A filosofia mobilista apresenta um entendimento sobre o ser e o mundo caracterizado pelo movimento e transformação constante, de modo que as coisas estão sempre em fluxo. Um dos principais representantes desta filosofia é Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.).
Os Mobilistas se baseiam na visão de que as coisas se movem, portanto, elas não são imóveis.
Por outro lado, os Eleatas afirmam que essa mutabilidade é apenas momentânea ou ficta e que os nossos sentidos percebem tal mutabilidade porque, na verdade, o ser é imutável.
Portanto, para a Escola dos Eleatas o ser é imutável.
A Escola Eleática tem o seu nome derivado da cidade de Eleia, ao sul da Itália, lugar de origem de seus principais pensadores: Parmênides, Zenão e Melisso.
Os dois grandes pensadores das duas Escolas, Mobilista e Eleática, são, respectivamente, Heráclito e Parmênides (510 – 445 a.C.).
Segundo Friedrich Nietzsche (1844-1900), a História da Filosofia foi traçada, neste momento, na discussão entre Heráclito e Parmênides.
Mas, também, na tomada de decisão de Sócrates e Platão que concordaram com a ideia de Parmênides sobre a imutabilidade do ser e que existiriam ideias que seriam universais, imutáveis que habitariam um mundo supostamente metafísico.
O principal problema em estudar Heráclito é o mesmo quando se pesquisa sobre os pré-socráticos, ou seja, os pesquisadores tiveram muito pouco acesso ao pensamento dos pré-socráticos devido à falta de textos completos, ou melhor, para os estudiosos restaram fragmentos para serem analisados sobre tais filósofos e, também, o acesso às informações, ocorreram por intermédio de comentadores.
Hermeneuticamente, perde-se muito analisando somente fragmentos, porque, na verdade, por meio destes, se obtém somente uma impressão daquele pensador, no caso, sobre Heráclito.
Esse filósofo é conhecido na História da Filosofia como o “obscuro” porque o seu pensamento é considerado mais complexo, ou melhor, bastante complexo.
Sua filosofia é muito sofisticada se comparada com os outros pré-socráticos e em razão disso, existiria uma grande dificuldade em interpretar Heráclito.
Enfim, essa ideia da imutabilidade das coisas, e também, a questão da ética, em Heráclito, devem, principalmente, ser estudadas.
Nietzsche guarda profundo carinho por esse filósofo pré-socrático, Heráclito, e diz que ele estava certo na História da Filosofia em relação à impossibilidade de existirem conhecimentos universais e absolutos e o que há seria um grande relativismo.
Heráclito de Éfeso, embora um dos pré-socráticos de quem mais fragmentos existem, era difícil interpretar o seu pensamento.
Pode ser considerado, juntamente, com os atomistas, como o principal representante do Mobilismo, isto é, da concepção segundo a qual a realidade natural se caracteriza pelo movimento, todas as coisas estando em fluxo.
Este seria o sentido básico da famosa frase atribuída a Heráclito: “Panta rei” (Tudo passa).
Há uma questão muito interessante sobre o pensamento do filósofo pré-socrático, Heráclito, ou seja, “não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado”.
Enfim, tudo está em movimento!
Portanto, somos e não somos.
Essa é a ideia do filósofo pré-socrático, a ideia do movimento constante e perene mutação.
Ninguém é estático como uma pedra. Por isso, os relacionamentos entre as pessoas se modificam, ou seja, as pessoas podem mudar com o decorrer do tempo.
Martin Heidegger (1889-1976) disse que estamos inseridos no mundo, nós estamos afetando e sendo afetados o tempo todo e não há como fugir desse processo.
Portanto, Heráclito é o grande pai da ideia de mudança em relação à passagem, justamente, a passagem de tempo de que ninguém fica estático.
E mais, ele gosta muito de trabalhar com os opostos, ou seja, seria da união dos opostos que as coisas existiriam ou seriam possíveis de explicar.
Em relação a essa ideia da passagem do tempo e dos opostos, o devir se caracteriza por contínua passagem de um contrário ao outro, isto é, as coisas quentes se resfriam e o que está vivo, morre.
Há, portanto, guerra perpétua entre os contrários que se aproximam.
Aquilo que é oposto se concilia das coisas diferentes, nasce a mais bela harmonia e tudo se gera por meio de contrastes.
Ou seja, essa “harmonia” é “unidade de opostos”, e o “princípio” é, portanto, Deus ou o divino.
Enfim, de acordo com o pensamento de Heráclito, sempre existirá um eterno devir, um eterno movimento, um eterno vir a ser (processo pelo qual algo se transforma).
Nós somos condenados eternamente a mudar e sempre estamos mudando!
O ser humano tem muita dificuldade em trabalhar com uma ausência de um “porto seguro”. O problema é que a vida, normalmente, não nos dá um “local seguro” como pensava Heráclito e depois Nietzsche, Foucault e outros.
É mais fácil pensarmos que as coisas poderiam ser imutáveis, pois caso não encontrássemos algum “porto seguro”, não conseguiríamos dar conta da vida em si, isto é, do relativismo inerente à própria existência.
Uma das contribuições que o pensamento do Heráclito nos dá é que devemos nos adaptar a essas grandes modificações da vida.
