que a disputa já está quase no ponto.
O presidente conseguiu, com o episódio do Tarifaço, fotos com líderes mundiais e discursos em cúpulas elegantes, temperar o noticiário e melhorar sua avaliação, que andava meio azeda.
Mas a verdade é que o brasileiro só acredita em governo quando a panela, o prato e a despensa estão cheios.
E, nos últimos dias, uma notícia quase passou despercebida: a cesta básica ficou mais barata em várias capitais do país.
Por aqui, a economia real não se mede apenas pelo PIB. Ela se mede pela quantidade de arroz, feijão e mistura na mesa da população mais carente.
E eu, que já rodei as cinco regiões deste país fazendo campanha e treinando candidatos, pude provar as delícias das cozinhas regionais — e ver como cada prato revela uma forma diferente de pensar o Brasil.
No Sul, churrasco é religião.
No Nordeste, carne de sol é resistência e identidade.
No Centro-Oeste, a carne é orgulho do que se produz.
No Sudeste, o cardápio vai do dry-aged dos restaurantes finos de São Paulo ao churrasquinho de laje das periferias – lazer democrático de quem merece um fim de semana com gosto de recompensa.
E no Norte… bom, por lá, o peixe é rei, é alimento que resume geografia, cultura e ancestralidade.
Mas existe um corte que atravessa tudo isso: a picanha.
A picanha não é apenas carne.
É símbolo. É senha.
É o instante em que o brasileiro abandona a sobrevivência e celebra a própria existência.
E vale lembrar: o Brasil já foi conhecido como República do Café com Leite, quando São Paulo e Minas decidiam os rumos do país entre xícaras e fazendas.
Mas, hoje, é a picanha que move o poder.
Foi com essa imagem no paladar coletivo que Lula venceu em 2022: prometendo devolver ao povo o direito ao churrasco completo.
E a história recente mostra que, no Brasil, a política tem tempero doméstico:
• FHC consolidou poder quando estabilizou as compras do mês.
• Lula cresceu quando o pobre voltou ao supermercado.
• Dilma enfrentou desgaste quando a conta da cozinha deixou de fechar.
• Bolsonaro sangrou quando a feira virou vilã.
Não é que a política brasileira seja simples.
É que, na ponta, ela é muito mais de sobrevivência do que de ideologia.
E aqui está a parte mais suculenta da campanha que ainda nem começou:
Se arroz e feijão continuarem cabendo no carrinho e, principalmente, se a picanha aparecer na mesa, a oposição terá de buscar outro cardápio para alimentar sua legítima expectativa de sentar à mesa dos vitoriosos.
Vai precisar jogar pimenta nesse churrasco, propor outro tempero e tentar servir ao eleitor um prato diferente.
Porque, no Brasil, eleição não se decide em plenário, nem em protocolo diplomático.
Ela se decide na mesa, com comida quente, geladeira cheia e domingo com gosto de país possível.
No fim das contas, quem controla o fogo, controla o país.










