Racismo ambiental e as férias do governador Cláudio Castro
Temas como meio ambiente, desmatamento e aquecimento global, infelizmente, não decidem uma eleição. Apesar do enredo bem diante dos nossos olhos e das evidências cada vez mais palpáveis ou robustas no nosso dia a dia, o brasileiro comum ainda não se deu conta do que está em jogo, se é que dará um dia…
Nas eleições municipais de outubro próximo, tudo indica, o assunto ficará no rol dos pontos menos debatidos. Talvez ele só ganhe expressividade, num futuro incerto, quando essa realidade bater à porta, deixar de ser produto da tragédia de poucos, de excluídos, de pobres, enfim, dos fadados a serem tratados como mera estatística.
Há, no entanto, algo sorrateiramente estranho no ar – algo de podre no Reino da Dinamarca. Pelo menos 12 pessoas já morreram em função das chuvas torrenciais no Estado do Rio de Janeiro, chuvas que castigaram a capital e regiões que clamam por maior atenção do Estado como instituição, como a Baixada Fluminense, região onde os moradores sabem bem as ameaças que vêm do céu nos meses de janeiro e fevereiro.
Enquanto isso, o governador Cláudio Castro curtia férias na Disney. Alertado pelos seus asseclas, ele, generosamente, antecipou o fim das férias. Que homem público notável; deixou o Mickey e a Minie na mão. O governador viaja para o Exterior, para descansar, enquanto a chuva mata as pessoas nas áreas menos favorecidas de seu Estado e fica por isso mesmo? Desnecessário lembrar que Cláudio Castro é do PL de Jair Bolsonaro, de quem herdou a absoluta falta de empatia com o ser humano… Será que também já deu Ivermectina para as emas?
As vítimas dos temporais têm um mesmo DNA – pessoas pobres, em áreas de risco, ou em cidades com infraestrutura precárias para enfrentar a força das águas em período de grande densidade pluviométrica. Aos pobres, mais uma vez, sobrou essa conta.
O termo “racismo ambiental” voltou ao noticiário com força nos primeiros dias de 2024. Ele não é novo; é de 1980, de um vencedor do Prêmio Nobel que alertava, mais de quatro décadas atrás, para os riscos que as mudanças climáticas provocassem efeitos mais acentuados (ou drásticos) sobre etnias menos favorecidas. Parece um tanto quanto óbvio, mas é algo que precisou ser dito, pensado e que, hoje, mais do que a dimensão de alerta, ganha um status sobre a fração de responsabilidade para ajudar a frear ou atenuar essas tragédias.
Muito se fala sobre aquecimento global. Do ponto de vista da educação pública, para além do conteúdo em sala de aula, o que as escolas, os professores, as diretrizes de educação em âmbito federal, estadual e municipal têm feito? Reciclar lixo? Plantio de mudas no Dia da Árvore? O que mais? Por que o governo Lula comemora de forma tão extasiante a redução em 50% do desmatamento na Amazônia? A meta não deveria ser eliminar, por mais utópica que fosse essa dimensão, o desmatamento? Lembrando que no Cerrado, a devastação cresceu 43%, ou seja, trocamos seis por meia dúzia.
O lobby do agronegócio no Brasil, financiado por boa parte dos empresários que ajudaram a financiar o 8 de janeiro, tem grande responsabilidade por tudo isso que temos vivido. Estamos num País cujo mote é “ampliar as áreas de produção agrícola”. Ampliar áreas implica desmatar. Criou-se uma ideia equivocada de que a bandeira da preservação ambiental e da sustentabilidade é uma causa “cult” da esquerda. Com infinitas mortes que tendem a se avolumar, enquanto a direita vai à Disney, o tempo trará as respostas. Ainda que em forma de tempestades cada vez mais letais e severas.