Ou seja, se a existência o tempo todo está passando por mudanças, se nós encararmos não como algo bom, mas como algo inerente à própria existência a transformação, haverá mais facilidade para enfrentarmos tais modificações.
Enfim, teremos mais possibilidade de sairmos da nossa zona de conforto que nós criamos e que, na verdade, pode “cair” como um castelinho de areia.
Na realidade, não conseguimos pensar em todas as variáveis possíveis que podem prejudicar todo o nosso planejamento de vida.
Heráclito está inserido num pensamento pré-socrático na busca, também, do elemento primordial, do “arché” e que nada seria melhor identificado com o movimento, segundo ele, do que o “fogo”.
O arché é um termo fundamental na linguagem dos filósofos pré-socráticos, dado que é caracterizado pela procura da substância inicial da qual tudo deriva e é também a ideia mais antiga na filosofia, já que se tornou no ponto de passagem do pensamento mítico para o pensamento racional.
Então, para Heráclito o fogo seria o elemento primordial!
O mundo é um fogo sempre a arder; algumas das suas partes estão sempre extintas para formar as duas outras principais massas do mundo, o mar e a terra. As mudanças entre o fogo, o mar e a terra equilibram-se mutuamente; o fogo puro, ou etéreo, tem capacidade diretiva.
No pensamento de Heráclito, a ideia que enquanto o fogo está se apagando de um lado, o fogo está crescendo do outro, mas é claro, que a ideia do fogo como “arché” não seria aquela ideia de que o fogo está sendo gerador como a
ideia da água ou do ar, mas como a ideia de elemento transformador.
O fogo seria aquele elemento que permitiria que existissem os contrastes, a paz na guerra, o fogo na água, ou seja, aqueles contrastes do velho e do novo.
Heráclito acreditava na ideia de um fogo criador inicial, o fogo primordial.
Para ele, seria o fogo esse elemento que teria a importância em relação à possibilidade da existência das coisas, da modificação da eterna mutabilidade das coisas.
Outra questão muito importante para ele é que a sabedoria consiste em compreender o modo como o mundo funciona, isto é, seria a ideia da sabedoria.
A sabedoria consiste numa só coisa, em conhecer, com juízo verdadeiro, como todas as coisas são governadas por meio de tudo.
Heráclito não pensa o ser humano isolado de tudo, mas inserido na realidade que o rodeia.
Para ele, tudo funciona por meio do Logos.
O Logos é a explicação racional para os fenômenos.
A grande questão da sabedoria é ter a real e correta compreensão do Logos.
O Logos é o raciocínio correto, a razão correta. Ela existe dentro do jogo de opostos e por meio desse jogo é possível conseguir interpretar e buscar o sentido correto do Logos, do discurso correto e verdadeiro, não mais do discurso puramente mítico.
A noção do Logos tem importância central no pensamento de Heráclito, como princípio unificador do real e elemento básico da racionalidade do Cosmo.
Assim sendo, tudo é movimento, tudo está em fluxo, mas a realidade possui uma unidade básica, uma unidade na pluralidade.
O Logos está inserido, intrinsecamente, ligado a essa ideia de um movimento perene, de um movimento eterno, de um movimento que não se desfaz, de um movimento que nunca termina.
Heráclito pensa, também, sobre questões políticas e éticas, isto é, a relação direta entre a vida e a política.
O caráter é para o homem um “dáimon”, afirma Heráclito.
Ou seja, o caráter é aquele responsável pela minha tomada de decisão, de escolha, se eu tenho caráter. Obviamente, escolho um bom caminho e ele será o “dáimon”, isto é, aquele que me dá o conselho correto para eu seguir.
Portanto, para ter caráter é necessário ter o “dáimon” para poder aconselhar.
O “dáimon” somente dá bons conselhos e bons caminhos a seguir!
Heráclito dá muita importância à lei, isto é, o povo deve combater a lei se necessário como se das muralhas da sua cidade tratasse. Todas as leis humanas são alimentadas por uma só, isto é, a lei divina. A lei dos homens não pode violar uma lei divina. Isso seria um equívoco, sem sombra de dúvidas.
Sempre que a lei humana estiver de acordo com a lei divina, por óbvio, que essa lei humana será perfeita como a divina é.
Portanto, os que falam com juízo devem se apoiar na lei, e com muito mais confiança.
Não existe uma tradução que seja perfeita para o português para o termo “dáimon”, mas alguns trabalham com uma ideia de consciência.
Talvez, outros, platônicos e místicos trabalhem com a ideia de alguma entidade, algum ser ou ente para o significado de “dáimon”, que de alguma forma, auxiliava Sócrates em sua vida, isto é, ele dizia que sempre iria fazer algo errado.
Porém, o seu “dáimon” dizia para ele não fazê-lo.
O “dáimon” poderia ser um Anjo da Guarda ou uma entidade e assim por diante.
Enfim, Heráclito terá outro pensador que irá se contrapor a essa sua visão da Escola dos Mobilistas, esse filósofo é Parmênides e sua Escola chamada, os Eleatas, entendem que o movimento é, na verdade, só aparente.
Tudo está em fluxo, ou seja, “Panta rei”.
“Nada é permanente, exceto a mudança.”
Heráclito (540 – 470 a.C.), filósofo grego pré-socrático